A escolha deste post recai sobre o quadro: "Quadrado Preto sobre Fundo Branco"
(1915) de Kazimir Malevitch.
Escolhi esta obra porque me parece ser um dos exemplos mais representativos da pintura de vanguarda do início do século XX, desprovida de relações com a realidade. Malevitch (1878-1935) com este quadro reduziu a pintura à pura abstracção geométrica.
Kazimir Malevitch
"Quadrângulo" (geralmente intitulado)
"Quadrado Negro sobre Fundo Branco"
Óleo sobre tela - 79x79cm
1915
Moscovo, Galeria Tretiakov
Em 1915, na "Última Exposição Futurista de Pinturas: 0-10" em Sampetersburgo, Malevitch apresentou este quadro proclamando: "Transformei-me no zero das formas e afastei-me das velharias da arte académica".
"Quadrado Negro sobre Fundo Branco" é a primeira manifestação do Suprematismo, movimento artístico criado por Malevitch. Este pintor desenvolveu este conceito a partir do "cubo-futurismo", negando toda a forma de representação imitativa. Para Malevitch um quadro pintado não tem que ter uma relação com o mundo real. O objecto-pintura não imita nada: existe.
Mas como " Malevitch acima de tudo é um pintor e elaborou este quadro com pequenas pinceladas impressionistas, e não com régua e esquadro e uma cor perfeitamente uniforme, querendo que se sinta a mão do homem nos tremidos e nas deformações das margens do quadrângulo" *, deixem-me devanear ...
Olhar... olhar... olhar... este quadro (sem preconceitos), obrigando-me a um esforço de imaginação e ver nele aquilo que o pintor lá não pôs.
Experimentem ...
* "Malevitch" , Gilles Néret - Taschen - 2004
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Quem " matou " o meu menino Jesus ?
Lembro-me bem da minha meninice quando, na época natalícia, eu e os meus primos, na casa dos meus avós maternos, nos afadigávamos, na noite da consoada, a limpar muito bem a grande chaminé e a lá pôr o sapatinho (bem engraxado) para que o Menino Jesus aí depusesse os brinquedos que pensávamos merecer por termos sido "bons meninos" e nos termos portado muito bem durante o ano.
Dias antes fazíamos um grande presépio, para isso íamos buscar musgo aos muros que bordejavam os riachos onde murmurava a água que escorregava de escarpa em escarpa.
Mas ... a pouco e pouco o sapatinho na chaminé foi sendo substituído por um pinheiro que íamos cortar nas encostas da minha aldeia natal.
Era extraordinário o cheiro das folhas ponteagudas do pinheiro, que não era muito grande, a avaliar pela força de crianças dos 6 aos 10 anos a quem davam a tarefa de o procurar e trazer para casa, sob a supervisão da Delfina ( a criada interna da minha avó - agora dir-se-ia empregada doméstica ).
Em casa começávamos a enfeitá-lo com estrelas, bolas, chocolates (adorava-os em forma de sombrinha), chupa-chupas, nada de luzes... ( naquela aldeia não havia electricidade).
Não sei bem como se deu, na casa dos meus avós, a passagem do sapatinho na chaminé para a árvore de Natal.
Soube mais tarde que a árvore da Natal é uma tradição importada dos países nórdicos e anglo-saxónicos.
Quantas vezes li aos meus alunos "O Cavaleiro da Dinamarca" de Sophia de Mello Breyner Andresen e vi o brilho resplandecente dos seus olhos quando a escritora descrevia a lenda da árvore da Natal. Sophia conta-nos que o Cavaleiro, perdido e cansado, quando chega perto da sua casa se depara com o maior pinheiro do seu jardim todo enfeitado com milhares de estrelas, colocadas pelos anjos para lhe mostrarem o caminho. E foi assim que nasceu, na Dinamarca, a tradição de enfeitar os
pinheiros na noite de Natal que depois se espalhou pelo Mundo.
A chegada do uso da árvore de Natal a Portugal deu-se muito antes de eu e os meus primos a termos usado por volta dos anos 60.
Mal sabíamos nós que foi D. Fernando de Saxe Coburgo e Gotha, marido de D. Maria II, quem trouxera para Portugal esta tradição das cortes austríaca e alemã.
D. Fernando II - o Rei-Artista
"A chegada do Pai Natal"
Desenho, em água forte
1848
Este desenho de D. Fernando mostra-nos o próprio, que segundo os registos da época se vestia, na noite de Natal, com um largo capote com capuz e grandes bolsos onde escondia brinquedos que depois distribuía pelos seus filhos, que o rodeavam entusiasmados.
Ao fundo, mas em posição central, podemos observar uma árvore de Natal enfeitada com candelabros e brinquedos.
Terá sido D. Fernando II o primeiro pai Natal português?
Não sei, mas o meu menino Jesus foi "morto" pelo pai Natal quando o pinheiro, em casa dos meus avós, se enchia de presentes e nós corríamos para ele em vez de nos dirigirmos para a chaminé nas manhãs de 25 de Dezembro.
FELIZ NATAL !!!
Dias antes fazíamos um grande presépio, para isso íamos buscar musgo aos muros que bordejavam os riachos onde murmurava a água que escorregava de escarpa em escarpa.
Mas ... a pouco e pouco o sapatinho na chaminé foi sendo substituído por um pinheiro que íamos cortar nas encostas da minha aldeia natal.
Era extraordinário o cheiro das folhas ponteagudas do pinheiro, que não era muito grande, a avaliar pela força de crianças dos 6 aos 10 anos a quem davam a tarefa de o procurar e trazer para casa, sob a supervisão da Delfina ( a criada interna da minha avó - agora dir-se-ia empregada doméstica ).
Em casa começávamos a enfeitá-lo com estrelas, bolas, chocolates (adorava-os em forma de sombrinha), chupa-chupas, nada de luzes... ( naquela aldeia não havia electricidade).
Não sei bem como se deu, na casa dos meus avós, a passagem do sapatinho na chaminé para a árvore de Natal.
Soube mais tarde que a árvore da Natal é uma tradição importada dos países nórdicos e anglo-saxónicos.
Quantas vezes li aos meus alunos "O Cavaleiro da Dinamarca" de Sophia de Mello Breyner Andresen e vi o brilho resplandecente dos seus olhos quando a escritora descrevia a lenda da árvore da Natal. Sophia conta-nos que o Cavaleiro, perdido e cansado, quando chega perto da sua casa se depara com o maior pinheiro do seu jardim todo enfeitado com milhares de estrelas, colocadas pelos anjos para lhe mostrarem o caminho. E foi assim que nasceu, na Dinamarca, a tradição de enfeitar os
pinheiros na noite de Natal que depois se espalhou pelo Mundo.
A chegada do uso da árvore de Natal a Portugal deu-se muito antes de eu e os meus primos a termos usado por volta dos anos 60.
Mal sabíamos nós que foi D. Fernando de Saxe Coburgo e Gotha, marido de D. Maria II, quem trouxera para Portugal esta tradição das cortes austríaca e alemã.
