... " Quero dormir e sonhar

um sonho que em cor me afogue:

verdes e azuis de Renoir

amarelos de Van Gogh." ...

António Gedeão
(1956)

domingo, 30 de dezembro de 2012

Desafios ... Resposta - Pieter Bruegel


Pieter Bruegel, o Velho
"O Censo de Belém"
1566
Óleo sobre madeira - 116x164,5 cm
Musée Royaux des Beaux-Arts, Bruxelas
 
 
Pieter Bruegel, o Velho, "narra", nesta obra a chegada de José e Maria, ainda grávida, a Belém.
Vêm a esta cidade para cumprirem uma ordem plasmada num decreto do Imperador César Augusto, que determinava que todos os habitantes do Império fossem recenseados no seu local de origem.
 
Muitos pintores do século XVI trataram temas religiosos, mas fizeram-no retratando as personagens cheias de beleza e em cenários palacianos ou em construções faustosas, contudo, Bruegel integrou este episódio  bíblico numa aldeia da sua Flandres, onde as personagens são camponeses, trabalhadores rurais, artesãos que vivem em humildes habitações.
 
Num cenário invernoso, caminham pela neve, à frente José, atrás Maria, montada num burro em direcção à hospedaria.
 
 
Estas duas personagens passam relativamente despercebidas, não se distinguem, nem pelo tamanho, nem pelo colorido, do resto da população daquela aldeia.
José e Maria chegam ao fim da tarde daquele dia de Inverno, quando o Sol, representado por um disco alaranjado, já desce no horizonte. 
 
 
Bruegel dá à representação da aldeia muito mais importância do que ao episódio bíblico.
 
A vida fervilha na praça desta aldeia, apesar do frio. Adultos e crianças partilham o espaço público com as galinhas, os porcos e os cães...
Neste fim de tarde, muitos camponeses, após os seus afazeres regressam aos lares, enquanto outros desempenham diferentes tarefas, como a matança do porco. As crianças que "polvilham" a obra e a quem ninguém presta atenção, brincam no gelo com os seus patins, piões e trenós improvisados.
 
 
As casas desta aldeia, apesar de estar a anoitecer, mantêm-se na escuridão, não se vê qualquer foco de luz através das janelas. A única fonte de iluminação vem da fogueira acesa junto de uma parede, em volta da qual alguns aldeões se reunem.
Interessante, nesta obra, é o funcionamento de uma taberna no interior oco de uma árvore, assinalada por uma tabuleta.
 
 
No canto inferior esquerdo ergue-se uma hospedaria, identificada por uma coroa verde. É para aí que se dirigem José e Maria para se recensearem.
 
 
Mas Bruegel não pinta uma acção de recenseamento, mas a cobrança de impostos: de um lado do balcão estão os que pagam e do outro os que recebem as moedas.
Se retirarmos o título a esta obra o que vemos é uma aldeia flamenga ocupada com as suas tarefas quotidianas e em que a população se encontra oprimida e subjugada pelos impostos cobrados por Filipe II de Espanha após a invasão dos Países Baixos. Metade dos impostos do imenso Império Espanhol devia ser cobrada nesta região. A população protestava, mas em 1567 o Duque de Alba exigiu impostos suplementares pretendendo desta forma humilhar e subjugar o povo flamengo.


quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Desafio ...


Após a azáfama da preparação das rabanadas e dos coscorões e da celebração natalícia, espero que tenham algum tempo disponível para participar no desafio que vos vou propor.

 
Esta obra enquadra-se neste período em que as temperaturas baixam e a neve se expande sobre os campos e as cidades dando-lhes uma atmosfera de bilhete postal.

Qual o autor e o título deste quadro?

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Votos de Boas Festas !



 
Federico Barocci
"Natividade"
1597
Óleo sobre tela - 134x105cm
Museu do Prado, Madrid
(Proveniente das colecções de Carlos IV)
 
 
Este quadro foi pintado em 1597 para  o duque de Urbino, Francesco Maria II della Rovere, que foi o principal mecenas deste pintor.
 
