Convite
Convite aos que quiserem visitar a Exposição:
"Olhares", que vai estar patente, na magnífica galeria da Casa de Artes e Cultura do Tejo, em Vila Velha de Rodão, de 1 a 30 de Julho.
A inauguração ocorrerá pelas 18h.
Casa de Artes e Cultura do Tejo
Horário - Segunda a Sábado - das 9,30h às 12,30h
e das 14h às 18h
Encerra aos Domingos e Feriados
quarta-feira, 29 de junho de 2011
quinta-feira, 23 de junho de 2011
Os trabalhos de Eva Afonso
Eva Afonso
"Papoilas" / "Papoulas"
Óleo sobre tela - 40x50cm
2011
Não costumo acompanhar os meus trabalhos com qualquer texto, para além dos elementos descritivos, mas hoje, desculpem-me a imodéstia, apeteceu-me juntar a este trabalho um belo poema de Cesário Verde (1855-1886). Espero que o apreciem tanto quanto eu.
"De Tarde"
"Naquele piquenique de burguesas
Houve uma coisa simplesmente bela
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.
Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!"
terça-feira, 21 de junho de 2011
Pierre Bonnard
Li, há poucos dias, um artigo de Pedro Mexia, sobre o pintor Pierre Bonnard
(1867/1947).
É um artigo sobre a arte e a felicidade, que me deu prazer ler. Gostaria de o partilhar convosco:
" O que é a felicidade? Toda a gente diz que a arte se ocupa disso. E, no entanto, há, por exemplo, Bonnard.
Cheguei a Bonnard por causa de Degas, porque as banhistas de Bonnard são muitas vezes citadas a propósito das bailarinas de Degas. Mas as banhistas são o zénite de um percurso de júbilo. Bonnard parece ser o homem da abundância terrestre, das folhas, flores e frutos, e sabemos como a natureza era o seu ambiente natural, sobretudo nos últimos anos de vida, no refúgio dos Alpes Marítimos. A natureza em Bonnard, como tudo nela, aliás, é intensamente cromática, de tons laranja e violeta, impressionista no traço e iridescente na sensação. Mas reparem que Bonnard não se preocupa demasiado com a realidade tal como ela é. As regras da perspectiva não se aplicam, ele explicou que queria que tudo fosse visível em igual medida.
Jean Clair ( em "Bonnard", 1975) escreve que o pintor não representava nunca a realidade imediata mas uma realidade recordada. "Não pintar a vida, mas tornar a pintura viva", era o lema de Bonnard, e existe de facto uma estranha autonomia da arte face à realidade. É um real recordado, transfigurado, emotivo. O carpe diem , em Bonnard, não é a pura gratuitidade feliz do momento, como em Renoir, mas a persistência das coisas banais e boas que, revisitadas, ganham gravidade e enigma.
Esta pintura é tão temporal quanto intemporal. Em todas as telas encontramos um vigorosa existência do visível, e de um visível marcado pela passagem do tempo, nomeadamente pela meteorologia. É o visível que está em muito Cézanne e Matisse, mas é um visível frágil, perecível. Ao mesmo tempo, estes quadros podiam ser de qualquer época, tendo em conta os seus motivos, não há ´historicidade` aqui, apenas, década após década, as mesmas naturezas mortas e as mesmas janelas abertas sobre jardins.
Bonnard é o puro pintor, aquele que acredita mais na paixão do visível do que no cepticismo intelectual. Menorizado por alguns por causa dos seus temas demasiados comuns, demasiado burgueses, demasiado plácidos ou intimistas, Bonnard merece a atenção dos desatentos. Porque na irradiação das suas cores, na harmonia dos seus enquadramentos, no desenho das suas figuras, há uma visão inquieta das aparências, que é o mesmo que dizer uma visão inquieta da felicidade. É por isso que me lembro tanto dele.
