... " Quero dormir e sonhar

um sonho que em cor me afogue:

verdes e azuis de Renoir

amarelos de Van Gogh." ...

António Gedeão
(1956)

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A pintura-manifesto de Jacques-Louis David

São difíceis os tempos que vivemos.
Mas não foi sempre assim?  (com pequenos intervalos) ?

O caminho parece que se abre aos nossos passos, cavando um fosso fundo... fundo... entre os que tudo podem e os que nada têm, entre os senhores capazes de decidir das suas e das vidas dos outros e aqueles que apenas devem obedecer aos desígnios traçados por aqueles.
E que desígnios?
Da honra, da lealdade ao estado, ao dever público acima dos interesses privados?
Não.
Agora, tal como na época vivida pelo pintor francês Jacques-Louis David (1748-1825), arquétipo do neoclassicismo, são difíceis os tempos para os que menos têm.

Este pintor, com o quadro " Juramento dos Horácios"



introduziu um novo género artístico - a pintura-manifesto moderna.

Jacques-Louis David foi buscar o seu modelo à Antiguidade, tal como o tinham feito os artistas do Renascimento, mas agora não reinterpretava apenas a Antiguidade, apoderava-se do seu vocabulário e conteúdo para poder exprimir o pensamento e a visão do mundo contemporâneo.
David, além de viver o período agitado após a Tomada da Bastilha (1789), foi responsável pelo planeamento de muitos acontecimentos políticos de carácter revolucionário.
Quase me atrevo a dizer que nenhum outro artista participou tão activamente nos acontecimentos políticos do seu país.
O quadro "Juramento dos Horácios" (1784-85) foi tomado como exemplo a seguir pelos revolucionários franceses - como um apelo muito claro à virtude cívica, ao empenho pessoal, à responsabilidade civil e ao patriotismo.
Jacques-Louis David teve um papel preponderante, tal como outros pintores do classicismo, no período que antecedeu a Revolução Francesa, na preparação  da nova época que se avizinhava: a chegada do iluminismo, a revolução industrial, o declínio dos regimes feudais absolutistas...
Esta mudança do ancien régime estava também plasmada nas artes: os motivos religiosos tendem a desaparecer completamente, a mitologia é substituída pela História, principalmente pela História da Antiguidade Clássica.

O "Juramento dos Horácios" é um manifesto do neoclassicismo francês, em que Jacques-Louis David exorta os franceses a jurar fidelidade aos valores éticos para derrubarem o Ancien Régime.
Quem tem a força e o poder não os querem largar, quem nada tem quer o seu quinhão à mesa e não apenas as migalhas que resvalam da toalha.
Sempre houve uma grande insensibilidade face às dificuldades daqueles que não têm que comer.
Que dizer da célebre frase de Maria Antonieta, quando bandos de esfomeados pediam pão: "Se não têm pão, comam brioche !"... ?
Aquilo que parece uma verdade imutável, nem sempre o é. O poder que o Rei recebia de Deus desapareceu quando a lâmina de uma qualquer guilhotina lhe cortou o real  pescoço.

Voltarei à obra "Juramento dos Horácios". Ela merece uma análise mais aprofundada.

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