A estrutura da composição é executada na diagonal a partir do braço estendido de S. José, como a convidar os pastores a entrarem no estábulo para adorarem o Deus Menino, por sua vez a Virgem, semi-ajoelhada, contempla com enlevo o Menino.
Barocci ao  demonstrar uma grande sensibilidade no tratamento das luzes, um delicado uso das cores de raiz veneziana e uma grande verdade no tratamento dos corpos no espaço cria um ambiente que ficou conhecido como "naturalismo místico".
O contraste entre as luzes e as sombras, criado a partir da fonte luminosa que irradia do Menino, o ambiente familiar formado por este S. José hospitaleiro e a Virgem que olha embevecida para o Filho,  suscita no observador uma corrente afectiva.
 
 
O Papa Bento XVI, num novo livro, clarificou muitos dos mitos em torno do nascimento do Menino Jesus afirmando que o Evangelho não alude a bichos. Explica que em vários textos sagrados "o boi e o burro" representam judeus e gentios, o povo "desprovido de compreensão" que, "diante da aparição humilde de Deus, recebe a epifania que a todos ensina a ver" .
 
Federico Barocci não teve conhecimento destas explicações do Papa Bento XVI, por isso, nesta representação do nascimento do Deus Menino aparecem o boi e o burro cheios de realismo, envoltos
pela luz divina que se expande na escuridão do humilde estábulo.
 
 
No meu presépio o boi e o burro vão continuar a aquecer o Menino.
 
 


 
Feliz Natal a todos os visitantes deste blogue !
 
 

domingo, 16 de dezembro de 2012

Os trabalhos de Eva Afonso

 
Eva Afonso
"Flores campestres num jarro"
2012
Óleo sobre tela - 60x50cm

sábado, 15 de dezembro de 2012

A não perder ... A Exposição "As Idades do Mar" na Fundação Calouste Gulbenkian

A Fundação Calouste Gulbenkian tem a decorrer, na Sala de Exposições Temporárias do edifício sede em Lisboa, até 27 de Janeiro de 2013, uma Exposição intitulada: "As Idades do mar".


"O mar é o tema central da exposição que o Museu Calouste Gulbenkian vai apresentar a partir do dia 26 de outubro, na Galeria de Exposições Temporárias da Fundação. Em exposição vão estar mais de uma centena de obras, dos séculos XVI ao XX, provenientes de 51 instituições nacionais e estrangeiras, com o apoio excecional do Museu d’Orsay.

Partindo de uma sondagem histórica da representação visual do mar, a mostra procura identificar os temas fundadores que levaram à sua extensa e recorrente representação na pintura ocidental. A exposição desenvolverá o conceito que dá título ao projeto em seis secções distintas: A Idade dos Mitos; A Idade do Poder; A Idade do Trabalho; A Idade das Tormentas; A Idade Efémera; A Idade Infinita.

Van Goyen, Lorrain, Turner, Constable, Friedrich, Courbet, Boudin, Manet, Monet, Signac, Fattori, Sorolla, Klee, De Chirico, Hopper, são alguns dos 89 autores presentes na exposição com obras de superior qualidade. Também a pintura portuguesa, através de Henrique Pousão, Amadeo de Souza-Cardoso, João Vaz, Maria Helena Vieira da Silva e Menez, entre outros, contribuirá para esta abordagem exaustiva e por vezes inesperada de um motivo tão fascinante – e simultaneamente com especial significado na história e cultura portuguesas."
Texto  retirado do site da Fundação Calouste Gulbenkian - www.gulbenkian.pt/
 

Horário:  10.00h -20.00h (encerra à 2ª feira e nos feriados 25 de Dezembro e 1 de Janeiro)
Entrada : € 5.00

Esta é uma Exposição a não perder ...

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A não perder... Exposição retrospectiva de Salvador Dali

Salvador Dali, o mestre do surrealismo, regressa ao Centro Cultural Georges Pompidou, em Paris.
Mais de 30 anos separam esta, da primeira grande retrospectiva realizada ainda em vida do pintor e que continua a estar no top das exposições mais visitadas neste museu.

Esta exposição reune 200 obras oriundas de colecções particulares e de museus do mundo inteiro: são óleos, desenhos, fotografias, esculturas, filmes e instalações que pretendem mostrar as diversas facetas de Salvador Dali.
Segundo o comissário-geral, Jean Hubert-Martin, o objectivo desta nova retrospectiva é mostrar a riqueza da obra do artista, partindo sobretudo das suas pinturas extraordinárias e da sua ligação à fotografia e à perfomance como pioneiro do happening, sempre arrojado e inovador.
Logo à entrada da exposição pretende-se criar no visitante o "apetite" pela obra de Dali; assim o visitante entra no universo de Salvador Dali através de um ovo gigante com a fotografia do artista catalão em posição fetal.

