... " Quero dormir e sonhar

um sonho que em cor me afogue:

verdes e azuis de Renoir

amarelos de Van Gogh." ...

António Gedeão
(1956)

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A não perder ... Exposição retrospectiva de Edward Hopper

Aproveito o título de um artigo da revista "Descubrir el Arte", nº159 de Maio de 2012, sobre a Exposição de obras de Edward Hopper, no Museu Thyssen Bornemisza, Madrid:

"Hopper - o Amigo Americano aterra em Madrid"
 


Esta exposição está a entrar na recta final, pois vai estar patente até ao dia 16 de Setembro.
A mostra reune 73 obras divididas em dois núcleos que pretendem mostrar a evolução do trabalho de Edward Hopper.
O primeiro núcleo mostra o período da sua formação ( 1902-1924), com esboços, desenhos, gravuras, aguarelas e ilustrações, mostram-se também algumas peças de outros artistas que influenciaram a sua obra;  o segundo centra-se na sua fase mais madura, apresentando obras que mostram os motivos e os assuntos recorrentes do seu trabalho, seguindo um fio cronológico.
 
 
Edward Hopper
"Quarto de Hotel"
1931
Óleo sobre tela - 152,4x165,7 cm
Fundação Thyssen-Bornemisza
 
 
 
Após Madrid, esta exposição segue para Paris, onde vai estar patente no Grand Palais de 10 de Outubro a 28 de Janeiro de 2013.
 
Esta é uma Exposição a não perder ...
 
 


domingo, 26 de agosto de 2012

Tempos de transição - Aurélia de Sousa


 Aurélia de Sousa  (1866 - 1922)


Interesso-me há alguns anos pela obra de Aurélia de Sousa ( 1866-1922).

Aurélia de Sousa nasceu em Valparaíso, no Chile, em 1866. Filha de pai português e mãe de ascendência espanhola, veio com 3 anos para Portugal. A família radicou-se no Porto, onde adquiriu a Quinta da China, situada na margem  norte do rio Douro. Foi nesta cidade que cresceu, iniciou a sua formação artística e desenvolveu a sua carreira de pintora.
Recebeu uma educação de acordo com os cânones da época: aprendeu línguas, piano, desenho e pintura, assim como as tradicionais actividades domésticas como a culinária e o bordado. Mas eram o desenho e a pintura que mais a cativavam.
Caetano Moreira da Costa Lima, seu professor particular de Desenho e Pintura, a certa altura afirmou: " Nada a ensinar-lhe! É melhor mandá-la para a Escola de Belas-Artes".
Em 1893, aos 27 anos, ingressou na Academia portuense de Belas Artes.
A sua formação artística decorreu entre a Academia portuense de Belas- Artes e a Académie Julian, de Paris, mas alargou-a com inúmeras viagens que realizou pela Europa.
Amante das viagens e do turismo cultural, visitou muitos museus e pinotecas, assim como muitos locais artísticos, mas foi a Itália, principalmente Veneza, que lhe provocou o "reboliço do seu cérebro" devido ao "pouco tempo para visitar tanta arte". (Oliveira, Maria João, Aurélia de Sousa em contexto, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2006)

Em 1901 regressou a Portugal, montou um atelier na Quinta da China, onde exerceu a sua actividade artística.

A sua obra abrange vários temas:
- o retrato ( onde se destacam os auto-retratos, numa procura de si própria);
- as cenas do quotidiano e de interiores;
- a paisagem ( a partir da Quinta da China o seu olhar espraiava-se pelo rio Douro e pelo lugar do Areinho que pintou com frequência);
- a natureza-morta;
- e a pintura histórica ligada à religião e à mitologia.

Algumas obras de Aurélia de Sousa:

Retrato

 
 


Auto-retrato
c.1897
Óleo sobre tela - 67,5x47 cm
Colecção José Calado de Souza
Porto



 
Auto-retrato
c.1900
Óleo sobre tela - 45x 36 cm
Museu Nacional Soares dos Reis
Porto
 
 
Paisagem
 
 
 
 
Margens do Douro
1905
Óeo sobre tela - 66,5x80,5 cm
Fundação Casa de Bragança / Paço Ducal de Vila Viçosa
 
 
 
Balaustrada da Quinta da China
Óleo sobre cartão - 37,4x57,8 cm
Casa Museu Marta Ortigão Sampaio
Câmara Municipal do Porto
 
 
Natureza - Morta
 
 
Sem Título ( Serviço de Chá)
Óleo sobre tela
Colecção particular
 
 
Pintura histórica ligada à religião e à mitologia
 
Deste tema, admiro particularmente a obra "Jesabel devorada pelos cães por ordem de Jehu"
1911
Óleo sobre tela - 25,5x33,7 cm
Museu Soares dos Reis
 Porto
 
Tenho pena de não poder mostrá-la neste post, mas não consegui nenhuma fotografia com qualidade para ser mostrada.
Neste quadro Aurélia de Sousa usa uma pincelada enérgica e uma mancha cromática que a faz ser uma artista de transição do século XIX para o XX.
 
