No Museu do Prado, Madrid, encontra-se uma pintura que me causa alguma perplexidade - a obra "Saturno" de Francisco Goya.
Francisco Goya
"Saturno"
Óleo sobre tela - 146x83cm
1820-1823
Este quadro faz parte das chamadas "pinturas negras" da casa de Goya. Nelas as figuras aparecem de olhos esbugalhados, mostrando o branco na parte superior e as pupilas na inferior, as bocas surgem abertas ou a comer. É deste modo que Goya pinta Saturno, rei dos Titãs.
Saturno é o deus romano que foi equiparado ao grego Cronos, filho de Úrano (o Céu) e de Geia (a Terra).
Avisado, pela sua mãe ou pelo oráculo, que um dos seus filhos o deporia do trono, devorou-os um a um à medida que nasciam.
Goya ao pintar este quadro, quis dar-nos esta visão de horror, para isso utilizou um pincel grosso registando toda a acção com um realismo brutal. Esqueceu todas as referências deste mito antigo e apenas nos mostra um monstro devorando avidamente um cadáver.
Pois foi precisamente este um dos quadros que Vik Muniz "retrabalhou", reproduzindo-o em grande escala.
Vik Muniz
"Saturno devorando um dos seus filhos, depois de Francisco Goya"
2005
Vik Muniz "construiu" esta obra com lixo e uma das leituras possíveis será pretender mostrar-nos que, tal como Saturno, enlouquecido pelo poder, não quer dar espaço às gerações seguintes, também a sociedade de consumo está indiferente ao mundo que deixa às novas gerações.
Tal como no mito de Saturno é preciso proteger a sua mãe Geia (a Terra)!
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