Esta exposição decorrerá de 21 de Novembro de 2012 até 25 de Março de 2013, no Centro Cultural Georges Pompidou - Paris;
E seguirá para o Museu Reina Sofia - Madrid, onde estará patente de 24 de Abril a 2 de Setembro de 2013.

Para mais informações:
www.centrepompidou.fr/
www.museoreinasofia.es/

 
Esta é uma exposição a não perder ...

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Os trabalhos de Eva Afonso

 
Eva Afonso 
"The Gift"
2012
Óleo sobre tela - 40x60 cm
 
 
 
Pormenor

terça-feira, 27 de novembro de 2012

A Criança e a Arte

O mundo infantil é cheio de espontaneidade, imaginação, alegria e sonho ...
Que melhor do que a Arte para dar asas a esse mundo de "futuro"?
Nas mãos de uma criança uma folha branca, cheia de garatujas, é um universo de magia, uma explosão de alegria. Da garatuja desordenada ao desenho esquemático a criança desperta para o mundo.

É interessante notar como desenhos infantis podem ganhar preponderância num quadro, de modo a fazer do seu pequeno criador um verdadeiro artista.

 
Giovanni Francesco Caroto
"Rapaz com um desenho"
c. 1523
Óleo sobre madeira - 37x29 cm
Museu di Castelvecchio, Verona
 
 
 
Henrique Pousão
"Esperando o Sucesso"
1882
Óleo sobre tela - 131,5x83,5 cm
Museu Nacional Soares dos Reis, Porto
 
 
 
Estes dois quadros são exemplos em que o pintor, além de pintar o seu pequeno modelo, faz dele um verdadeiro artista, mostrando-o orgulhoso da sua obra.
 
São dois quadros  separados por alguns séculos, mas em que os pintores souberam captar a espontaneidade, a alegria e imaginação da arte infantil.
 
No quadro de Giovanni Francesco Caroto (c. 1480-1546) surge uma criança, de quem nada sabemos, é apenas uma criança ...
Este jovem rapazinho olha para o observador e mostra o seu desenho, com um sorriso alegre e malicioso, competindo com o próprio pintor. A representação parece um auto-retrato e a sua expressão de alegria demonstra como está satisfeito com a sua obra.
 
 
 
Também no quadro de Henrique Pousão (1859-1884) o pequeno modelo se torna artista.
O quadro mostra o interior de um atelier: as telas estão arrumadas ao fundo, à esquerda, sobre o pavimento repousam o caixote dos pincéis, a caixa das tintas e a paleta. No centro do quadro vemos o cavalete com um esboço desenhado do jovem modelo; a dada altura (talvez numa pausa da sessão) a criança salta para primeiro plano e mostra com ar travesso a sua garatuja, como quem diz: "também sou um artista !..."
Henrique Pousão valorizou o desenho do jovem modelo, iluminando o pedaço de papel onde aparece a sua "obra de arte".
 


 

 
A função da Arte na educação foi sendo relegada para um plano secundário, atendendo a que os decisores lhe atribuiram  sempre  um papel menorizado em relação às ciências ligadas ao conceito cognitivo. No entanto, sabe-se que as Artes não são matérias em que a criança descansa nas pausas do saber cognitivo, elas têm um papel primordial na formação integral do indivíduo.
  


segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Observando um Quadro ... de Jacques-Louis David - nº 24

 
 
 
Não se consegue compreender o quadro "O Juramento dos Horácios" de Jacques-Louis David sem os ventos de mudança da Revolução Francesa, por isso, nos posts anteriores tentei contextualizar esta obra.
 
Jacques-Louis David, através deste quadro, exortou os franceses a jurar fidelidade aos valores éticos: recusa do luxo, disciplina, sacrifício, empenho pessoal, responsabilidade civil, patriotismo ...  para derrubarem o "ancien régime" e , por isso,  tornou-se rapidamente o principal representante do "Classicismo revolucionário".
 
