A pintora Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992), que se naturalizou francesa em 1952 e foi galardoada com o Grande Prémio Nacional das Artes, do Governo francês, tem , desde o passado sábado, uma placa com o seu nome na casa onde viveu e trabalhou em Paris, no número 34 da rua de l’Abbé Carton, no XIV bairro da cidade.

Fonte: Público

O Testamento de Vieira da Silva

Eu lego aos meus amigos
Um azul cerúleo para voar alto.
Um azul cobalto para a felicidade.
Um azul ultramarino para estimular o espírito.
Um vermelhão para o sangue circular alegremente.
Um verde musgo para apaziguar os nervos.
Um amarelo ouro: riqueza.
Um violeta cobalto para o sonho.
Um garança para deixar ouvir o violoncelo.
Um amarelo barife: ficção científica e brilho; resplendor.
Um ocre amarelo para aceitar a terra.
Um verde veronese para a memória da primavera.
Um anil para poder afinar o espírito com a tempestade.
Um laranja para exercitar a visão de um limoeiro ao longe.
Um amarelo limão para o encanto.
Um branco puro: pureza.
Terra de siena natural: a transmutação do ouro.
Um preto sumptuoso para ver Ticiano.
Um terra de sombra natural para aceitar melhor a melancolia negra.
Um terra de siena queimada para o sentimento de duração.

Vieira da Silva





Vieira da Silva
"A cidade suspensa"
1952
Óleo sobre tela
Musée des Beaux-Arts
Lille, França




Vieira da Silva
"A biblioteca em fogo"
1974
Óleo sobre tela, 158x178 cm
Colecção CAM - Fundação Calouste Gulbenkian,
Lisboa