Aurélia de Sousa (1866 - 1922)
Interesso-me há alguns anos pela obra de Aurélia de Sousa ( 1866-1922).
Aurélia de Sousa nasceu em Valparaíso, no Chile, em 1866. Filha de pai português e mãe de ascendência espanhola, veio com 3 anos para Portugal. A família radicou-se no Porto, onde adquiriu a Quinta da China, situada na margem norte do rio Douro. Foi nesta cidade que cresceu, iniciou a sua formação artística e desenvolveu a sua carreira de pintora.
Recebeu uma educação de acordo com os cânones da época: aprendeu línguas, piano, desenho e pintura, assim como as tradicionais actividades domésticas como a culinária e o bordado. Mas eram o desenho e a pintura que mais a cativavam.
Caetano Moreira da Costa Lima, seu professor particular de Desenho e Pintura, a certa altura afirmou: " Nada a ensinar-lhe! É melhor mandá-la para a Escola de Belas-Artes".
Em 1893, aos 27 anos, ingressou na Academia portuense de Belas Artes.
A sua formação artística decorreu entre a Academia portuense de Belas- Artes e a Académie Julian, de Paris, mas alargou-a com inúmeras viagens que realizou pela Europa.
Amante das viagens e do turismo cultural, visitou muitos museus e pinotecas, assim como muitos locais artísticos, mas foi a Itália, principalmente Veneza, que lhe provocou o "reboliço do seu cérebro" devido ao "pouco tempo para visitar tanta arte". (Oliveira, Maria João,
Aurélia de Sousa em contexto, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2006)
Em 1901 regressou a Portugal, montou um atelier na Quinta da China, onde exerceu a sua actividade artística.
A sua obra abrange vários temas:
- o retrato ( onde se destacam os auto-retratos, numa procura de si própria);
- as cenas do quotidiano e de interiores;
- a paisagem ( a partir da Quinta da China o seu olhar espraiava-se pelo rio Douro e pelo lugar do Areinho que pintou com frequência);
- a natureza-morta;
- e a pintura histórica ligada à religião e à mitologia.
Algumas obras de Aurélia de Sousa:
Retrato
Auto-retrato
c.1897
Óleo sobre tela - 67,5x47 cm
Colecção José Calado de Souza
Porto
Auto-retrato
c.1900
Óleo sobre tela - 45x 36 cm
Museu Nacional Soares dos Reis
Porto
Paisagem
Margens do Douro
1905
Óeo sobre tela - 66,5x80,5 cm
Fundação Casa de Bragança / Paço Ducal de Vila Viçosa
Balaustrada da Quinta da China
Óleo sobre cartão - 37,4x57,8 cm
Casa Museu Marta Ortigão Sampaio
Câmara Municipal do Porto
Natureza - Morta
Sem Título ( Serviço de Chá)
Óleo sobre tela
Colecção particular
Pintura histórica ligada à religião e à mitologia
Deste tema, admiro particularmente a obra "Jesabel devorada pelos cães por ordem de Jehu"
1911
Óleo sobre tela - 25,5x33,7 cm
Museu Soares dos Reis
Porto
Tenho pena de não poder mostrá-la neste post, mas não consegui nenhuma fotografia com qualidade para ser mostrada.
Neste quadro Aurélia de Sousa usa uma pincelada enérgica e uma mancha cromática que a faz ser uma artista de transição do século XIX para o XX.
Cenas do quotidiano e de interiores
Cena Familiar
Óleo sobre tela - 56x46 cm
Museu Nacional Soares dos Reis
Porto
A sopa dos pobres
Óleo sobre tela - 37,6x45 cm
Câmara Municipal de Matosinhos
Este último quadro revela uma grande modernidade no tratamento da cor e no volume das figuras sem rosto. É uma obra realizada à maneira de esboço, com uma pincelada solta e impressiva.
Este quadro, além da modernidade no tratamento pictórico, tem um tema muito actual, pois o aumento da pobreza, nos nossos dias, fez recrudescer o número de pessoas que utilizam "A Sopa dos Pobres".
Os tempos em que viveu Aurélia de Sousa não estão tão longe, como parece, dos nossos.
Em 1917 foi criada, em Lisboa, a "Sopa dos Pobres" por iniciativa do jornal " O Século" e de diversas Juntas da Paróquia de Lisboa; no ano de 2012, por iniciativa do Ministério da Solidariedade e da Segurança Social foram assinados centenas de contratos com várias instituições sociais para criarem as "Cantinas Sociais".
Ter locais onde os mais necessitados tenham acesso a refeições quentes é importante, mas melhor, muito melhor seria que não houvesse necessidade de os abrir.
Não me importava nada que os pintores não tivessem este tema para tratar, como o fez Aurélia de Sousa.