Jacques- Louis David
"O Juramento dos Horácios"
1784/85
Óleo sobre tela - 330x425 cm
Museu do Louvre Paris
 
 
Ao observarmos este quadro o nosso olhar é encaminhado para as mãos do pai, que seguram as espadas dos trigémeos Horácios. É para aí que confluem todas as linhas de fuga. Jacques-Louis David quis com esta composição colocar no centro da obra o símbolo do juramento de fidelidade a Roma.
 



A cena decorre num pátio pavimentado, tendo ao fundo três arcos sustentados por colunas austeras e robustas ao estilo toscano. A cada arcada fez corresponder um grupo compositivo: no arco da esquerda - os trigémeos Horácios; no central - o pai segurando as espadas; no da direita - as mulheres e as crianças.

Obra cheia de dramatismo e teatralidade, conseguidos através da atitude  das personagens e do uso do claro escuro. A luz entra pela esquerda, projectando  as sombras dos guerreiros e do pai sobre as mulheres. As personagens sobressaem sobre a escuridão do fundo dos arcos dando um matiz intenso e dramático ao quadro.

Os guerreiros:




O grupo da esquerda é formado pelos trigémeos.
Guerreiros, viris, dispostos em paralelo segundo a técnica do relevo romano.
Estas personagens assemelham-se as estátuas, usam trajes de combate  e estendem o braço direito, com a palma da mão voltada para baixo, em direcção às espadas, num juramento de fidelidade.




O pai:





Situado no centro da acção, para ele convergem todas as atenções. Segura as espadas, levantando-as ao alto e perante as quais é feito o juramento dos irmãos Horácios que põem a sua vida à disposição de Roma.
O pai veste uma túnica vermelha que realça a intensidade do juramento, pois subentende-se que muito em breve, no combate, será derramado sangue.


As mulheres:




Este pormenor pode ser considerado um quadro dentro do quadro, nele aparecem três mulheres sentadas,  desoladas, abatidas, contrastando claramente com a atitude enérgica dos homens.
Colocadas atrás da cena masculina, num ambiente mais recolhido e privado, demonstrando que ao homem está reservado o espaço público e às mulheres o privado.
As cores utilizadas nesta parte do quadro não são tão brilhantes, nela predominam  o branco do vestido de Camila Horácio, irmã dos trigémeos Horácios, o ocre, o cinzento e o castanho de Sabina Curiácio, esposa de um dos Horácios e o azul cinza das vestes de uma aia, que protege os filhos de Sabina. Neste conjunto a única cor mais viva é o verde do turbante de Camila.
 
 
 
 
 
 
 
As personagens:
 

As personagens apresentam-se com grande teatralidade, de um lado os homens de contornos rígidos e rectilíneos, numa atitude enérgica e militar, demonstrando virilidade. Os trigémeos e o pai apresentam-se da mesma altura, formando o seu conjunto um rectângulo, enquanto que as pernas dos irmãos e do pai formam triângulos.
 
 
 
 
 
 Do outro lado estão as mulheres em posições nada rígidas. Sentadas, desesperadas, abatidas face aos futuros acontecimentos históricos. Neste apontamento do quadro predominam as linhas curvas.

Uma das características da pintura neoclássica  é a diferenciação do espaço masculino do feminino. Aos homens está reservado o espaço público, a guerra e o trabalho, às mulheres o espaço privado, a intimidade, as tarefas domésticas e chorar os mortos.
 
 
 
 
 
É de referir a constância do número três nesta obra.
 
 
Ao fundo, no cenário, vemos três arcos, que dividem o quadro em três zonas: a dos irmãos , à esquerda, a do pai, ao centro e a das mulheres e das crianças, à direita. Além dos arcos, são também três  espadas, três irmãos, três mulheres...
 
Está patente, neste quadro,  uma tragédia em três actos assinalados pelas personagens  que sobressaem dos três arcos da arquitectura de fundo.
 
Primeiro acto - declaração de guerra dos irmãos Horácios;
Segundo acto - juramento de fidelidade a Roma perante o pai que eleva as espadas;
Terceiro acto - desespero das mulheres.
 
    
Esta obra foi encomendada pelo rei Luis XVI .
Jacques-Louis David executou-a em 1784/85 e foi exposta pela primeira vez em 1785. Pintada poucos anos antes da Revolução Francesa rapidamente é assimilada pelos revolucionários como um apelo muito claro à virtude cívica.
 