D. Fernando II - o Rei-Artista
"A chegada do Pai Natal"
Desenho, em água forte
1848
Este desenho de D. Fernando mostra-nos o próprio, que segundo os registos da época se vestia, na noite de Natal, com um largo capote com capuz e grandes bolsos onde escondia brinquedos que depois distribuía pelos seus filhos, que o rodeavam entusiasmados.
Ao fundo, mas em posição central, podemos observar uma árvore de Natal enfeitada com candelabros e brinquedos.
Terá sido D. Fernando II o primeiro pai Natal português?
Não sei, mas o meu menino Jesus foi "morto" pelo pai Natal quando o pinheiro, em casa dos meus avós, se enchia de presentes e nós corríamos para ele em vez de nos dirigirmos para a chaminé nas manhãs de 25 de Dezembro.
FELIZ NATAL !!!
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
Os trabalhos de Eva Afonso
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
Desafio ... Resposta
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
Desafio ...
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Observando um Quadro ... de Monet ... nº 12
Nestes dias frios em que a neve caiu com generosidade no interior norte e centro do nosso país, lembrei-me de um magnífico quadro de Claude Monet: "A Pega".
Claude Monet
"A Pega"
Óleo sobre tela - 89x130cm
Museu d'Orsay
Nesta época natalícia este é um belíssimo postal, e que postal ... lindíssimo este quadro, de uma grande singeleza, mas de uma mestria extrema para retratar a neve.
Renoir afirmou que: " Na natureza, o branco não existe, sobre a neve existe um céu. O céu é azul; sobre a neve, esse azul deve ver-se".
É isso que conseguimos ver nesta obra de Monet, uma multiplicidade de brancos manchados de violeta, azul e ocre, que nos dão as variações cromáticas e luminosas da neve.
Este trabalho de Monet foi recusado pelo júri do Salon em 1869 alegando que o quadro era demasiado grande para uma paisagem e que as pinceladas eram demasiado soltas, não atendendo ao pormenor.
Monet não se desencorajou com esta recusa. Ainda bem !!! Pois pode exprimir-se livremente, fora do meio fechado e decadente da arte consagrada pelos "Salons" públicos.
Monet iniciou o seu próprio caminho fundando mais tarde o movimento impressionista que alterou "... o modo de ver a natureza e, em geral, o mundo exterior, e de os reproduzir na tela com um imediatismo quer temporal quer sensível" , (Guia de História de Arte - Editorial Presença - pág. 126 - 2009).
Claude Monet
"A Pega"
Óleo sobre tela - 89x130cm
Museu d'Orsay
Nesta época natalícia este é um belíssimo postal, e que postal ... lindíssimo este quadro, de uma grande singeleza, mas de uma mestria extrema para retratar a neve.
Renoir afirmou que: " Na natureza, o branco não existe, sobre a neve existe um céu. O céu é azul; sobre a neve, esse azul deve ver-se".
É isso que conseguimos ver nesta obra de Monet, uma multiplicidade de brancos manchados de violeta, azul e ocre, que nos dão as variações cromáticas e luminosas da neve.
Este trabalho de Monet foi recusado pelo júri do Salon em 1869 alegando que o quadro era demasiado grande para uma paisagem e que as pinceladas eram demasiado soltas, não atendendo ao pormenor.
Monet não se desencorajou com esta recusa. Ainda bem !!! Pois pode exprimir-se livremente, fora do meio fechado e decadente da arte consagrada pelos "Salons" públicos.
Monet iniciou o seu próprio caminho fundando mais tarde o movimento impressionista que alterou "... o modo de ver a natureza e, em geral, o mundo exterior, e de os reproduzir na tela com um imediatismo quer temporal quer sensível" , (Guia de História de Arte - Editorial Presença - pág. 126 - 2009).
domingo, 28 de novembro de 2010
A não perder ... Exposição de Monet no Grand Palais
Quem necessitar ou tiver oportunidade de passar por Paris até 24 de Janeiro de 2011 aconselho uma visita ao Grand Palais, onde está patente uma Exposição do pintor francês Claude Monet (1840-1926).
"Mulheres no Jardim"
Óleo sobre tela - 256x208cm
1866
Musée d'Orsay, Paris
Esta mega exposição apresenta 170 quadros de Monet e já foi vista por mais de 400 mil pessoas, uma média de sete mil visitantes por dia, desde 22 de Setembro de 2010, dia em que abriu ao público.
Uma boa notícia anunciada pela Réunion des Musées Nationaux é que de 21 a 24 de Janeiro esta Exposição vai estar aberta 24 horas.
Esta é uma Exposição a não perder ... (apesar da crise)
"Mulheres no Jardim"
Óleo sobre tela - 256x208cm
1866
Musée d'Orsay, Paris
Esta mega exposição apresenta 170 quadros de Monet e já foi vista por mais de 400 mil pessoas, uma média de sete mil visitantes por dia, desde 22 de Setembro de 2010, dia em que abriu ao público.
Uma boa notícia anunciada pela Réunion des Musées Nationaux é que de 21 a 24 de Janeiro esta Exposição vai estar aberta 24 horas.
Esta é uma Exposição a não perder ... (apesar da crise)
domingo, 21 de novembro de 2010
A não perder ... a Exposição: "Primitivos Portugueses 1450-1550 O Século de Nuno Gonçalves"
Ontem, sábado, fui visitar uma das exposições patentes no Museu Nacional de Arte Antiga: " Primitivos Portugueses 1450-1550 - O Século de Nuno Gonçalves", que termina a 27 de Fevereiro de 2011.
Confesso que não apreciei o título desta Exposição, mas como explicou o seu Comissário, José Alberto Seabra Carvalho: "De facto, chamar "primitivos" a pintores como Jan van Eyck, Jean Fouquet ou Nuno Gonçalves (...) pode ser surpreendente e um pouco inadequado. Mas um nome como este tem a sua carga historiográfica e esta exposição, não sendo passadista, é memorativa e reivindica-se de um certo classicismo de ideias."
Esta Exposição está integrada nas Comemorações do Centenário da República e assinala o Centenário da primeira apresentação em público (1910) dos Painéis de S. Vicente do pintor régio Nuno Gonçalves, passando a ser apresentados como a obra "fundadora" e mais célebre da pintura portuguesa.
A visita a esta Exposição é uma "viagem" a cem anos de pintura retabular portuguesa,
entre "Anunciações", "Natividades", "Deposições no Túmulo", "Apresentações do Menino no Templo" ... e não poderia ser de outro modo, visto que o encomendador pretendia obras para igrejas, mosteiros, conventos, capelas ..., "explodem" os Painéis de S. Vicente, com temática ainda algo enigmática, em que as figuras dentro deles, podem ser retratos de portugueses que se sentam ao nosso lado no metro, no eléctrico ou nos cafés, salvaguardando as devidas diferenças da moda.
Obra-prima, sem dúvida, EXCEPCIONAL !!!
