Ernest Rebel escreveu em "Auto-retratos" (Taschen - 2009) que "Os auto-retratos são testemunhos em que o ego do artista como seu modelo e motivo se relaciona simultaneamente com outras pessoas. Os artistas representam-se a si próprios como querem ser vistos pelos outros, mas também porque querem distinguir-se deles".
A partir do século XIX, com a invenção e utilização da máquina fotográfica, os pintores deixaram de ter como objectivo principal pintar-se de acordo com o retrato fotográfico, mas passaram a querer transmitir mais os "estados de alma".
O pintor Vincent Van Gogh (1853-1890) foi um dos pintores que utilizou de forma mais prolífera a pintura de auto-retratos como método de introspecção.
Este artista pintou-se de modo muito honesto, retratando-se não de forma idealizada, mas mostrando-se um homem à procura de respostas, transmitindo através dos seus olhos muita dor, perturbação e intranquilidade.
A frase em que Nietzsche afirma que o rosto humano é "o espelho da alma" parece estar "espelhada" nos auto-retratos de Van Gogh.
Este pintor foi um dos artistas que mais se debruçou sobre a sua própria imagem, (entre 1886 e 1889 pintou mais de 30 retratos), estudando-a, reproduzindo-a, mostrando através dela não só o seu declínio psicológico, mas também a sua técnica.
Há ainda a salientar que Van Gogh não tinha dinheiro para pagar a modelos para posar, por isso pintava-se, tendo como objectivo desenvolver a sua técnica e as suas competências como artista. Numa das muitas cartas que escreveu ao seu irmão Theo afirmou: " Eu comprei, de propósito, um espelho suficientemente bom que me permita trabalhar,na falta de um modelo, a partir da minha imagem. Porque se eu conseguir pintar o meu retrato,o que não deve ser feito sem alguma dificuldade, devo ser igualmente capaz de pintar os donos de outras boas almas, homens e mulheres".
Usou assim o seu próprio reflexo, encontrando uma forma prática e barata de pintar retratos, legando-nos uma autobiografia visual artística.
Por que não escrever sobre alguns destes auto-retratos?
Fica prometido!
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