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O Juramento dos Horácios

Horácios e Curiácios

Verdadeira ou lendária a luta entre Horácios e Curiácios foi registada, no século I a. C., pelo escritor latino Tito Lívio na obra "Ab Urbe Condita" e séculos mais tarde recuperada pelo dramaturgo francês Pierre Corneille (1606-1684) na tragédia "Horace".


O pintor Jacques-Louis David pensou certamente neste episódio da História de Roma, quando escolheu para a sua obra "O Juramento dos Horácios" o momento em que os irmãos Horácios juram, perante o seu pai, a sua lealdade a Roma.



 
 
Temas como este, ligados à Antiguidade Clássica, foram tratados com frequência no século XVIII, principalmente no período da Revolução Francesa, pois foi aí que encontraram o modelo para uma nova sociedade revolucionária e republicana.
 
 
O episódio que esteve na base do tema deste quadro remonta a uma época muito remota.


E a história aconteceu há muitos anos.
Há tantos, que temos de recuar ao ano de 669 a. C. , quando no reinado de Tullus Hostilius, deflagrou uma guerra entre Roma e Alba Longa para disputarem o domínio da Itália Central.
Decidiu-se então, para evitar o derramamento de muito sangue e para salvar vidas de ambas as cidades, que a disputa se resolveria num combate mortal entre três irmãos romanos - os Horácios, e três irmãos albanos - os Curiácios, cujas famílias tinham relações familiares muito próximas.
Da luta travada entre os dois grupos resultou a morte de dois irmãos Horácios. Os albanos festejavam já a vitória, quando o terceiro romano, Publius Horacius fingiu fugir. 
Partem, então, os Curiácios em sua perseguição, decidindo a dada altura separar-se, seguindo um para cada lado, no encalce do adversário.
O astuto Publius Horacius conseguiu ludibriá-los, voltando para trás surprendendo-os quando estavam separados. Apanhando-os sós, eliminou-os um de cada vez.
Volta a Roma, atravessa as portas da cidade em triunfo, entre a aclamação do povo, mas ao chegar à praça principal encontra, entre a população, a sua  irmã Camila, que tinha ficado noiva de um dos irmãos Curiácios. Esta ao reconhecer o manto que o irmão trazia aos ombros, como sendo um que ela tinha feito para o seu amado, apercebeu-se da terrível verdade e começa a chorar.
Publius Horacius enfurece-se por a irmã derramar lágrimas por um inimigo, precisamente no momento em que comemorava a vitória de Roma. Então, de imediato desembainha a espada e mata-a, exclamando: "Assim morra todo aquele que chora um inimigo de Roma!".



As acções dos Horácios tornaram-se um símbolo do patriotismo romano, segundo o qual o Estado estava acima do indivíduo.
Jacques-Louis David pretendeu mostrar com a obra "O Juramento dos Horácios" que o cumprimento do dever está acima de qualquer sentimento pessoal, tal como o fizeram os três irmãos Horácios que juraram derrotar os inimigos ou morrer por Roma.
"A obra mostra uma cena da história romana, onde os cidadãos republicanos, na qualidade de homens livres, pegam em armas para decidirem eles o destino do Estado. Neste caso não são portanto reis ou condes que tomam as decisões, mas sim cidadãos que se empenham responsavelmente pelo bem da nação. Pouco antes da Revolução Francesa, um quadro deste tipo, só podia parecer uma revelação.
Os contemporâneos não tardaram a louvá-lo como sendo "o quadro mais belo do século". *

*Kraube, Anna-Carola - História da Pintura do Renascimento aos nossos dias, Colónia, Könemann, 2001 

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A pintura-manifesto de Jacques-Louis David

São difíceis os tempos que vivemos.
Mas não foi sempre assim?  (com pequenos intervalos) ?

O caminho parece que se abre aos nossos passos, cavando um fosso fundo... fundo... entre os que tudo podem e os que nada têm, entre os senhores capazes de decidir das suas e das vidas dos outros e aqueles que apenas devem obedecer aos desígnios traçados por aqueles.
E que desígnios?
Da honra, da lealdade ao estado, ao dever público acima dos interesses privados?
Não.
Agora, tal como na época vivida pelo pintor francês Jacques-Louis David (1748-1825), arquétipo do neoclassicismo, são difíceis os tempos para os que menos têm.