Nuno Gonçalves
Pormenor dos Painéis de S. Vicente
Óleo s/ madeira de carvalho
aprox. 207x504cm (total dos painéis)
c.1470
Museu Nacional de Arte Antiga
Mas voltando à minha visita aos "Primitivos Portugueses", percorri os seis núcleos que constituem esta Exposição. O primeiro dedicado ao Século XV está organizado em redor da obra de Nuno Gonçalves. Neste período a pintura portuguesa conseguiu autonomia relativamente à pintura peninsular, flamenga e italiana. Passei ao segundo núcleo, que abarca o reinado de D. Manuel I, onde se destacam pintores como Francisco Henriques, Frei Carlos ou Mestre da Lourinhã. Durante este reinado as fortes trocas comerciais com a Flandres trouxeram a Portugal muitos artistas flamengos influenciando os artistas portugueses.
No terceiro núcleo apreciei obras de "oficinas dispersas" - Viseu, Coimbra, Guimarães. Caminhei em direcção ao quarto núcleo, aí evoca-se a grande oficina existente em Lisboa ( entre 1510 e 1540, onde o artista mais famoso foi o pintor régio Jorge Afonso, que se relacionou com um grande número de artistas como Gregório Lopes, Garcia Fernandes e Cristovão Figueiredo.
Cristovão de Figueiredo
"Deposição no Túmulo"
Óleo s/ madeira de carvalho, 182x156cm
1521-1530
Museu Nacional de Arte Antiga
Passei ao quinto núcleo intitulado "Tempos de Mudança", em que a pintura portuguesa recupera o mundo clássico pintando "ao modo de Itália" integrando elementos da arquitectura clássica na decoração.
Entrando no último núcleo deparei-me com obras de Diogo Contreiras e dos Mestres de Abrantes e de Arruda cheias de expressividade dramática.
O aspecto mais original desta Exposição é o sector em que são apresentados materiais gráficos dedicados ao conhecimento, exposições e polémicas relacionados com os "Portugueses Primitivos" desde 1910.
Nesta zona há ainda uma vasta documentação laboratorial - a reflectografia de infravermelhos - que como afirmou o comissário é " ... um dos aspectos mais inovadores desta exposição."
Esta é uma Exposição a não perder ...
Confesso que não apreciei o título desta Exposição, mas como explicou o seu Comissário, José Alberto Seabra Carvalho: "De facto, chamar "primitivos" a pintores como Jan van Eyck, Jean Fouquet ou Nuno Gonçalves (...) pode ser surpreendente e um pouco inadequado. Mas um nome como este tem a sua carga historiográfica e esta exposição, não sendo passadista, é memorativa e reivindica-se de um certo classicismo de ideias."
Esta Exposição está integrada nas Comemorações do Centenário da República e assinala o Centenário da primeira apresentação em público (1910) dos Painéis de S. Vicente do pintor régio Nuno Gonçalves, passando a ser apresentados como a obra "fundadora" e mais célebre da pintura portuguesa.
A visita a esta Exposição é uma "viagem" a cem anos de pintura retabular portuguesa,
entre "Anunciações", "Natividades", "Deposições no Túmulo", "Apresentações do Menino no Templo" ... e não poderia ser de outro modo, visto que o encomendador pretendia obras para igrejas, mosteiros, conventos, capelas ..., "explodem" os Painéis de S. Vicente, com temática ainda algo enigmática, em que as figuras dentro deles, podem ser retratos de portugueses que se sentam ao nosso lado no metro, no eléctrico ou nos cafés, salvaguardando as devidas diferenças da moda.
Obra-prima, sem dúvida, EXCEPCIONAL !!!
Nuno Gonçalves
Pormenor dos Painéis de S. Vicente
Óleo s/ madeira de carvalho
aprox. 207x504cm (total dos painéis)
c.1470
Museu Nacional de Arte Antiga
Mas voltando à minha visita aos "Primitivos Portugueses", percorri os seis núcleos que constituem esta Exposição. O primeiro dedicado ao Século XV está organizado em redor da obra de Nuno Gonçalves. Neste período a pintura portuguesa conseguiu autonomia relativamente à pintura peninsular, flamenga e italiana. Passei ao segundo núcleo, que abarca o reinado de D. Manuel I, onde se destacam pintores como Francisco Henriques, Frei Carlos ou Mestre da Lourinhã. Durante este reinado as fortes trocas comerciais com a Flandres trouxeram a Portugal muitos artistas flamengos influenciando os artistas portugueses.
No terceiro núcleo apreciei obras de "oficinas dispersas" - Viseu, Coimbra, Guimarães. Caminhei em direcção ao quarto núcleo, aí evoca-se a grande oficina existente em Lisboa ( entre 1510 e 1540, onde o artista mais famoso foi o pintor régio Jorge Afonso, que se relacionou com um grande número de artistas como Gregório Lopes, Garcia Fernandes e Cristovão Figueiredo.
Cristovão de Figueiredo
"Deposição no Túmulo"
Óleo s/ madeira de carvalho, 182x156cm
1521-1530
Museu Nacional de Arte Antiga
Passei ao quinto núcleo intitulado "Tempos de Mudança", em que a pintura portuguesa recupera o mundo clássico pintando "ao modo de Itália" integrando elementos da arquitectura clássica na decoração.
Entrando no último núcleo deparei-me com obras de Diogo Contreiras e dos Mestres de Abrantes e de Arruda cheias de expressividade dramática.
O aspecto mais original desta Exposição é o sector em que são apresentados materiais gráficos dedicados ao conhecimento, exposições e polémicas relacionados com os "Portugueses Primitivos" desde 1910.
Nesta zona há ainda uma vasta documentação laboratorial - a reflectografia de infravermelhos - que como afirmou o comissário é " ... um dos aspectos mais inovadores desta exposição."
Esta é uma Exposição a não perder ...
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
Exposição de Pintura de Eva Afonso
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Exposição de Pintura de Eva Afonso
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Retrato (s) ... Auto-Retratos de Van Gogh - IV
Voltar aos auto-retratos de Van Gogh é um privilégio para mim ... escrever sobre este pintor genial, que assinava os seus quadros com um simples nome próprio: Vincent, emociona-me...
Da pesquisa que fui fazendo apercebi-me que por detrás de uma obra excepcional está um homem íntegro, cheio de "bondade e compaixão" como escreveu o pintor Bernard, "um homem honesto ..." como recordou, no seu funeral, o médico que o acompanhava, o Dr. Gachet. Mas Van Gogh foi também um homem sofredor, acometido de terríveis medos e ansiedades.
Numa, das muitas cartas, que dirigiu ao seu irmão Theo afirmou: "Estou, uma vez mais, próximo da (...) loucura (...). Se não tivesse uma espécie de dupla personalidade, uma de monge e outra de pintor, já me encontrava há muito no estado que referi".
Seis meses após escrever esta carta aceitou esse estado de loucura entrando para um mosteiro: o de Saint-Paul-de-Mausole, um hospício em Saint-Rémy, mantendo, no entanto, a sua vida artística intacta.
