... " Quero dormir e sonhar

um sonho que em cor me afogue:

verdes e azuis de Renoir

amarelos de Van Gogh." ...

António Gedeão
(1956)

terça-feira, 2 de julho de 2013

A Liberdade guiando o Povo


Era domingo, 12 de Julho de 1789, quando Camille Desmoulins, saltando para cima da mesa de um café, situado na margem esquerda do Sena, falou às massas populares.
Necker, Director-geral das Finanças, dizia o orador, tinha sido despedido pelo rei, o que representava, segundo Desmoulins, uma bofetada no povo e era muito mau agoiro. Ficava claro que a corte queria mudar a política e reprimir o povo, recorrendo à força. Camille Desmoulins exortava o povo  a tomar a Bastilha!
Esta construção do século XIV, de grossas muralhas, com oito torres redondas, fossos e pontes levadiças, era para o povo francês o símbolo do Antigo Regime, dos privilégios feudais e do poder absoluto.
Ecoando nos ouvidos de artífices, operários e desempregados, as palavras de Camille Desmoulins fizeram uma multidão furiosa avançar rumo à Bastilha para se apoderar das armas!
Após uma luta violenta, o povo entrou em massa nesta fortaleza, demolindo-a pedra a pedra, em 14 de Julho de 1789. Foi neste dia que o povo francês tomou o seu destino nas mãos, enquanto o seu rei, Luis XVI, escrevia uma única palavra no seu diário íntimo para resumir o dia: "Nada."


Mas apesar de "Nada" ter acontecido para o rei, o regime senhorial foi abolido. A partir desse dia as classes privilegiadas não gozariam mais de imunidade fiscal e todos os cidadãos se tornariam iguais perante a lei.

Os Três Dias Gloriosos:
Tal como Luis XVI, também Carlos X poderia ter escrito no seu diário: "Nada" como resumo dos dias 27, 28 e 29 de Julho de 1830, quando o povo de Paris liderado pela burguesia liberal fez uma série de levantamentos que levaram à sua abdicação.
Mas "Nada" era tudo!
Pois foram estes acontecimentos que levaram ao alastramento de uma série de movimentos revolucionários por toda a Europa ...

Após a ascensão e queda de Napoleão, as grandes potências europeias, no Congresso de Viena de 1815, fizeram regressar os Bourbons ao poder em França.
Foi um desses Bourbons, Carlos X, que tudo fez para se opôr aos ideais da Revolução Francesa de 1789,  fomentando medidas que restaurassem o absolutismo do Antigo Regime. E, em Julho de 1830, através das Ordenanças, dissolveu o Parlamento, retirando o cargo a todos os deputados eleitos, tentou recuperar todos os privilégios perdidos e promoveu a supressão da liberdade de imprensa.
Estas medidas desencadearam um novo período revolucionário - Os Três Dias Gloriosos (Les Trois Glorieuses).
Durante esses três dias levantaram-se, na capital francesa, as massas populares, generalizou-se a luta civil e afastaram o rei Carlos X, que partiu para o exílio.

Foi este clima revolucionário que Victor Hugo espelhou na sua obra "Os Miseráveis".


 


Esta época fervilhante e revolucionária fez vir à tona um movimento pictórico - o Romantismo - em que dominava a espontaneidade e a revolta, contra a frieza e a razão do neoclassicismo.
O poeta Baudelaire, em 1846, escreveu: " Quem diz Romantismo diz arte moderna, isto é, intimidade, espiritualidade, cor, ânsia de infinito, expressos por todos os meios próprios da arte".

Eugène Delacroix foi, em França, o chefe do movimento romântico na pintura.
Estudou na Escola de Belas-Artes, onde recebeu uma boa educação clássica, mas o seu interesse não ia nem para o classicismo, nem para o academismo. A sua obsessão fixava-se nos momentos de suprema emoção que revelam a parte do homem que está oculta pelas convenções estéticas e sociais.


Uma das telas que melhor retrata o espírito revolucionário dos "Três Dias Gloriosos"  é o quadro "A Liberdade conduzindo o Povo".



Eugène Delacroix
"A Liberdade conduzindo o Povo"
1830
Óleo sobre tela, 260x325 cm
Museu do Louvre, Paris


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