Este pintor, com o quadro " Juramento dos Horácios"



introduziu um novo género artístico - a pintura-manifesto moderna.

Jacques-Louis David foi buscar o seu modelo à Antiguidade, tal como o tinham feito os artistas do Renascimento, mas agora não reinterpretava apenas a Antiguidade, apoderava-se do seu vocabulário e conteúdo para poder exprimir o pensamento e a visão do mundo contemporâneo.
David, além de viver o período agitado após a Tomada da Bastilha (1789), foi responsável pelo planeamento de muitos acontecimentos políticos de carácter revolucionário.
Quase me atrevo a dizer que nenhum outro artista participou tão activamente nos acontecimentos políticos do seu país.
O quadro "Juramento dos Horácios" (1784-85) foi tomado como exemplo a seguir pelos revolucionários franceses - como um apelo muito claro à virtude cívica, ao empenho pessoal, à responsabilidade civil e ao patriotismo.
Jacques-Louis David teve um papel preponderante, tal como outros pintores do classicismo, no período que antecedeu a Revolução Francesa, na preparação  da nova época que se avizinhava: a chegada do iluminismo, a revolução industrial, o declínio dos regimes feudais absolutistas...
Esta mudança do ancien régime estava também plasmada nas artes: os motivos religiosos tendem a desaparecer completamente, a mitologia é substituída pela História, principalmente pela História da Antiguidade Clássica.

O "Juramento dos Horácios" é um manifesto do neoclassicismo francês, em que Jacques-Louis David exorta os franceses a jurar fidelidade aos valores éticos para derrubarem o Ancien Régime.
Quem tem a força e o poder não os querem largar, quem nada tem quer o seu quinhão à mesa e não apenas as migalhas que resvalam da toalha.
Sempre houve uma grande insensibilidade face às dificuldades daqueles que não têm que comer.
Que dizer da célebre frase de Maria Antonieta, quando bandos de esfomeados pediam pão: "Se não têm pão, comam brioche !"... ?
Aquilo que parece uma verdade imutável, nem sempre o é. O poder que o Rei recebia de Deus desapareceu quando a lâmina de uma qualquer guilhotina lhe cortou o real  pescoço.

Voltarei à obra "Juramento dos Horácios". Ela merece uma análise mais aprofundada.

domingo, 14 de outubro de 2012

Exposição de Pintura de Eva Afonso


 Exposição dos meus trabalhos no Centro Hospitalar Barreiro Montijo.


Exposição -  "Rumo ao Sul"






 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ficam convidados  a visitá-la de 15 a 31 de Outubro.
 
São bem-vindos! ...

domingo, 7 de outubro de 2012

Desafios ... Resposta - Jackson Pollock


Resposta ao desafio anterior:

Pintor - Jackson Pollock ( 1912-1956)


O americano Jackson Pollock nasceu em Cody, no estado de Wyoming, em 1912, sendo o mais novo de cinco irmãos.
Em 1930, foi para Nova Iorque com um dos seus irmãos (Charles Pollock) para estudar na Liga do Estudante de Arte, aí recebeu a orientação do mestre Thomas Hart Benton.
A personalidade de Pollock era instável, manifestando vários problemas com o alcoolismo, dos quais, apesar dos tratamentos que efectuou, nunca se libertou.
Morreu em 1956 num acidente de automóvel quando conduzia sob o efeito do álcool.

A Pintura de Pollock:

Apesar do mestre Thomas Hart Benton ter dado a conhecer a Pollock os grandes pintores da arte europeia, este nunca se orientou por eles, bem pelo contrário - quebrou as amarras com a pintura tradicional.
As ferramentas tradicionais do pintor foram abandonadas. Deixou de usar o cavalete para pintar, preferia estender a tela no chão. Usava telas de grandes dimensões, estendidas no chão, nas quais aplicava a tinta com métodos não convencionais: deixava cair a tinta na tela através de pingos e salpicos - técnica do "dripping" (gotejamento) - usando ripas de madeira, pincéis grossos ou mesmo seringas de pasteleiro ...
Ao quebrar com a tradição da pintura de cavalete e ao estender a tela no chão, aplicando a tinta a partir de todas as direcções, acrescentou uma nova dimensão à pintura.
Ao contrário da pintura tradicional, Pollock não usava apenas a mão e o punho, mas todo o  seu corpo era chamado para o acto de pintar. Este procedimento ficou conhecido pela designação de "Action Paiting", pintura de acção.