Em Saint-Rémy ,Van Gogh continuou a pintar, são deste período os auto-retratos que coloco neste post.
Van Gogh
"Auto-Retrato"
Óleo sobre tela - 57x43,5cm
Saint-Rémy, fins de Agosto de 1889
Nova Iorque
Colecção Mrs. Jonh Hay Whitney
Mais uma vez se representa com a cabeça muito magra.
Neste auto-retrato estão evidentes sinais dos conflitos interiores. Agora o seu rosto aparece mais pálido do que o habitual, de um verde amarelado, descorado, mostrando com fidelidade o seu aspecto.
É de realçar que Van Gogh se faz acompanhar neste quadro, dos seus atributos de artista (pincéis e paleta) para nos revelar a sua profissão, auto-afirmando-se como artista.
Neste auto-retrato,os seus olhos fogem dos nossos, há alguma cautela, mesmo resistência em nos olhar nos olhos.
O olhar do artista não está voltado para o exterior, mas para o seu interior, olhando o seu mundo imaginário.
Van Gogh
"Auto-Retrato"
Óleo sobre tela - 65x54cm
Saint-Rémy, Setembro de 1889
Paris, Museu d'Orsay
Depois de deixar o hospital para doentes mentais, em Saint-Rémy-de-Provence, pintou um auto-retrato em que a cor escolhida reflecte o seu estado emocional, a luta que está a travar com os seus próprios demónios.
O rosto surge carrancudo, quase zangado. À volta do nariz e das maçãs do rosto há rugas bem vincadas. As sobrancelhas são grossas e salientes, os cantos da boca aparecem voltados para baixo.
O ritmo das suas pinceladas através de linhas serpenteadas em forma de remoinho (uma das características de algumas das suas obras) aparece no rosto e nas roupas, expandindo-se com grande agitação no fundo azul-gelo.
Os azuis frios e verdes contrastam com o cabelo e a barba em tom vermelho. É este contraste que dá o tom psicológico ao quadro.
O seu rosto demonstra que passou por vários perigos e muita tormenta psicológica.
Van Gogh
"Auto-Retrato"
Óleo sobre tela - 51x45cm
Saint-Rémy, Setembro de 1889
Oslo, Nasjonalgalleriet
Este é o auto-retrato mais desfigurado, cruel e impiedoso de todos os que pintou. O seu rosto é semelhante ao dos camponeses que pintou no início. Nele regressa ao uso de camadas espessas de tinta de cor terra barrenta. Neste quadro não há cores brilhantes, pelo contrário, há falta de luz.
Van Gogh apresenta-se com a orelha mutilada e no rosto com um ar quase ameaçador.
O artista parece rejeitar a sua própria imagem como motivo a retratar.
O fim aproxima-se ...
Da pesquisa que fui fazendo apercebi-me que por detrás de uma obra excepcional está um homem íntegro, cheio de "bondade e compaixão" como escreveu o pintor Bernard, "um homem honesto ..." como recordou, no seu funeral, o médico que o acompanhava, o Dr. Gachet. Mas Van Gogh foi também um homem sofredor, acometido de terríveis medos e ansiedades.
Numa, das muitas cartas, que dirigiu ao seu irmão Theo afirmou: "Estou, uma vez mais, próximo da (...) loucura (...). Se não tivesse uma espécie de dupla personalidade, uma de monge e outra de pintor, já me encontrava há muito no estado que referi".
Seis meses após escrever esta carta aceitou esse estado de loucura entrando para um mosteiro: o de Saint-Paul-de-Mausole, um hospício em Saint-Rémy, mantendo, no entanto, a sua vida artística intacta.
Em Saint-Rémy ,Van Gogh continuou a pintar, são deste período os auto-retratos que coloco neste post.
Van Gogh
"Auto-Retrato"
Óleo sobre tela - 57x43,5cm
Saint-Rémy, fins de Agosto de 1889
Nova Iorque
Colecção Mrs. Jonh Hay Whitney
Mais uma vez se representa com a cabeça muito magra.
Neste auto-retrato estão evidentes sinais dos conflitos interiores. Agora o seu rosto aparece mais pálido do que o habitual, de um verde amarelado, descorado, mostrando com fidelidade o seu aspecto.
É de realçar que Van Gogh se faz acompanhar neste quadro, dos seus atributos de artista (pincéis e paleta) para nos revelar a sua profissão, auto-afirmando-se como artista.
Neste auto-retrato,os seus olhos fogem dos nossos, há alguma cautela, mesmo resistência em nos olhar nos olhos.
O olhar do artista não está voltado para o exterior, mas para o seu interior, olhando o seu mundo imaginário.
Van Gogh
"Auto-Retrato"
Óleo sobre tela - 65x54cm
Saint-Rémy, Setembro de 1889
Paris, Museu d'Orsay
Depois de deixar o hospital para doentes mentais, em Saint-Rémy-de-Provence, pintou um auto-retrato em que a cor escolhida reflecte o seu estado emocional, a luta que está a travar com os seus próprios demónios.
O rosto surge carrancudo, quase zangado. À volta do nariz e das maçãs do rosto há rugas bem vincadas. As sobrancelhas são grossas e salientes, os cantos da boca aparecem voltados para baixo.
O ritmo das suas pinceladas através de linhas serpenteadas em forma de remoinho (uma das características de algumas das suas obras) aparece no rosto e nas roupas, expandindo-se com grande agitação no fundo azul-gelo.
Os azuis frios e verdes contrastam com o cabelo e a barba em tom vermelho. É este contraste que dá o tom psicológico ao quadro.
O seu rosto demonstra que passou por vários perigos e muita tormenta psicológica.
Van Gogh
"Auto-Retrato"
Óleo sobre tela - 51x45cm
Saint-Rémy, Setembro de 1889
Oslo, Nasjonalgalleriet
Este é o auto-retrato mais desfigurado, cruel e impiedoso de todos os que pintou. O seu rosto é semelhante ao dos camponeses que pintou no início. Nele regressa ao uso de camadas espessas de tinta de cor terra barrenta. Neste quadro não há cores brilhantes, pelo contrário, há falta de luz.
Van Gogh apresenta-se com a orelha mutilada e no rosto com um ar quase ameaçador.
O artista parece rejeitar a sua própria imagem como motivo a retratar.
O fim aproxima-se ...
sábado, 23 de outubro de 2010
Retrato (s)... Auto-Retratos de Van Gogh - III
No post de hoje vou continuar a analisar alguns auto-retratos de Van Gogh realizados durante o período que viveu em Arles.
A partir de Fevereiro de 1888, Van Gogh foi viver para Arles, aí executou "pinturas extraordinariamente impetuosas e intensas", como escreveu Signac, em 1894, no seu diário.
Durante aproximadamente nove meses, Van Gogh viveu, em Arles, uma felicidade que se consegue vislumbrar nas suas obras.
Mais tarde escreveria: "Ainda me lembro claramente da excitação que senti naquele Inverno, ao viajar de Paris para Arles. De como estava constantemente em alerta para ver se já tínhamos conseguido chegar ao Japão."