 
 
Cenas do quotidiano  e de interiores
 
 
 
Cena Familiar
Óleo sobre tela - 56x46 cm
Museu Nacional Soares dos Reis
Porto
 
 
A sopa dos pobres
Óleo sobre tela - 37,6x45 cm
Câmara Municipal de Matosinhos
 
 
Este último quadro revela uma grande modernidade no tratamento da cor e no volume das figuras sem rosto. É uma obra realizada à maneira de esboço, com uma pincelada solta e impressiva.
 
Este quadro, além da modernidade no tratamento pictórico, tem um tema muito actual, pois o aumento da pobreza, nos nossos dias, fez recrudescer o número de pessoas que utilizam "A Sopa dos Pobres".
Os tempos em que viveu Aurélia de Sousa não estão tão longe, como parece, dos nossos.
Em 1917 foi criada, em Lisboa, a "Sopa dos Pobres" por iniciativa do jornal " O Século"  e de diversas Juntas da Paróquia de Lisboa; no ano de 2012, por iniciativa do Ministério da Solidariedade e da Segurança Social foram assinados centenas de contratos com várias instituições sociais para criarem as "Cantinas Sociais".
Ter locais onde os mais necessitados tenham acesso a refeições quentes é importante, mas melhor, muito melhor seria que não houvesse necessidade de os abrir.
 
Não me importava nada que os pintores não tivessem este tema para tratar, como o fez Aurélia de Sousa.
 
 



domingo, 19 de agosto de 2012

Verão - Tempo de Felicidade - e a arte de Matisse

Saint-Tropez é hoje local de férias de reis e rainhas, de banqueiros e armadores, de estrelas da música pop ou da 7ª arte, mas nem sempre foi assim ...
Quando, no Verão de 1904, Henri Matisse a visitou era uma aldeia desconhecida ... um lugar paradisíaco, onde se vivia em verdadeira comunhão com a natureza.
As sucessivas viagens de Matisse ao Sul da França fizeram-no descobrir a luz mediterrânica, que irá dominar toda a sua obra.

O primeiro contacto que este pintor teve com esta luz foi no início de 1898, numa estada na Córsega e que depois se repetiu em visitas a Saint-Tropez e a Collioure, um pequeno porto da Catalunha francesa.
Estes encontros com a luz do Mediterrâneo influenciaram-no na cor e na pincelada.
Matisse, tal como aconteceu com van Gogh e muitos outros pintores do Norte, deslumbrou-se com a alegria do Sol do Midi, mas soube controlar esse deslumbramento, filtrando-o através da pintura de cortinas e persianas semi-cerradas que dão ao interior das casas frescura, ao contrário de muitas estradas escaldantes eternizadas nos quadros de van Gogh.

Muitos quadros de Henri Matisse, expostos no Salão de Outono de 1905, são deste período de descoberta da luz mediterrânica, mas desencadearam uma crítica feroz na imprensa e na opinião pública. O crítico de arte Vauxcelles apelidou os artistas que expuseram neste Salão de "fauves" - "feras". Este epíteto foi usado devido às cores expressivas e ao traço selvagem e desenfreado utilizado por estes pintores.
Os fauvistas deram plenos poderes à cor, emanciparam a cor face à realidade. Matisse definia o fauvismo como a "procura da intensidade da cor, sendo a matéria indiferente", mas acrescentava que o fauvismo não se resumia ao emprego das cores puras, o importante era colocar-se longe das cores de imitação e através do uso das cores puras conseguir reacções mais fortes.
Henri Matisse utilizou o fauvismo como uma etapa do seu trabalho, sabendo tirar partido das experiências vividas, indo mais longe e conseguindo, entre 1906 e 1917, aprofundar as suas investigações sobre a cor e executar obras extremamente originais.

Uma das suas obras mais célebres deste período intitula-se: "Felicidade da Vida"


Henri Matisse
"Felicidade da Vida" ou "A Alegria de Viver"
1905-1906
Óleo sobre tela - 241x175 cm
Merion,
Pensilvânia, Barnes Foundation


Escolhi este quadro de Matisse, para ilustrar este tempo de veraneio, do "dolce fare niente", do descanso e de felicidade, que os homens do centro e norte da Europa tanto apreciam para fazer férias. Como "invejam" e gostariam de ter esta luz mediterrânica! Mas não nos queiram mal por esta abençoada luz...

Na obra "Felicidade da Vida", Matisse recupera a utilização da paisagem pastoral, utilizando cores brilhantes (típicas dos fauvistas) e linhas serpenteadas (da Arte Nova).

Pinta dezasseis figuras numa paisagem idílica.
Estas personagens estão felizes.