Afirmava: "No chão estou mais à vontade. Sinto-me mais perto da pintura, pois desta forma posso caminhar em redor, trabalhar dos quatro lados e literalmente estar na pintura" .

Era quase uma dança em redor e sobre a tela, em que o pintor fazia parte da pintura, controlando-a através de fluxos de tinta viscosa que a força da gravidade fazia cair sobre a tela.



Pollock a pintar


A "Action Paiting" mostra como para Pollock pintar era uma acção, não podendo prever qual seria o aspecto final da obra, por isso, tinha muitas dificuldades em tomar as decisões finais sobre o quadro: como por exemplo, por onde cortar as bordas da tela, qual o lado que ficaria voltado para cima. Detestava assinar os trabalhos porque isso era uma forma de acabamento da obra.

Este pintor, o mais importante representante do "expressionismo abstracto" americano, aconselhava os observadores dos seus quadros a  " ... tentar captar aquilo que o quadro tem para vos oferecer, em vez de tentar ver nele uma mensagem principal e a confirmação das vossas ideias preconcebidas".
Para ele o mais importante não era a mensagem que o quadro transmitia, mas sim aquilo que ele despertava no seu observador.

A obra "Mastros Azuis":


  
Jackson Pollock 
"Mastros Azuis"
1952
Tintas diversas sobre tela - 210x487 cm 
National Gallery, Camberra

 
O quadro "Mastros Azuis" é uma pintura de grandes dimensões (como Pollock gostava de fazer), rico de cores e com grande densidade de tinta.
A determinada altura quase que abandonou este quadro, porque pensou que não conseguia encontrar forma de o fazer "funcionar". O quadro tinha uma tal variedade de cores que ao olhar para ele não lhe encontrava harmonia ou ritmo naturais. Até que decidiu mergulhar em tinta azul peças de madeira de 5x10 cm de espessura e comprimi-las contra a tela pintada, formando oito "mastros azuis".
Assim, o quadro adquiriu a harmonia e o ritmo que lhe faltava, pois os "mastros" criaram a união da composição, dando-lhe sentido.
No entanto, Pollock continuou a trabalhar na tela, mesmo depois de juntar os mastros, basta olhar as manchas de tinta que colocou sobre eles.
 


"Quando pinto, não sei o que faço ... porque a pintura tem uma vida própria."
 
Jackson Pollock

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Desafio ...

Há algum tempo que não lanço desafios aos leitores deste blog.

Aqui fica mais um.

Espero que seja suficientemente desafiador para merecer o vosso interesse.

Aguardo que descubram o autor desta obra.



 
 
 
Valeu? Fico à espera.
 
 
 
 

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Clotilde - a mulher e musa do pintor Sorolla

Como escrevi no post anterior, está patente até dia 14 de Outubro, na Casa Museu Sorolla, uma exposição sob o título: "Clotilde de Sorolla".
Esta exposição mostra como a esposa de um pintor se pode tornar na sua musa.
São várias as obras retratando Clotilde García del Castillo, com quem Joaquín Sorolla  casou em Setembro de 1888. Clotilde era uma das filhas do seu protector Antonio García Peris, afamado fotógrafo valenciano.



A exposição decorre nas salas do 1º andar e está estruturada em 4 núcleos: a intimidade; a musa; a mulher do grande artista; e a fundação do museu. Nela são mostrados retratos individuais, cenas familiares, objectos pessoais, cartas e documentos; com esta selecção o Museu Sorolla pretende dar a conhecer a vida quotidiana de Joaquín Sorolla através da sua mulher e musa, Clotilde García del Castillo.


 
 
"Clotilde com vestido cinzento" - 1900
 
 
"Clotilde a estudar" - 1900
 


"Clotilde lendo o jornal"
 
 
 "Clotilde García del Castillo" - 1890


 

"A minha mulher e os meus filhos"
 


 
"Perfil de Clotilde" - 1884 e "Retrato de Clotilde"   
 
"Clotilde com cão e gato" 
 
 
 
 
"Clotilde com chapéu" - 1910
 
 
 
 
"Clotilde no jardim" - 1919/20 
 




"Clotilde com mantilha preta" - 1919 / 20





Joaquín e Clotilde viveram uma bela história de amor