Segundo Rainer Metzger e Ingo F. Walther - (Taschen - 1996- pág.98) "Van Gogh procurava encontrar o Japão no Sul. (...) Os meses que precederam a sua depressão foram preenchidos pela concepção imaginada de um mundo melhor prometido pelo Japão: Van Gogh procurava chegar a uma utopia, pintando-a como forma de a tentar transformar em realidade concreta."
Van Gogh
Auto-Retrato
(Dedicado a Paul Gauguin)
Óleo sobre tela - 62x52cm
Arles, Setembro de 1888
Cambridge (MA), Fogg Art Museum,
Harvard University
Agora retrata-se com a cabeça magra e o cabelo rapado. Na face angulosa sobressaem as maçãs do rosto.
Neste Auto-Retrato, dedicado ao seu amigo Paul Gauguin, Van Gogh aparece quase como um monge japonês.
O pintor procura parecer o mais oriental possível, com uma expressão muita tranquila, quase transcendente.
Em Outubro de 1888, Gauguin acede aos repetidos pedidos de Van Gogh e vem viver para Arles, no entanto, a harmonia entre os dois é breve. No período de dois meses os desentendimentos e as discussões sucedem-se, levando a uma deterioração do seu relacionamento.
A 23 de Dezembro, depois de uma discussão, Van Gogh andou perdido pela cidade de Arles, até decidir cortar o lóbulo da sua orelha esquerda. Depois foi para casa , onde a polícia o encontrou a tempo de o levar para o hospital.
Após o seu regresso a casa rapidamente se dedicou à pintura, executando dois auto-retratos.
Este é um desses auto-retratos.
Van Gogh
Auto-Retrato com Orelha Ligada
Óleo sobre tela - 60x49cm
Arles, Janeiro de 1889
Londres, Courtauld Institute Galleries
Neste Auto-Retrato com Orelha Ligada, pinta-se com um grande casaco verde através de longas pinceladas. O barrete, o cavalete e a parede, com uma gravura japonesa, mostram pinceladas mais curtas e nervosas. Alguns contornos foram fortemente realçados, separando as cores.
Na face além do verde, violeta, branco e amarelo utilizados, usa também pinceladas laranja e vermelhas de modo a dar algum "calor" à imagem que, no geral, é fria.
A ligadura, a camisa e a tela dão luz ao quadro através do uso de um branco lívido.
Neste quadro Van Gogh usou os dois pontos de cor quase ao mesmo nível, no rosto e na gravura japonesa, que aparecem lado a lado. Quereria transmitir a importância que as gravuras japonesas tiveram como fonte de inspiração na sua arte?
Mas os medos e os demónios interiores não deixam Van Gogh descansar, até que foi internado no asilo de Saint-Rémy-de-Provence ...
A partir de Fevereiro de 1888, Van Gogh foi viver para Arles, aí executou "pinturas extraordinariamente impetuosas e intensas", como escreveu Signac, em 1894, no seu diário.
Durante aproximadamente nove meses, Van Gogh viveu, em Arles, uma felicidade que se consegue vislumbrar nas suas obras.
Mais tarde escreveria: "Ainda me lembro claramente da excitação que senti naquele Inverno, ao viajar de Paris para Arles. De como estava constantemente em alerta para ver se já tínhamos conseguido chegar ao Japão."
Segundo Rainer Metzger e Ingo F. Walther - (Taschen - 1996- pág.98) "Van Gogh procurava encontrar o Japão no Sul. (...) Os meses que precederam a sua depressão foram preenchidos pela concepção imaginada de um mundo melhor prometido pelo Japão: Van Gogh procurava chegar a uma utopia, pintando-a como forma de a tentar transformar em realidade concreta."
Van Gogh
Auto-Retrato
(Dedicado a Paul Gauguin)
Óleo sobre tela - 62x52cm
Arles, Setembro de 1888
Cambridge (MA), Fogg Art Museum,
Harvard University
Agora retrata-se com a cabeça magra e o cabelo rapado. Na face angulosa sobressaem as maçãs do rosto.
Neste Auto-Retrato, dedicado ao seu amigo Paul Gauguin, Van Gogh aparece quase como um monge japonês.
O pintor procura parecer o mais oriental possível, com uma expressão muita tranquila, quase transcendente.
Em Outubro de 1888, Gauguin acede aos repetidos pedidos de Van Gogh e vem viver para Arles, no entanto, a harmonia entre os dois é breve. No período de dois meses os desentendimentos e as discussões sucedem-se, levando a uma deterioração do seu relacionamento.
A 23 de Dezembro, depois de uma discussão, Van Gogh andou perdido pela cidade de Arles, até decidir cortar o lóbulo da sua orelha esquerda. Depois foi para casa , onde a polícia o encontrou a tempo de o levar para o hospital.
Após o seu regresso a casa rapidamente se dedicou à pintura, executando dois auto-retratos.
Este é um desses auto-retratos.
Van Gogh
Auto-Retrato com Orelha Ligada
Óleo sobre tela - 60x49cm
Arles, Janeiro de 1889
Londres, Courtauld Institute Galleries
Neste Auto-Retrato com Orelha Ligada, pinta-se com um grande casaco verde através de longas pinceladas. O barrete, o cavalete e a parede, com uma gravura japonesa, mostram pinceladas mais curtas e nervosas. Alguns contornos foram fortemente realçados, separando as cores.
Na face além do verde, violeta, branco e amarelo utilizados, usa também pinceladas laranja e vermelhas de modo a dar algum "calor" à imagem que, no geral, é fria.
A ligadura, a camisa e a tela dão luz ao quadro através do uso de um branco lívido.
Neste quadro Van Gogh usou os dois pontos de cor quase ao mesmo nível, no rosto e na gravura japonesa, que aparecem lado a lado. Quereria transmitir a importância que as gravuras japonesas tiveram como fonte de inspiração na sua arte?
Mas os medos e os demónios interiores não deixam Van Gogh descansar, até que foi internado no asilo de Saint-Rémy-de-Provence ...
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
Exposição de Pintura de Eva Afonso
sábado, 9 de outubro de 2010
Exposição de Pintura de Eva Afonso
terça-feira, 5 de outubro de 2010
Retrato (s) ... Auto-Retratos de Van Gogh - II
O que é prometido é devido e cá estou para escrever sobre alguns dos muitos auto-retratos de Van Gogh. Vou seguir a ordem cronológica para podermos apreciar as mudanças ocorridas na obra deste artista, tanto a nível da técnica pictórica como do seu estado psicológico.
Van Gogh
"Auto-Retrato com Cachimbo"
Óleo sobre tela - 46x38cm
Paris, Primavera de 1886
Amesterdão, Museu Van Gogh
Este é um auto-retrato típico das suas primeiras pinturas.
Pintado em tons terra escuros, criando uma imagem de dignidade. Nele encontramos influência da pintura holandesa.