Sobretudo, é claro, por causa dos nus. Esses nus que são, muitos deles, o mesmo nu, Marthe, que ele conheceu em 1893, e que se tornou seu modelo e depois sua mulher. Existe um tipo físico em Bonnard, como em Degas, as pernas longas, os seios pequenos e altos, as ancas estreitas, e existe uma situação típica o banho. Não são banhistas de mar, as de Bonnard, são mulheres que estão no banho, na banheira, esse local de culto ao corpo, à higiene, à intimidade.
" Crouching nude in the tub"
"La sortie de la baignoire"
" Nu jambe droite levée"
"Nu rose à la baignoire"
Em vez de, como em Renoir, o corpo feminino aparecer directamente associado à natureza, deitado na erva, oferecido, encontramos nestes nus um recolhimento ritual, são mulheres que estão sozinhas, que não estão a ser observadas, que não estão a seduzir ninguém, excepto, claro, Bonnard, que está em frente delas, excepto, claro, nós, que as vemos à distância no tempo. As bailarinas de Degas, que são uma das minhas ideias de felicidade, estão em espectáculo, ou vêm dele, ou vão para ele, mas o espectáculo dos nus de Bonnard é diferente, são Vénus domésticas, que umas vezes parecem estátuas, outras vezes simples silhuetas, que são a experiência imediata de uma felicidade imediata, recatada, finita.
~"Nu a contre-jour"
" Nu en hauteur"
"Dans le Cabinet de toilette"
"Femme devant un miroir"
É o hieratismo quase fictício de "Nu en hauteur" (1906), o movimento de "Femme penchée" (1907), a meninice de "Dans le cabinet de toilette" (1907), a sensualidade de "La cheminée" ( 1916), a quase bailarina de "Femme nue se baissant" (1923), aquele "Nu, jambe droite levée" (1924) cuja perna direita nem sequer se vê, é a composição perfeita de "Nu rose à la baignoire" (1926-1930), o vibrante "Nu de dos à la toilette" (1934), a Ofélia de "Nu à la baignoire" (1936), décadas com o mesmo motivo, com variações pequenas, e significativas de tão pequenas, e sempre ou quase sempre com Marthe.
A arte não se ocupa da felicidade? Quem disse? A felicidade não é apenas a euforia, e a euforia ruidosa. Pierre Bonnard, que acreditava na pintura, na natureza e na mulher, passou a vida inteira a representar, ou antes, a imaginar de novo, a pequena felicidade do visível. Uma felicidade discreta mas exigente, quotidiana mas altíssima. Que passa, como passou, quando Marthe morreu precocemente, por exemplo, mas que sobrevive nos quadros, visível e enigmática. Uma felicidade que se contenta com pouco porque é muito. Que acredita naquilo que vê porque vê aquilo em que acredita." *
Apreciei este texto. Parabéns ao seu autor, que escreveu sobre um pintor que "menorizado por alguns (...) merece a atenção dos desatentos".
* Publicado no suplemento "Atual" do Semanário "Expresso" de 10 de Junho de 2011,
pág.3
Nota - O artigo não continha imagens.
(1867/1947).
É um artigo sobre a arte e a felicidade, que me deu prazer ler. Gostaria de o partilhar convosco:
" O que é a felicidade? Toda a gente diz que a arte se ocupa disso. E, no entanto, há, por exemplo, Bonnard.
Cheguei a Bonnard por causa de Degas, porque as banhistas de Bonnard são muitas vezes citadas a propósito das bailarinas de Degas. Mas as banhistas são o zénite de um percurso de júbilo. Bonnard parece ser o homem da abundância terrestre, das folhas, flores e frutos, e sabemos como a natureza era o seu ambiente natural, sobretudo nos últimos anos de vida, no refúgio dos Alpes Marítimos. A natureza em Bonnard, como tudo nela, aliás, é intensamente cromática, de tons laranja e violeta, impressionista no traço e iridescente na sensação. Mas reparem que Bonnard não se preocupa demasiado com a realidade tal como ela é. As regras da perspectiva não se aplicam, ele explicou que queria que tudo fosse visível em igual medida.
