... " Quero dormir e sonhar

um sonho que em cor me afogue:

verdes e azuis de Renoir

amarelos de Van Gogh." ...

António Gedeão
(1956)

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Sabia que ...



Sabia que o quadro "A Liberdade conduzindo o Povo" de Eugène Delacroix foi vandalizado em Fevereiro último?

O Museu do Louvre (Paris) inaugurou em Lens, no norte de França, uma extensão, a 4 de Dezembro de 2012. Para esse evento fez deslocar para Lens algumas das suas obras-primas; o quadro "A Liberdade conduzindo o Povo" fazia parte desse lote.
Mas, sem nada o prever, uma visitante, quase à hora do fecho do Museu, escreveu a marcador preto uma inscrição, num canto inferior do quadro : "AE 911".

Como devem calcular o pânico instalou-se, temendo-se os estragos provocados.

A obra foi analisada por peritos e verificou-se que a inscrição era superficial, ao nível do verniz, e que seria facilmente apagada, o que veio a acontecer.
A tela depois de restaurada permaneceu em exposição, ao contrário do que inicialmente se pensou.

Tudo está bem, quando acaba bem ...




segunda-feira, 8 de julho de 2013

Observando um Quadro ... de Eugène Delacroix - nº 25


O quadro de Eugène Delacroix "A Liberdade conduzindo o Povo" comemora a sublevação dos Três Dias Gloriosos de Julho de 1830.
E foi utilizado como panfleto político de apoio ao levantamento dos Parisienses contra o regime tirânico de Carlos X.
Ele marca o momento em que o Romantismo abandonou os temas clássicos e iniciou uma nova temática procurada na vida contemporânea. O próprio Delacroix escreveu ao irmão: "Construí um tema moderno, uma barricada ... Já que não lutei, nem conquistei nada pela pátria, posso, ao menos, pintar por ela!"




 
Eugène Delacroix
"A Liberdade conduzindo o Povo"
1830
Óleo sobre tela, 260x325 cm
Paris, Musée du Louvre


Delacroix representou, neste quadro os diferentes grupos de combatentes que apoiaram a revolução de 1830, através dos seus chapéus - cartolas, boinas, gorros de pano ...
O próprio pintor apoiou os insurrectos e representou-se como o homem da cartola que caminha à frente dos combatentes.

Nesta representação não há um cabecilha, é a própria Liberdade que avança guiando o povo.
A figura central  do quadro é a Liberdade, representada de uma forma muito sensual e palpável. Figura de seios nus, com uma espingarda, munida de baioneta, na mão esquerda  e a bandeira tricolor na direita, tendo na cabeça uma boina frígia, símbolo da Liberdade, durante a Revolução Francesa.

Delacroix escolheu a mulher para transportar a bandeira republicana e tricolor. Esta escolha não foi inocente, quis exaltar a mulher que abandonou o lar para abraçar uma grande causa - a libertação do povo.
Esta mulher de seios desnudados pode ser vista como uma mulher do povo, de saia suja e pêlos nas axilas que avança sobre um tapete de cadáveres.
Aos pés da Liberdade jaz um cidadão ferido mortalmente que se esforça, num último alento, por olhá-la. Delacroix utiliza, no vestuário deste cidadão moribundo, as cores da bandeira, levando-nos a vê-lo como um patriota.
A bandeira tricolor pode ainda ser vista, ao fundo, esvoaçando nas torres da catedral de Notre Dame.

Se Delacroix se pintou a si próprio à direita da Liberdade, à esquerda pintou o jovem patriota, Arcole, que morreu em combate, perto do Hotel de Ville.
Este herói popular foi também imortalizado por Victor Hugo na personagem de Gravoche na sua obra "Os Miseráveis".