Neste quadro sente-se a " nostalgia de um paraíso perdido onde não existem nem trabalho nem obrigações, nem vestuário nem tristeza. As personagens nuas sonham, dançam, tocam gaita, colhem flores, enlaçam-se ou, simplesmente, gozam a sua beleza e a beleza do mundo. A cor, sempre resplandecente, está desta vez repartida por vastos planos, apenas animados, aqui e ali, por certos acentos, como os traços que figuram a relva no primeiro plano.
Os ritmos são fortemente marcados por longas sinuosidades que indicam os troncos das árvores e as grandes massas das folhagens que se unem em abóbada por cima da cena, como pelo contorno dos corpos rodeados de linhas insistentes. Pela primeira vez, estas linhas do contorno das figuras afastam-se deliberadamente da verdade anatómica para se sujeitarem à organização geral do quadro, reagindo umas em relação  às outras. Não se pode omitir certo maneirismo para algumas figuras e peso para outras. Por fim, nota-se que vários rostos são sugeridos por uma simples oval, sem indicação de olhos, de nariz ou de boca, abreviação extrema a que Matisse recorrerá de novo no fim da sua carreira." *

O quadro " Felicidade da Vida" provocou sensação quando foi exposto pela primeira vez em público em 1906, e hoje como seria?  Que "pecado" haverá em os povos do Mediterrâneo aspirarem a ser felizes?

* Guichard-Meli, Jean - "Matisse", Editorial Verbo, Mem-Martins, 1983

domingo, 12 de agosto de 2012

O Verão - Giuseppe Arcimboldo

Após  alguns dias da ausência volto ao contacto com todos aqueles que me derem o prazer da sua visita a este blogue.
Obrigada !
São nestes dias longos, longos de luminosidade, pois o solstício de Verão os torna assim tão duradouros, que parece que o tempo não tem tempo.

Eram esses longos dias de Verão, que pareciam não ter fim, que eu adorava assim que terminavam as aulas.
Maravilhosas férias grandes!
 Era o tempo do sol escaldante, da fruta madura e doce, dos figos colhidos bem cedo, das uvas de tão doces, picavam na garganta, das maçãs que perfumavam as casas, das amoras silvestres que, encostadas aos muros de pedra solta, presenteavam quem  passava…

O Verão é assim, tempo de prazer .
Não será por isso que o escolhemos para férias?


Giuseppe Arcimboldo
"O Verão"
1573
Óleo sobre tela - 76x64 cm
Museu do Louvre, Paris

E o Verão chegou!

Mas Giuseppe Arcimboldo, autor deste quadro, não se extasiou apenas com o Verão, pois pintou um conjunto  de quatro quadros sobre as quatro estações do ano.

O tema foi várias vezes repetido por este pintor para a corte imperial de Viena e Praga.
Giuseppe Arcimboldo (1527-1593) nasceu e faleceu na cidade de Milão. Iniciou a sua formação artística junto do seu pai, tornando-se depois conhecido pelos trabalhos que realizou na catedral de Milão.
Em 1562 foi para Praga a convite de Fernando I, para retratar a família imperial.
É precisamente ao serviço de Fernando I que Arcimboldo iniciou a sua série das quatro estações (1563), apresentando um estilo original e completamente surpreendente. São imagens curiosas, por vezes bizarras, alegorias descritas pelo historiador de arte italiano Giovanni Paolo Lomazzo (L'Idea del Tempio della Pittura, Milão, 1590) como" teste composte" (cabeças compostas) pela justaposição de frutos, flores, legumes, vegetais, peixes e até mesmo livros ou um canhão.
Nestas "cabeças compostas", os elementos são pintados individualmente, é uma pintura exacta de frutos, flores e objectos, podendo considerar-se uma pintura com características de natureza-morta.
Giuseppe Arcimboldo pintou a sua primeira série das quatro estações em 1563 e ofereceu-a a Maximiliano II em 1569. Deste conjunto original restam apenas o Inverno e o Verão, expostos em Viena.
Das várias versões a que ficou mais conhecida é aquela que se encontra no Museu do Louvre e a que pertence o quadro acima apresentado. Foi executada a pedido do Imperador  Maximiliano II para oferecer ao Eleitor Augusto da Saxónia. Esta versão distingue-se da primeira porque Arcimboldo lhe acrescentou uma moldura floral.
Arcimboldo eternizou a passagem do tempo nas quatros estações do ano:
O Inverno grotesco, cheio de ramos despidos, adornado por ácidos limões; a Primavera florida e alegre numa face jovem; o Verão de rosto robusto, onde sobressaem a abundância das espigas de trigo; e finalmente o Outono que irrompe   de umas tábuas, fazendo lembrar as pipas, ou não fosse o Outono o tempo das vindimas... 

Inverno

Primavera

Outono
Mas foi o Verão, de doces frutos maduros, que me trouxe até  Giuseppe Arcimboldo!