Jean Clair ( em "Bonnard", 1975) escreve que o pintor não representava nunca a realidade imediata mas uma realidade recordada. "Não pintar a vida, mas tornar a pintura viva", era o lema de Bonnard, e existe de facto uma estranha autonomia da arte face à realidade. É um real recordado, transfigurado, emotivo. O carpe diem , em Bonnard, não é a pura gratuitidade feliz do momento, como em Renoir, mas a persistência das coisas banais e boas que, revisitadas, ganham gravidade e enigma.
Esta pintura é tão temporal quanto intemporal. Em todas as telas encontramos um vigorosa existência do visível, e de um visível marcado pela passagem do tempo, nomeadamente pela meteorologia. É o visível que está em muito Cézanne e Matisse, mas é um visível frágil, perecível. Ao mesmo tempo, estes quadros podiam ser de qualquer época, tendo em conta os seus motivos, não há ´historicidade` aqui, apenas, década após década, as mesmas naturezas mortas e as mesmas janelas abertas sobre jardins.
Bonnard é o puro pintor, aquele que acredita mais na paixão do visível do que no cepticismo intelectual. Menorizado por alguns por causa dos seus temas demasiados comuns, demasiado burgueses, demasiado plácidos ou intimistas, Bonnard merece a atenção dos desatentos. Porque na irradiação das suas cores, na harmonia dos seus enquadramentos, no desenho das suas figuras, há uma visão inquieta das aparências, que é o mesmo que dizer uma visão inquieta da felicidade. É por isso que me lembro tanto dele.
Sobretudo, é claro, por causa dos nus. Esses nus que são, muitos deles, o mesmo nu, Marthe, que ele conheceu em 1893, e que se tornou seu modelo e depois sua mulher. Existe um tipo físico em Bonnard, como em Degas, as pernas longas, os seios pequenos e altos, as ancas estreitas, e existe uma situação típica o banho. Não são banhistas de mar, as de Bonnard, são mulheres que estão no banho, na banheira, esse local de culto ao corpo, à higiene, à intimidade.
" Crouching nude in the tub"
"La sortie de la baignoire"
" Nu jambe droite levée"
"Nu rose à la baignoire"
Em vez de, como em Renoir, o corpo feminino aparecer directamente associado à natureza, deitado na erva, oferecido, encontramos nestes nus um recolhimento ritual, são mulheres que estão sozinhas, que não estão a ser observadas, que não estão a seduzir ninguém, excepto, claro, Bonnard, que está em frente delas, excepto, claro, nós, que as vemos à distância no tempo. As bailarinas de Degas, que são uma das minhas ideias de felicidade, estão em espectáculo, ou vêm dele, ou vão para ele, mas o espectáculo dos nus de Bonnard é diferente, são Vénus domésticas, que umas vezes parecem estátuas, outras vezes simples silhuetas, que são a experiência imediata de uma felicidade imediata, recatada, finita.
~"Nu a contre-jour"
" Nu en hauteur"
"Dans le Cabinet de toilette"
"Femme devant un miroir"
É o hieratismo quase fictício de "Nu en hauteur" (1906), o movimento de "Femme penchée" (1907), a meninice de "Dans le cabinet de toilette" (1907), a sensualidade de "La cheminée" ( 1916), a quase bailarina de "Femme nue se baissant" (1923), aquele "Nu, jambe droite levée" (1924) cuja perna direita nem sequer se vê, é a composição perfeita de "Nu rose à la baignoire" (1926-1930), o vibrante "Nu de dos à la toilette" (1934), a Ofélia de "Nu à la baignoire" (1936), décadas com o mesmo motivo, com variações pequenas, e significativas de tão pequenas, e sempre ou quase sempre com Marthe.