A composição deste quadro é clássica - em pirâmide - em que a Liberdade ocupa o vértice.
As arestas da pirâmide são formadas pelas armas empunhadas pelas diferentes personagens. De um lado várias linhas diagonais são criadas pelo homem da cartola e pelo operário, que caminham determinados, assim como pelo moribundo que, arqueando o corpo, ergue a cabeça em direcção à Liberdade. Do outro, o jovem adolescente, Arcole, cheio de entusiasmo e voluntarismo  ao empunhar as armas, forma uma linha diagonal com a baioneta transportada pela Liberdade, dando grande dinamismo a toda a composição.



terça-feira, 2 de julho de 2013

A Liberdade guiando o Povo


Era domingo, 12 de Julho de 1789, quando Camille Desmoulins, saltando para cima da mesa de um café, situado na margem esquerda do Sena, falou às massas populares.
Necker, Director-geral das Finanças, dizia o orador, tinha sido despedido pelo rei, o que representava, segundo Desmoulins, uma bofetada no povo e era muito mau agoiro. Ficava claro que a corte queria mudar a política e reprimir o povo, recorrendo à força. Camille Desmoulins exortava o povo  a tomar a Bastilha!
Esta construção do século XIV, de grossas muralhas, com oito torres redondas, fossos e pontes levadiças, era para o povo francês o símbolo do Antigo Regime, dos privilégios feudais e do poder absoluto.
Ecoando nos ouvidos de artífices, operários e desempregados, as palavras de Camille Desmoulins fizeram uma multidão furiosa avançar rumo à Bastilha para se apoderar das armas!
Após uma luta violenta, o povo entrou em massa nesta fortaleza, demolindo-a pedra a pedra, em 14 de Julho de 1789. Foi neste dia que o povo francês tomou o seu destino nas mãos, enquanto o seu rei, Luis XVI, escrevia uma única palavra no seu diário íntimo para resumir o dia: "Nada."


Mas apesar de "Nada" ter acontecido para o rei, o regime senhorial foi abolido. A partir desse dia as classes privilegiadas não gozariam mais de imunidade fiscal e todos os cidadãos se tornariam iguais perante a lei.

Os Três Dias Gloriosos:
Tal como Luis XVI, também Carlos X poderia ter escrito no seu diário: "Nada" como resumo dos dias 27, 28 e 29 de Julho de 1830, quando o povo de Paris liderado pela burguesia liberal fez uma série de levantamentos que levaram à sua abdicação.
Mas "Nada" era tudo!
Pois foram estes acontecimentos que levaram ao alastramento de uma série de movimentos revolucionários por toda a Europa ...

Após a ascensão e queda de Napoleão, as grandes potências europeias, no Congresso de Viena de 1815, fizeram regressar os Bourbons ao poder em França.
Foi um desses Bourbons, Carlos X, que tudo fez para se opôr aos ideais da Revolução Francesa de 1789,  fomentando medidas que restaurassem o absolutismo do Antigo Regime. E, em Julho de 1830, através das Ordenanças, dissolveu o Parlamento, retirando o cargo a todos os deputados eleitos, tentou recuperar todos os privilégios perdidos e promoveu a supressão da liberdade de imprensa.
Estas medidas desencadearam um novo período revolucionário - Os Três Dias Gloriosos (Les Trois Glorieuses).
Durante esses três dias levantaram-se, na capital francesa, as massas populares, generalizou-se a luta civil e afastaram o rei Carlos X, que partiu para o exílio.

Foi este clima revolucionário que Victor Hugo espelhou na sua obra "Os Miseráveis".


 


Esta época fervilhante e revolucionária fez vir à tona um movimento pictórico - o Romantismo - em que dominava a espontaneidade e a revolta, contra a frieza e a razão do neoclassicismo.
O poeta Baudelaire, em 1846, escreveu: " Quem diz Romantismo diz arte moderna, isto é, intimidade, espiritualidade, cor, ânsia de infinito, expressos por todos os meios próprios da arte".

Eugène Delacroix foi, em França, o chefe do movimento romântico na pintura.
Estudou na Escola de Belas-Artes, onde recebeu uma boa educação clássica, mas o seu interesse não ia nem para o classicismo, nem para o academismo. A sua obsessão fixava-se nos momentos de suprema emoção que revelam a parte do homem que está oculta pelas convenções estéticas e sociais.


Uma das telas que melhor retrata o espírito revolucionário dos "Três Dias Gloriosos"  é o quadro "A Liberdade conduzindo o Povo".



Eugène Delacroix
"A Liberdade conduzindo o Povo"
1830
Óleo sobre tela, 260x325 cm
Museu do Louvre, Paris