Nestes dias em que uma vaga de frio varre a Europa, deixando-nos a tiritar, só me apetece uns docinhos que me forneçam algumas calorias e uma bebida bem quentinha que me "aqueça" a alma.
Mas é preciso cuidar da silhueta, pois se abuso do açúcar ... ops! ... lá vêm mais alguns quilitos.
Descobri, no entanto, uma fórmula mágica para consumir açúcar sem engordar!
Não acreditam?
Ora vejam:
Georg Flegel
"Natureza-Morta com Pão, Doces, Copo e Borboleta"
c. 1637
Óleo sobre madeira - 21,9x17,1 cm
Frankfurt, am Main, Städel Museum
Nesta pequena obra recheada de doçarias, Georg Flegel (1563-1638) representou, como ninguém, a estrutura cristalina do açúcar cristalizado.
A introdução do açúcar na alimentação europeia provocou uma revolução radical do paladar.
Se antes era o mel que adoçava a vida das populações, a partir do séc. XVI, segundo Duarte Nunes Leão, com " ... a invenção das ilhas da Madeira, do Cabo Verde, de Sam Tomé e do Brasil, de que vem cada ano tanta carregação de açúcares, não curamos de gastar mel ...".
Mas, se na fase inicial da expansão portuguesa e da produção de açúcar, este apenas se consumia com fins medicinais, a partir do século XVI passa a ser usado na doçaria.
Os banquetes das classes abastadas encheram-se de numerosos pratos e terminavam sempre com sobremesas.
Nesta obra de Georg Flegel aparecem essencialmente doces, que são alimentos dispendiosos elaborados por mestres confeiteiros.
Nela podemos observar frutos secos (figos) e especiarias cobertos com açúcar, que segundo a tradição tinham propriedades medicinais e facilitavam a digestão.
Em cima de uma mesa estão representados: uma tigela chinesa, um copo veneziano, uma tarte, em forma de coração e um pão branco.
A disposição dos alimentos, neste quadro, parece aleatória, no entanto, contém algumas alusões religiosas. Encontramos frutos cristalizados em forma de letras: um "O" maiúsculo e um "A" meio desfeito, representando o Alfa e o Ómega ( a primeira e a última letra do alfabeto grego), como referência a Cristo - o princípio e o fim. Um torrão rectilíneo de açúcar está colocado sobre um pão branco, formando uma cruz, o que nos eleva a Deus. Aparecem ainda o pão e o vinho evocando a Eucaristia.
Flegel não se esqueceu de incluir neste quadro uma borboleta e outros insectos, advertindo-nos para a efemeridade da vida.
Após observar este quadro fiquei saciada, os doces confortaram-me, sem correr o risco de prejudicar a saúde!
Referências:
Bauer, Herman, Andreas Prater - Barroco, Taschen, 2007
Castro, Armando de - Desenvolvimento das actividades produtivas - in História de Portugal, Vol. II, direcção de José Hermano Saraiva, Pub. Alfa, 1983
Schneider, Norbert - Naturezas-Mortas, (A Pintura de Naturezas Mortas nos Primórdios da Idade Moderna), Taschen, 2009