Van Gogh
"Auto-Retrato com Chapéu de Feltro Cinzento"
Óleo sobre cartolina - 41x32cm
Paris, Inverno 1886/1887
Amesterdão, Museu Stedeliijk
(empréstimo do Museu Van Gogh)
Este auto-retrato de Van Gogh mostra já a influência dos impressionistas, através do uso da cor e da pincelada.
Neste quadro utilizou ainda a mistura anterior de castanhos e cinzas à qual juntou pinceladas de cores puras - aumentando a vitalidade da cor.
É de realçar o vigor da pincelada, transmitindo deste modo o contraste entre a aspereza do casaco e a suavidade do chapéu de feltro.
Van Gogh
"Auto-Retrato"
Óleo sobre cartolina - 42x33,7cm
Paris, Primavera de 1887
Chicago, Instituto de Arte de Chicago
Observando este quadro, podemos verificar a influência que Van Gogh sofreu de Georges Seurat (pontilhismo).
Mas Van Gogh foi mais longe e ultrapassou a simples técnica de pequenos pontos de cor que se fundem quando vistos à distância. Van Gogh mostrou, neste auto-retrato todo o seu génio no poder expressivo da cor, usando os salpicos de cor no tecido do casaco e no fundo, mas não no rosto.
Van Gogh nunca aderiu inteiramente a uma tendência. Experimentava as coisas e ia buscar aquilo que se adaptava ao seu reportório artístico.
Van Gogh
"Auto-Retrato com Chapéu de Palha"
Óleo sobre tela - 40,5x32,5cm
Paris, Verão de 1887
Amesterdão, Museu Van Gogh
Este auto-retrato, segundo Rainer Metzger e Ingo F. Walther, "contém uma alegre e estival abundância de amarelos na camisa, rosto, chapéu e até no fundo. Algumas pinceladas violeta cuidadosamente dispostas acrescentam uma subtil nota contrastante. É só na cor de ginja na barba que Van Gogh ainda mantém o princípio da cor local; mas mesmo aqui o vermelho é usado demasiado esporadicamente para ser qualificado como descritivo.
O rosto familiar do artista tornou-se um retrato de experiência visual. Os traços básicos do seu rosto foram naturalmente mantidos e a mistura singular de Van Gogh de timidez e severidade rapidamente se identifica."
E por hoje propositadamente interrompo a observação de alguns auto-retratos de Van Gogh, pois na última fase da vida deste artista a abordagem que faz da sua própria imagem tem características diferentes (pelo menos a nível visual, pois a sua decadência psicológica está presente).
Voltarei em breve para escrever sobre este pintor genial.
Van Gogh
"Auto-Retrato com Cachimbo"
Óleo sobre tela - 46x38cm
Paris, Primavera de 1886
Amesterdão, Museu Van Gogh
Este é um auto-retrato típico das suas primeiras pinturas.
Pintado em tons terra escuros, criando uma imagem de dignidade. Nele encontramos influência da pintura holandesa.
Van Gogh
"Auto-Retrato com Chapéu de Feltro Cinzento"
Óleo sobre cartolina - 41x32cm
Paris, Inverno 1886/1887
Amesterdão, Museu Stedeliijk
(empréstimo do Museu Van Gogh)
Este auto-retrato de Van Gogh mostra já a influência dos impressionistas, através do uso da cor e da pincelada.
Neste quadro utilizou ainda a mistura anterior de castanhos e cinzas à qual juntou pinceladas de cores puras - aumentando a vitalidade da cor.
É de realçar o vigor da pincelada, transmitindo deste modo o contraste entre a aspereza do casaco e a suavidade do chapéu de feltro.
Van Gogh
"Auto-Retrato"
Óleo sobre cartolina - 42x33,7cm
Paris, Primavera de 1887
Chicago, Instituto de Arte de Chicago
Observando este quadro, podemos verificar a influência que Van Gogh sofreu de Georges Seurat (pontilhismo).
Mas Van Gogh foi mais longe e ultrapassou a simples técnica de pequenos pontos de cor que se fundem quando vistos à distância. Van Gogh mostrou, neste auto-retrato todo o seu génio no poder expressivo da cor, usando os salpicos de cor no tecido do casaco e no fundo, mas não no rosto.
Van Gogh nunca aderiu inteiramente a uma tendência. Experimentava as coisas e ia buscar aquilo que se adaptava ao seu reportório artístico.
Van Gogh
"Auto-Retrato com Chapéu de Palha"
Óleo sobre tela - 40,5x32,5cm
Paris, Verão de 1887
Amesterdão, Museu Van Gogh
Este auto-retrato, segundo Rainer Metzger e Ingo F. Walther, "contém uma alegre e estival abundância de amarelos na camisa, rosto, chapéu e até no fundo. Algumas pinceladas violeta cuidadosamente dispostas acrescentam uma subtil nota contrastante. É só na cor de ginja na barba que Van Gogh ainda mantém o princípio da cor local; mas mesmo aqui o vermelho é usado demasiado esporadicamente para ser qualificado como descritivo.
O rosto familiar do artista tornou-se um retrato de experiência visual. Os traços básicos do seu rosto foram naturalmente mantidos e a mistura singular de Van Gogh de timidez e severidade rapidamente se identifica."
E por hoje propositadamente interrompo a observação de alguns auto-retratos de Van Gogh, pois na última fase da vida deste artista a abordagem que faz da sua própria imagem tem características diferentes (pelo menos a nível visual, pois a sua decadência psicológica está presente).
Voltarei em breve para escrever sobre este pintor genial.
terça-feira, 28 de setembro de 2010
Retrato (s) ... Auto-retratos de Van Gogh - I
Ernest Rebel escreveu em "Auto-retratos" (Taschen - 2009) que "Os auto-retratos são testemunhos em que o ego do artista como seu modelo e motivo se relaciona simultaneamente com outras pessoas. Os artistas representam-se a si próprios como querem ser vistos pelos outros, mas também porque querem distinguir-se deles".
A partir do século XIX, com a invenção e utilização da máquina fotográfica, os pintores deixaram de ter como objectivo principal pintar-se de acordo com o retrato fotográfico, mas passaram a querer transmitir mais os "estados de alma".
O pintor Vincent Van Gogh (1853-1890) foi um dos pintores que utilizou de forma mais prolífera a pintura de auto-retratos como método de introspecção.
Este artista pintou-se de modo muito honesto, retratando-se não de forma idealizada, mas mostrando-se um homem à procura de respostas, transmitindo através dos seus olhos muita dor, perturbação e intranquilidade.
A frase em que Nietzsche afirma que o rosto humano é "o espelho da alma" parece estar "espelhada" nos auto-retratos de Van Gogh.
Este pintor foi um dos artistas que mais se debruçou sobre a sua própria imagem, (entre 1886 e 1889 pintou mais de 30 retratos), estudando-a, reproduzindo-a, mostrando através dela não só o seu declínio psicológico, mas também a sua técnica.
