
José Ribera
"A mulher barbuda"
(A estranha napolitana Magdalena Ventura)
Casa Ducal de Medinaceli, Toledo
Há quadros que prendem o meu olhar, despertam as minhas emoções pela beleza, pela cor, pelo movimento, pela pincelada, pela energia, pelo ... pelo insólito.
É o caso deste quadro, um dos mais insólitos da pintura europeia do século XVII e que constitui um caso à parte na obra de José Ribera (1591-1652), um dos pintores mais importantes da escola espanhola.
Foi encomendado pelo Vice-rei D. Fernando Afan de Ribera y Enriquez (1570-1637) para ser oferecido ao Rei D. Filipe III, como testemunho deste caso invulgar. Actualmente encontra-se depositado no Hospital Tavera de Toledo, sede da Fundação Casa Ducal de Medinaceli.
O imenso talento e virtuosismo de José de Ribera conseguiu, a partir de uma cena que não tem harmonia nem beleza, criar uma obra de arte espantosa em que é retratada a situação dramática de Magdalena Ventura, uma mulher de 52 anos que sofria de hirsutismo, amamentando o seu filho, com o seu segundo marido Felici de Amici, triste e conformado.
Consta que a sua doença, provocada pela produção excessiva de hormonas masculinas nos ovários ou nas glândulas supra-renais, surgiu-lhe subitamente aos 37 anos quando começou a ter barba e bigode. Foi mãe sete vezes, três antes do aparecimento da doença e quatro depois, casou duas vezes.
Neste quadro é notória a influência do "mestre das trevas", Caravaggio, em que as figuras surgem misteriosamente da escuridão, recortadas pela luz que incide sobre elas. A pincelada é rigorosa, não há pormenor que seja ignorado.
É um quadro de grande valor documental, do qual são conhecidas duas cópias, uma de pequenas dimensões depositada no palácio de La Granja e outra da Colecção Ruiz de Alda em Madrid.
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