... " Quero dormir e sonhar

um sonho que em cor me afogue:

verdes e azuis de Renoir

amarelos de Van Gogh." ...

António Gedeão
(1956)

quarta-feira, 30 de março de 2011

Por que gostamos de uma obra de arte?

Neste post quero deixar-vos um pensamento de Thomas Mann:

" Qualquer produto intelectual de valor que se pretende surta um efeito imediato, vasto e profundo, tem de conter uma secreta harmonia, uma afinidade mesmo entre o destino pessoal do autor e o destino da generalidade dos seus contemporâneos.
As pessoas não sabem por que razão atribuem fama a uma obra de arte.
Longe de serem "connaisseurs", julgam descobrir nela uma centena de virtudes para justificar tal apreço; mas o verdadeiro motivo do seu aplauso imponderável - é a simpatia."
Thomas Mann, in "Morte em Veneza"

Boas Reflexões !!!

quarta-feira, 23 de março de 2011

"Os Esposos Arnolfini" - Jan van Eyck

Gostaria de continuar com a análise da obra "Os Esposos Arnolfini" de Jan van Eyck.

Quantos enigmas pode encerrar um quadro ...

Quantas interpretações podem ser apresentadas ...

Este duplo retrato foi encomendado por um rico mercador italiano, Giovanni Arnolfini, ao já prestigiado pintor flamengo Jan van Eyck.
Este mercador estabeleceu-se na cidade de Bruges (Flandres), em 1420, atraído pelas possibilidades comerciais desta zona do Norte da Europa.
Arnolfini adquiriu uma extraordinária riqueza, da qual este quadro é um reflexo, integrou-se bem na sociedade flamenga e ocupou altos cargos na corte de Filipe o Bom.

Segundo Erwin Panofsky (historiador de Arte) esta obra seria a celebração do casamento de Giovanni Arnolfini com Giovanna Cenami e a demonstração do seu poder e riqueza.



Outra interpretação fala-nos de um possível exorcismo, ou cerimónia para recuperar a fertilidade, visto que Arnolfini e sua esposa não tiveram filhos.

Em 1990, o investigador francês Jacques Paviot descobriu no arquivo dos duques de Borgonha um documento do casamento de Giovanni di Arrigo Arnolfini datado de 1447. Se atentarmos na data inscrita no quadro - 1434, este não pode comemorar o seu casamento.

Além disto a descoberta que o modelo do esposo, neste quadro, não era Giovanni de Arrigo Arnolfini, mas sim o seu irmão Giovanni de Nicolao Arnolfini leva à reavaliação desta pintura. Poderá continuar a ter uma função comemorativa, mas foi encomendada para comemorar o primeiro aniversário da morte de Constanza Trenta, esposa de Giovanni di Nicolao Arnolfini, morta em 1433.

domingo, 20 de março de 2011

Desafios ... Resposta: Jan Van Eyck

Van Eyck com o quadro "Os Esposos Arnolfini" antecipa três futuros géneros da pintura: o retrato de corpo inteiro, o interior e a natureza morta.
Retrato - Esta obra é, sem dúvida, uma das contribuições mais importantes de Van Eyck no campo do retrato de um tema não hagiográfico.
Representa um dulpo-retrato, o casal Arnolfini.
O casal aparece em primeiro plano, de pé, sumptuosamente vestido. O marido estende a mão esquerda, onde se apoia a mão da mulher e levanta a direita num gesto de promessa, como a bendizer a esposa.


Jan van Eyck
"Os Esposos Arnolfini"
Óleo sobre madeira - 81,8x59,7 cm
1434
Londres, The National Gallery

Interior - É também uma cena de interior, em que Van Eyck nos abre a porta do interior de um quarto nupcial. Do lado direito está o leito com dossel coberto de panos vermelhos, e do lado esquerdo aparece, rasgada na parede, uma janela por onde entra suavemente a luz do dia que ilumina em cheio o rosto da mulher(o que nos traz à memória as pinturas de Vermeer).
Entre as personagens ergue-se uma linha central e vertical que começa no cão, passa pelo banco e mãos dos esposos, prossegue pelo espelho e assinatura do pintor e termina no lustre preso ao tecto.
O ponto de fuga, marcado pelo mobiliário,janela,tábuas do soalho e traves do tecto prolonga-se pelo espelho convexo, que é o elemento mais arrojado e inovador nesta obra.