Há ainda a salientar que Van Gogh não tinha dinheiro para pagar a modelos para posar, por isso pintava-se, tendo como objectivo desenvolver a sua técnica e as suas competências como artista. Numa das muitas cartas que escreveu ao seu irmão Theo afirmou: " Eu comprei, de propósito, um espelho suficientemente bom que me permita trabalhar,na falta de um modelo, a partir da minha imagem. Porque se eu conseguir pintar o meu retrato,o que não deve ser feito sem alguma dificuldade, devo ser igualmente capaz de pintar os donos de outras boas almas, homens e mulheres".
Usou assim o seu próprio reflexo, encontrando uma forma prática e barata de pintar retratos, legando-nos uma autobiografia visual artística.
Por que não escrever sobre alguns destes auto-retratos?
Fica prometido!
A partir do século XIX, com a invenção e utilização da máquina fotográfica, os pintores deixaram de ter como objectivo principal pintar-se de acordo com o retrato fotográfico, mas passaram a querer transmitir mais os "estados de alma".
O pintor Vincent Van Gogh (1853-1890) foi um dos pintores que utilizou de forma mais prolífera a pintura de auto-retratos como método de introspecção.
Este artista pintou-se de modo muito honesto, retratando-se não de forma idealizada, mas mostrando-se um homem à procura de respostas, transmitindo através dos seus olhos muita dor, perturbação e intranquilidade.
A frase em que Nietzsche afirma que o rosto humano é "o espelho da alma" parece estar "espelhada" nos auto-retratos de Van Gogh.
Este pintor foi um dos artistas que mais se debruçou sobre a sua própria imagem, (entre 1886 e 1889 pintou mais de 30 retratos), estudando-a, reproduzindo-a, mostrando através dela não só o seu declínio psicológico, mas também a sua técnica.
Há ainda a salientar que Van Gogh não tinha dinheiro para pagar a modelos para posar, por isso pintava-se, tendo como objectivo desenvolver a sua técnica e as suas competências como artista. Numa das muitas cartas que escreveu ao seu irmão Theo afirmou: " Eu comprei, de propósito, um espelho suficientemente bom que me permita trabalhar,na falta de um modelo, a partir da minha imagem. Porque se eu conseguir pintar o meu retrato,o que não deve ser feito sem alguma dificuldade, devo ser igualmente capaz de pintar os donos de outras boas almas, homens e mulheres".
Usou assim o seu próprio reflexo, encontrando uma forma prática e barata de pintar retratos, legando-nos uma autobiografia visual artística.
Por que não escrever sobre alguns destes auto-retratos?
Fica prometido!
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
Observando um Quadro ... de Ribera ... nº 11
José Ribera
"A mulher barbuda"
(A estranha napolitana Magdalena Ventura)
Casa Ducal de Medinaceli, Toledo
Há quadros que prendem o meu olhar, despertam as minhas emoções pela beleza, pela cor, pelo movimento, pela pincelada, pela energia, pelo ... pelo insólito.
É o caso deste quadro, um dos mais insólitos da pintura europeia do século XVII e que constitui um caso à parte na obra de José Ribera (1591-1652), um dos pintores mais importantes da escola espanhola.
Foi encomendado pelo Vice-rei D. Fernando Afan de Ribera y Enriquez (1570-1637) para ser oferecido ao Rei D. Filipe III, como testemunho deste caso invulgar. Actualmente encontra-se depositado no Hospital Tavera de Toledo, sede da Fundação Casa Ducal de Medinaceli.
O imenso talento e virtuosismo de José de Ribera conseguiu, a partir de uma cena que não tem harmonia nem beleza, criar uma obra de arte espantosa em que é retratada a situação dramática de Magdalena Ventura, uma mulher de 52 anos que sofria de hirsutismo, amamentando o seu filho, com o seu segundo marido Felici de Amici, triste e conformado.
Consta que a sua doença, provocada pela produção excessiva de hormonas masculinas nos ovários ou nas glândulas supra-renais, surgiu-lhe subitamente aos 37 anos quando começou a ter barba e bigode. Foi mãe sete vezes, três antes do aparecimento da doença e quatro depois, casou duas vezes.
Neste quadro é notória a influência do "mestre das trevas", Caravaggio, em que as figuras surgem misteriosamente da escuridão, recortadas pela luz que incide sobre elas. A pincelada é rigorosa, não há pormenor que seja ignorado.
É um quadro de grande valor documental, do qual são conhecidas duas cópias, uma de pequenas dimensões depositada no palácio de La Granja e outra da Colecção Ruiz de Alda em Madrid.
Etiquetas:
José Ribera,
Observando um Quadro...
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
sábado, 4 de setembro de 2010
Exposição de Pintura de Eva Afonso
BEM-VINDOS À MINHA EXPOSIÇÃO: " ad infinitum ..."
na Biblioteca Municipal do Cadaval
que vai estar patente de 4 a 20 de Setembro.
As novas instalações desta Biblioteca são um espaço aprazível e comemoram no próximo dia 19 o seu primeiro ano de existência.
Aqui vos deixo algumas fotografias desta exposição, momentos antes da inauguração e um convite a todos os que quiserem visitá-la.
Espero que gostem!!!
na Biblioteca Municipal do Cadaval
que vai estar patente de 4 a 20 de Setembro.
As novas instalações desta Biblioteca são um espaço aprazível e comemoram no próximo dia 19 o seu primeiro ano de existência.
Aqui vos deixo algumas fotografias desta exposição, momentos antes da inauguração e um convite a todos os que quiserem visitá-la.
Espero que gostem!!!
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Observando um Quadro ... de Magritte ... nº 10
René Magritte
"O Império das Luzes"
Óleo sobre tela - 146x114cm
1954
Musées Royaux des Beaux-Arts de Belgique, Bruxelas
Ao lançarmos um breve olhar sobre a tela "O Império das Luzes" de René Magritte, não descortinamos logo todo o contraste nela contido. Só numa observação mais atenta conseguimos verificar todo o surreal(ismo) existente na representação desta cena que nos parece realista.
É neste segundo olhar que descobrimos " uma cena nocturna sob um céu diurno" (Marcel Paquet).
Sobre esta ideia para o quadro "O Império das Luzes", Magritte quis esclarecer-nos sobre as suas intenções dizendo: " Reproduzi diferentes conceitos de O Império das Luzes, concretamente uma paisagem nocturna e um céu, tal como o vemos durante o dia.
A paisagem leva-nos a pensar na noite, o céu no dia. Na minha opinião, esta simultaneidade de dia e noite tem o poder de surpreender e encantar. Chamo a este poder poesia".
René Magritte (1898-1967) nasceu na Bélgica e segundo ele poucas recordações de infância ficaram retidas na sua memória. Uma das poucas lembranças referidas pelo pintor foi o seu gosto em brincar com uma rapariguinha num velho cemitério abandonado. A este respeito dizia "... costumávamos levantar os portões de ferro e entrar nas abóbadas subterrâneas. Uma vez, ao voltar à luz do dia, reparei num artista a pintar numa rua do cemitério, muito pitoresca, com as suas colunas de pedra partidas e folhas amontoadas. Este artista viera da capital; a sua arte parecia-me mágica e ele dotado de poderes mágicos".