A arte não se ocupa da felicidade? Quem disse? A felicidade não é apenas a euforia, e a euforia ruidosa. Pierre Bonnard, que acreditava na pintura, na natureza e na mulher, passou a vida inteira a representar, ou antes, a imaginar de novo, a pequena felicidade do visível. Uma felicidade discreta mas exigente, quotidiana mas altíssima. Que passa, como passou, quando Marthe morreu precocemente, por exemplo, mas que sobrevive nos quadros, visível e enigmática. Uma felicidade que se contenta com pouco porque é muito. Que acredita naquilo que vê porque vê aquilo em que acredita." *
Apreciei este texto. Parabéns ao seu autor, que escreveu sobre um pintor que "menorizado por alguns (...) merece a atenção dos desatentos".
* Publicado no suplemento "Atual" do Semanário "Expresso" de 10 de Junho de 2011,
pág.3
Nota - O artigo não continha imagens.
segunda-feira, 13 de junho de 2011
Retrato (s) ... de Fernando Pessoa
Lembrar Fernando Pessoa, no dia do seu aniversário (13 de Junho de 1888) - um dos maiores poetas portugueses.
Portugueses?
Não, Universais!
José de Almada Negreiros
Retrato do poeta Fernando Pessoa
Óleo sobre tela - 201x201cm
1954
Museu da Cidade, Lisboa
Júlio Pomar
Triplo retrato de Fernando Pessoa (alusão aos principais heterónimos?)
Óleo sobre tela
2007
Celito Medeiros
Retrato de Fernando Pessoa ( homenagem dos 120 anos de Fernando Pessoa)
Pintura a partir da escultura do Professor Lagoa Henriques situada no Largo do Chiado, Lisboa
Portugueses?
Não, Universais!
José de Almada Negreiros
Retrato do poeta Fernando Pessoa
Óleo sobre tela - 201x201cm
1954
Museu da Cidade, Lisboa
Júlio Pomar
Triplo retrato de Fernando Pessoa (alusão aos principais heterónimos?)
Óleo sobre tela
2007
Celito Medeiros
Retrato de Fernando Pessoa ( homenagem dos 120 anos de Fernando Pessoa)
Pintura a partir da escultura do Professor Lagoa Henriques situada no Largo do Chiado, Lisboa
segunda-feira, 6 de junho de 2011
Desafios ... Resposta: Caspar David Friedrich
Resposta do post anterior:
Pintor - Caspar David Friedrich
Caspar David Friedrich (1774-1840), pintor alemão da época romântica.
A geração que cresce após as Guerras Napoleónicas e o Congresso de Viena, vive um novo ideal. Os temas tradicionais do classicismo são substituídos pelo mundo íntimo do artista.
A Alemanha desde 1770 conheceu uma corrente precursora do romantismo, o Sturm und Drang (tempestade e íntimo), que foi uma reacção ao racionalismo que o iluminismo do século XVIII defendia, assim como ao classicismo francês.
O movimento romântico surge inicialmente na literatura e na filosofia, mas rapidamente se estende à pintura e os pintores adoptam os pensamentos de Schelling, Fichte, Tieck e Schlegel que se opunham criticamente ao racionalismo do iluminismo e a obra de arte rapidamente se transforma "na voz interior", segundo a expressão de Caspar David Friedrich.
Segundo a filosofia da natureza de Schelling, os pintores passam a pesquisar os segredos do mundo, de acordo com a sua própria intuição e emoção. O tema preferido passa a ser a pintura de paisagens, mas em que a natureza é pintada com os reflexos que incutia na sensibilidade do pintor.
O conceito estético de Sublime, surgiu no século XVIII, transcende o de belo e pitoresco e serve para descrever o "estado de alma" que certas paisagens provocam.
O Sublime é a reacção natural de qualquer ser humano perante um objecto de extrema grandiosidade, como a extensão infinita do oceano, a imponência de uma montanha ou a solidão da floresta e que lhe provoca, simultaneamente, medo e prazer.