Nele estão reflectidos não só o casal visto de costas, como mais duas personagens, uma das quais um auto-retrato de Van Eyck. Estas personagens assistem ao evento, partilhando o nosso espaço de observadores. Este artifício foi mais tarde usado por Velázquez em "As Meninas".

Natureza morta - Os socos de madeira, abandonados no lado esquerdo sobre o chão, também de tábuas de madeira, são uma verdadeira natureza morta.



Neste quadro os objectos colocados parecendo por casualidade têm uma interpretação simbólica. Os artistas do século XV representam muitos símbolos camuflados por objectos do quotidiano.

O espelho convexo - impecável (speculum sine macula) é o símbolo da pureza da Virgem e mostra a cena numa perspectiva inversa, em que podemos ver o casal por trás e ao mesmo tempo duas personagens, que assistem à cerimónia nupcial como testemunhas (naquela época não era necessário um sacerdote). O espelho é fundamental para mostrar a presença destas testemunhas, uma das quais seria o próprio pintor, vestido de azul.



E para que não houvesse dúvidas, na parede por cima do espelho, Van Eyck colocou a seguinte inscrição: "Johannes de Eyck fuit hic. 1434" ( Jan van Eyck esteve aqui. 1434).
A assinatura pode ter tido a função de testemunho de um acto solene - uma acta matrimonial.



O espelho colocado em lugar central apresenta uma moldura que exibe cenas da Paixão de Cristo e tem à esquerda, suspenso na parede, um rosário de contas de cristal, símbolo de pureza.Naquela época era comum o noivo oferecer à futura esposa um rosário, fazendo-lhe lembrar a necessidade de preservar a oração.



As frutas colocadas sobre a arca e o parapeito da janela evocam o estado imaculado que precede o pecado.



As laranjas não existiam no Norte da Europa, eram importadas do Sul. Conhecidas como maçãs do Éden estão neste quadro para lembrar que os filhos de Eva foram expulsos do paraíso por pecarem.

Os socos (os dela junto à cama e os dele em primeiro plano à esquerda) lembram-nos que o lugar é sagrado e alude a uma ideia de fertilidade.




Também as cores utilizadas têm um valor claramente simbólico: o verde do vestido da esposa é símbolo de fertlidade e os panejamentos vermelhos do leito nupcial alude à paixão.

A inclusão do cão aos pés dos noivos é mais um símbolo mas que alude à fidelidade.



Reparemos agora no lustre que, embora o quarto esteja banhado pela luz do dia, mantém uma vela acesa como símbolo do mistério de que Cristo tudo vê, e ao mesmo tempo representa a chama do amor que se pode consumir.



sexta-feira, 4 de março de 2011

Desafios ...

Este é um desafio fácil para todos os amantes de pintura.
É o quadro mais célebre de um pintor flamengo.




Atreva-se!

Qual o pintor?

Ah! Já agora, o título do Quadro?

Desculpem não poder dar prémio aos vencedores, mas o quadro encontra-se em Londres na National Gallery.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Observando um quadro ... de Matisse - nº 14


Henri Matisse
"Conversa"
Óleo sobre tela - 177x217 cm
Colecção Schukin, Moscovo,
posteriormente no Museu Estatal de Arte Moderna Ocidental de Moscovo;
no Ermitage desde 1948

Embora não seja, talvez, uma das obras mais conhecidas de Henri Matisse (1869-1954), é provavelmente a mais inquietante. A composição e a cor captam o olhar do observador.
"Sinto através da cor..."
Neste quadro Matisse "eterniza" uma conversa entre duas personagens que ladeiam uma janela que rasga uma parede azul, azul muito forte e que deixa ver a paisagem exterior, de cores joviais. Muito interessante é o desenho do varandim que, com as suas linhas curvilíneas, separa o espaço interior do exterior.
À direita está uma mulher sentada com um vestido de forte contraste cromático com a parede. À esquerda surge um homem, de pé, recortado sobre o fundo, dominando a mulher com a posição pronunciada de verticalidade.
Estas duas personagens mantêm uma conversa, apesar de separados pela janela.
Esta obra apresenta uma composição equilibrada na disposição das figuras que criam entre si harmonia e dissonância.

É um quadro interessante de Matisse, que foi um pintor que passou brevemente pelo pontilhismo e a partir de 1901 partilhou as pesquisas dos Fauves sobre a cor, mas que manteve uma linguagem extraordinariamente expressiva acima de qualquer mudança de gosto e de estilo.