Magritte registou na sua memória esta experiência de infância e comparou-a ao prazer da liberdade que mais tarde sentiu quando começou a pintar quadros menos convencionais, num "realismo mágico" como lhe chamou.
O contraste entre as sombras das abóbadas do subterrâneo do cemitério e a luz do dia
quando emergia à superfície, o contraste entre o mundo de duas crianças cheias de vida e o local onde brincavam - num cemitério - em que repousavam os que já não tinham vida, aparece na obra de Magritte.
Muitos dos elementos, representados nos seus quadros, apresentam um contraste profundo entre si, para provocar uma reacção do observador, convidando-o a pensar.
"Magritte era um pintor de ideias, um pintor de pensamentos visíveis, mais do que de assuntos" (Marcel Paquet).
Quando, em 1922, viu uma reprodução do quadro "Canção de amor" de De Chirico, Magritte ficou profundamente impressionado e mais tarde escreveu: "Foi um dos momentos mais comoventes da minha vida; pela primeira vez os meus olhos viram o pensamento".
Magritte, com a tela "O Império das Luzes", ao representar simultaneamente o dia e a noite ( a luz e a escuridão) consegue perturbar-nos na nossa forma de organizar a vida, mas ... tem o poder de nos "surpreender e encantar", tal como o próprio pintor pretendia.
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
Exposição de Pintura de Eva Afonso
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
A não perder ... Museu Cargaleiro em Castelo Branco
O Verão e as férias convidam a passeios ao ar livre, idas à praia, convívios com os amigos, viagens a locais próximos ou longínquos, mas também visitas a museus ...
Por isso gostaria de vos "convidar" a visitar, a partir de Setembro, as novas instalações do Museu Cargaleiro, em Castelo Branco.
O novo Museu localizar-se-á na Praça Académica. Esta praça assemelhar-se-á a um auditório ao ar livre, com pequenas bancadas de granito, onde se pode também apreciar uma fonte recuperada e uma vista excelente da Torre do Castelo.
Toda a colecção da Fundação Cargaleiro irá para Castelo Branco. Nestes tempos, em que o interior do país se esvazia, este é um dos muitos esforços titânicos que as autarquias realizam para chamar a si pessoas, cultura, turismo ...
Tenho pena de não possuir fotografias do novo Museu para vos mostrar, mas deixo-vos uma do antigo Pólo.
Vão ser cerca de oito mil peças de pintura, cerâmica, azulejaria, tapeçaria que vão para Castelo Branco. Todas estas peças poderão ser apreciadas, mas não serão mostradas de uma só vez, serão expostas de uma forma faseada, através de exposições rotativas.
O pintor e ceramista Manuel Cargaleiro demonstrou-se satisfeito com as novas instalações do Museu Cargaleiro em plena zona histórica da cidade.
Mestre Manuel Cargaleiro
Este artista nasceu no concelho de Vila Velha de Rodão, em 1927. Expôs as suas obras
pela primeira vez em 1949, no Primeiro Salão de Cerâmica de Lisboa. Em 1954 recebeu o Prémio Sebastião de Almeida e passou a leccionar na Escola de Artes Decorativas António Arroio. Até que, em 1957, foi viver para França, país que considera a sua segunda pátria.
Em 1990, a convite da Câmara Municipal de Lisboa, cria a Fundação Manuel Cargaleiro, à qual doou as suas colecções e que agora vão ser expostas no Museu Cargaleiro, em Castelo Branco. Será sob a responsabilidade desta Fundação que funcionará este Museu.
Mas não foi em Portugal que surgiu o primeiro espaço artístico com o seu nome.
O Museu Artístico Industrial Manuel Cargaleiro foi erigido no palácio Del Duchi Carosino, em Vietri Sul Mare, na Itália.
Segundo Manuel Cargaleiro " Tudo começou numa bienal em 1999, quando ganhei o grande prémio internacional de cerâmica. A partir daí os italianos nunca mais me largaram."
Às vezes "santos de casa ... fazem milagres", por que não aproveitá-los, por que não apreciá-los, por que não visitar, a partir de Setembro, o Museu Cargaleiro em Castelo Branco para ver as obras deste artista plástico ?
Manuel Cargaleiro
"Sonhos que o Destino Escreve"
Óleo sobre tela - 80,5x60cm
1972
Por isso gostaria de vos "convidar" a visitar, a partir de Setembro, as novas instalações do Museu Cargaleiro, em Castelo Branco.
O novo Museu localizar-se-á na Praça Académica. Esta praça assemelhar-se-á a um auditório ao ar livre, com pequenas bancadas de granito, onde se pode também apreciar uma fonte recuperada e uma vista excelente da Torre do Castelo.
Toda a colecção da Fundação Cargaleiro irá para Castelo Branco. Nestes tempos, em que o interior do país se esvazia, este é um dos muitos esforços titânicos que as autarquias realizam para chamar a si pessoas, cultura, turismo ...
Tenho pena de não possuir fotografias do novo Museu para vos mostrar, mas deixo-vos uma do antigo Pólo.
Vão ser cerca de oito mil peças de pintura, cerâmica, azulejaria, tapeçaria que vão para Castelo Branco. Todas estas peças poderão ser apreciadas, mas não serão mostradas de uma só vez, serão expostas de uma forma faseada, através de exposições rotativas.
O pintor e ceramista Manuel Cargaleiro demonstrou-se satisfeito com as novas instalações do Museu Cargaleiro em plena zona histórica da cidade.
Mestre Manuel Cargaleiro
Este artista nasceu no concelho de Vila Velha de Rodão, em 1927. Expôs as suas obras
pela primeira vez em 1949, no Primeiro Salão de Cerâmica de Lisboa. Em 1954 recebeu o Prémio Sebastião de Almeida e passou a leccionar na Escola de Artes Decorativas António Arroio. Até que, em 1957, foi viver para França, país que considera a sua segunda pátria.
Em 1990, a convite da Câmara Municipal de Lisboa, cria a Fundação Manuel Cargaleiro, à qual doou as suas colecções e que agora vão ser expostas no Museu Cargaleiro, em Castelo Branco. Será sob a responsabilidade desta Fundação que funcionará este Museu.
Mas não foi em Portugal que surgiu o primeiro espaço artístico com o seu nome.
O Museu Artístico Industrial Manuel Cargaleiro foi erigido no palácio Del Duchi Carosino, em Vietri Sul Mare, na Itália.
Segundo Manuel Cargaleiro " Tudo começou numa bienal em 1999, quando ganhei o grande prémio internacional de cerâmica. A partir daí os italianos nunca mais me largaram."
Às vezes "santos de casa ... fazem milagres", por que não aproveitá-los, por que não apreciá-los, por que não visitar, a partir de Setembro, o Museu Cargaleiro em Castelo Branco para ver as obras deste artista plástico ?
Manuel Cargaleiro
"Sonhos que o Destino Escreve"
Óleo sobre tela - 80,5x60cm
1972
Subscrever:
Mensagens (Atom)