A obra de Caspar David Friedrich "Viajante observa um mar de bruma" é um verdadeiro manifesto ao romantismo. Nela encontramos o repertório iconográfico da época romântica: figuras solitárias e indefesas diante das forças da natureza.
Quadro - "Viajante observa um mar de bruma"
Óleo sobre tela, 98,4x74,8cm
1817 /18
Hamburgo, Hamburger Kunsthalle
Em primeiro plano está representado um monte escarpado pontiagudo e escuro onde, de pé, um viajante de costas para o observador, olha fixamente o horizonte longínquo.
Bem lá longe, surgem montanhas sobre nuvens de nevoeiro que se elevam das profundezas e das rochas áridas e aguçadas que emergem aqui e ali.
Mas o pintor não se limita a representar a natureza tal como ela é, dá-lhe um significado expresso através de símbolos: o homem de costas olha para um ponto inatingível e o que vê é, ao mesmo tempo, algo exterior e a projecção do seu eu.
Esta figura solitária tem uma dupla função na composição da obra, por um lado, marca a escala de grandeza, onde é reconhecida a superioridade da natureza e por outro lado, marca o ponto de contemplação, pois não estamos somente a olhar para uma paisagem, estamos a também a contemplar a experiência de um indivíduo perante a grandeza da natureza.
A pintura romântica pretende integrar o observador na obra, tal como as personagens, geralmente de costas, o observador contempla as paisagens distantes que se estendem à sua frente.
O próprio quadro transforma-se num espelho, em que o observador se quiser ver, para além de uma simples paisagem, terá de lhe dar um significado mais profundo, segundo as suas emoções.
Deixo-vos com algumas obras deste pintor:
"O caçador na floresta"
1814
Óleo sobre tela, 66x47cm
Colecção privada
"Os penhascos de Rügen"
c. 1818
Óleo sobre tela, 90,5x71cm
Museu Oskar Reinhart am Stadtgarter
"Mulher diante da aurora"
c. 1818/ 20
Óleo sobre tela, 22x30cm
Museu Folkwang, Essen
"A árvore com corvos"
c.1822
Óleo sobre tela, 59x73cm
Museu du Louvre, Paris
"A lua nasce no mar"
c.1822
Óleo sobre tela, 55x71cm
Nationalgalerie, Berlin
"Homem e mulher contemplando a lua"
c. 1824
Óleo sobre tela, 34x45cm
Nationalgalerie, Berlin
Pintor - Caspar David Friedrich
Caspar David Friedrich (1774-1840), pintor alemão da época romântica.
A geração que cresce após as Guerras Napoleónicas e o Congresso de Viena, vive um novo ideal. Os temas tradicionais do classicismo são substituídos pelo mundo íntimo do artista.
A Alemanha desde 1770 conheceu uma corrente precursora do romantismo, o Sturm und Drang (tempestade e íntimo), que foi uma reacção ao racionalismo que o iluminismo do século XVIII defendia, assim como ao classicismo francês.
O movimento romântico surge inicialmente na literatura e na filosofia, mas rapidamente se estende à pintura e os pintores adoptam os pensamentos de Schelling, Fichte, Tieck e Schlegel que se opunham criticamente ao racionalismo do iluminismo e a obra de arte rapidamente se transforma "na voz interior", segundo a expressão de Caspar David Friedrich.
Segundo a filosofia da natureza de Schelling, os pintores passam a pesquisar os segredos do mundo, de acordo com a sua própria intuição e emoção. O tema preferido passa a ser a pintura de paisagens, mas em que a natureza é pintada com os reflexos que incutia na sensibilidade do pintor.
O conceito estético de Sublime, surgiu no século XVIII, transcende o de belo e pitoresco e serve para descrever o "estado de alma" que certas paisagens provocam.
O Sublime é a reacção natural de qualquer ser humano perante um objecto de extrema grandiosidade, como a extensão infinita do oceano, a imponência de uma montanha ou a solidão da floresta e que lhe provoca, simultaneamente, medo e prazer.
A obra de Caspar David Friedrich "Viajante observa um mar de bruma" é um verdadeiro manifesto ao romantismo. Nela encontramos o repertório iconográfico da época romântica: figuras solitárias e indefesas diante das forças da natureza.
Quadro - "Viajante observa um mar de bruma"
Óleo sobre tela, 98,4x74,8cm
1817 /18
Hamburgo, Hamburger Kunsthalle
Em primeiro plano está representado um monte escarpado pontiagudo e escuro onde, de pé, um viajante de costas para o observador, olha fixamente o horizonte longínquo.
Bem lá longe, surgem montanhas sobre nuvens de nevoeiro que se elevam das profundezas e das rochas áridas e aguçadas que emergem aqui e ali.
Mas o pintor não se limita a representar a natureza tal como ela é, dá-lhe um significado expresso através de símbolos: o homem de costas olha para um ponto inatingível e o que vê é, ao mesmo tempo, algo exterior e a projecção do seu eu.
Esta figura solitária tem uma dupla função na composição da obra, por um lado, marca a escala de grandeza, onde é reconhecida a superioridade da natureza e por outro lado, marca o ponto de contemplação, pois não estamos somente a olhar para uma paisagem, estamos a também a contemplar a experiência de um indivíduo perante a grandeza da natureza.
A pintura romântica pretende integrar o observador na obra, tal como as personagens, geralmente de costas, o observador contempla as paisagens distantes que se estendem à sua frente.
O próprio quadro transforma-se num espelho, em que o observador se quiser ver, para além de uma simples paisagem, terá de lhe dar um significado mais profundo, segundo as suas emoções.
Deixo-vos com algumas obras deste pintor:
"O caçador na floresta"
1814
Óleo sobre tela, 66x47cm
Colecção privada
"Os penhascos de Rügen"
c. 1818
Óleo sobre tela, 90,5x71cm
Museu Oskar Reinhart am Stadtgarter
"Mulher diante da aurora"
c. 1818/ 20
Óleo sobre tela, 22x30cm
Museu Folkwang, Essen
"A árvore com corvos"
c.1822
Óleo sobre tela, 59x73cm
Museu du Louvre, Paris
"A lua nasce no mar"
c.1822
Óleo sobre tela, 55x71cm
Nationalgalerie, Berlin
"Homem e mulher contemplando a lua"
c. 1824
Óleo sobre tela, 34x45cm
Nationalgalerie, Berlin
quarta-feira, 1 de junho de 2011
Desafios ...
Mais um desafio!
Aqui vai, mais um repto.
Quem pintou este quadro cheio de mistério e sublimidade?
Ao olhar esta obra veio-me à memória um poema de Fernando Pessoa, que aqui deixo para vosso/nosso deleite:
" Braços cruzados, fita além do mar.
Parece em promontório uma alta serra -
O limite da terra a dominar
O mar que possa haver além da terra.
Seu formidável vulto solitário
Enche de estar presente o mar e o céu.
E parece temer o mundo vário
Que ele abra os braços e lhe rasgue o véu."
Fernando Pessoa - "D. João o Segundo" in "Mensagem"
Aqui vai, mais um repto.
Quem pintou este quadro cheio de mistério e sublimidade?
Ao olhar esta obra veio-me à memória um poema de Fernando Pessoa, que aqui deixo para vosso/nosso deleite:
" Braços cruzados, fita além do mar.
Parece em promontório uma alta serra -
O limite da terra a dominar
O mar que possa haver além da terra.
Seu formidável vulto solitário
Enche de estar presente o mar e o céu.
E parece temer o mundo vário
Que ele abra os braços e lhe rasgue o véu."
Fernando Pessoa - "D. João o Segundo" in "Mensagem"
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