... " Quero dormir e sonhar

um sonho que em cor me afogue:

verdes e azuis de Renoir

amarelos de Van Gogh." ...

António Gedeão
(1956)

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Observando um Quadro ... de Goya- nº 18

Hoje, segundo a tradição, comemora-se a Noite das Bruxas e mesmo para aqueles que não acreditam nelas, há que ter em conta a velha frase popular da Galiza "eu non creo nas meigas, mais habelas hainas" - ( eu não acredito em bruxas, mas elas existem).
Não sei se Goya acreditava nelas, mas que as pintou, pintou ...

Francisco Goya (1746/1828), durante a sua longa vida, testemunhou um dos períodos mais conturbados da História da Europa. Viveu uma época marcada pelas ideias iluministas, pela Revolução Francesa e pelas Guerras Napoleónicas.
Entre 1808 e 1814 assitiu aos horrores da Guerra Peninsular, quando as tropas de Napoleão Bonaparte invadiram a Espanha, depõem o rei e o substituem pelo seu irmão José Bonaparte.
São deste período algumas das pinturas mais dramáticas de Goya.
Já antes da Revolução Francesa e das campanhas napoleónicas muitos artistas "agarraram" em temas relacionados com a morte, mas Francisco Goya foi, talvez, um dos mais arrojados quer nos temas que escolheu, quer na forma como os tratou.

Goya, após prolongada doença, passou de "pintor da corte" a "pintor político" e "crítico social" e as suas obras deixaram de transmitir apenas o mundo exterior em que vivia, para passar a revelar também as visões e os pesadelos que existiam no seu pensamento.
Em 1799 publicou uma série de 80 gravuras a água-forte intitulada "Caprichos" - palavra que está relacionada com fantasias pessoais e extravagâncias - que Goya caracterizava como caricaturas que não pretendiam atacar ninguém (esta era certamente uma forma de se defender e proteger de ataques jurídicos). Mas é precisamente através destas gravuras que Goya se dá a conhecer como apoiante das ideias iluministas.

Mas a par das gravuras perturbadoras da série "Caprichos" pintou também telas representando feitiçarias, assassinatos e a loucura.

O quadro "Bruxas no Ar" faz parte desse período do pintor.



Francisco Goya
"Bruxas no Ar"
Óleo sobre tela - 43,5x31,5 cm
1797-1798
Madrid, Colecção Jaime Ortiz Patiño

Neste quadro Goya pinta bruxas que se elevam enquanto sugam o sangue de alguém moribundo ou já morto. No solo um homem cobre a cabeça com um pano branco e faz "figas" com os dedos para afastar os maus espíritos, enquanto outro, aterrorizado, deitado no chão, protege a cara com as mãos para não ver a cena.

Esta noite das Bruxas sugeriu-me a apresentação deste quadro de Goya.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Saturno de Goya e de Vik Muniz

No Museu do Prado, Madrid, encontra-se uma pintura que me causa alguma perplexidade - a obra "Saturno" de Francisco Goya.


Francisco Goya
"Saturno"
Óleo sobre tela - 146x83cm
1820-1823

Este quadro faz parte das chamadas "pinturas negras" da casa de Goya. Nelas as figuras aparecem de olhos esbugalhados, mostrando o branco na parte superior e as pupilas na inferior, as bocas surgem abertas ou a comer. É deste modo que Goya pinta Saturno, rei dos Titãs.

Saturno é o deus romano que foi equiparado ao grego Cronos, filho de Úrano (o Céu) e de Geia (a Terra).
Avisado, pela sua mãe ou pelo oráculo, que um dos seus filhos o deporia do trono, devorou-os um a um à medida que nasciam.

Goya ao pintar este quadro, quis dar-nos esta visão de horror, para isso utilizou um pincel grosso registando toda a acção com um realismo brutal. Esqueceu todas as referências deste mito antigo e apenas nos mostra um monstro devorando avidamente um cadáver.

Pois foi precisamente este um dos quadros que Vik Muniz "retrabalhou", reproduzindo-o em grande escala.


Vik Muniz
"Saturno devorando um dos seus filhos, depois de Francisco Goya"
2005

Vik Muniz "construiu" esta obra com lixo e uma das leituras possíveis será pretender mostrar-nos que, tal como Saturno, enlouquecido pelo poder, não quer dar espaço às gerações seguintes, também a sociedade de consumo está indiferente ao mundo que deixa às novas gerações.

Tal como no mito de Saturno é preciso proteger a sua mãe Geia (a Terra)!


Retrato (s) de ... Franz Liszt

No último post recebi uma sugestão de um leitor deste blogue, a qual muito agradeço e
aqui fica para nosso gáudio.

sábado, 22 de outubro de 2011

Retrato (s) de ... Franz Liszt

Completam-se hoje 200 anos sobre o nascimento de Franz Liszt (1811-1886), considerado unanimemente um dos maiores compositores de todos os tempos, assim como um pianista genial. Sobre este príncipe do Romantismo Alan Walker, a propósito do seu virtuosismo como pianista, escreveu “ Liszt era um fenómeno natural e a audiência era dominada por ele ... com a sua cativante personalidade e a sua larga melena de cabelo solto criou uma encenação assombrosa. Muitas das testemunhas declararam, mais tarde, que a forma de interpretar do pianista elevou o estado de ânimo dos espectadores a um nível de extâse místico”.

Mas Liszt não foi só imortalizado pela genialidade da sua obra, foi-o também por alguns fotógrafos e pintores da sua época.

Para assinalar esta data elejo dois quadros, de dois artistas que o pintaram: Henri Lehmann (1814-1882) e Josef Danhauser (1805-1845).

O primeiro foi amigo de Liszt, aluno de Ingres e mestre de Camille Pissarro e Georges Seurat. Retratou também Gounod, Chopin, Stendhal, entre outros notáveis seus contemporâneos.


Henri Lehmann
"Retrato de Franz Liszt2
Óleo sobre tela - 1,130x 0,860cm
1839
Museu Carnavalet - Paris

O segundo, Josef Danhauser, um artista austríaco, foi um elemento proeminente do período Biedermeier e pintou, em 1840, este imaginativo retrato colectivo.


Josef Danhauser
"Franz Liszt fantasiando ao piano"
Óleo sobre tela - 119x167cm
1840

Neste retrato de conjunto podem ser identificados, sobre o piano o busto de Ludwig van Beethoven; sentados da esquerda para a direita, Alexandre Dumas (pai), George Sand, Franz Liszt, Marie d´Agoult; de pé Hector Berlioz ou Victor Hugo, Niccolo Paganini, Gioachino Rossini. Na parede podemos ainda ver um retrato de Byron e sobre uma consola, à esquerda, uma estátua de Joana d´Arc.

Aqui deixo uma singela homenagem a Franz Liszt e aos que o pintaram.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

A não perder ... Exposição VIK - Vik Muniz

Entrar num Museu e depararmo-nos com obras executadas com materiais completamente improváveis, instáveis ou mesmo perecíveis como a calda de chocolate, o açúcar, a pasta de amendoim, o caviar ou o lixo ... arregalam-se-nos os olhos!
Assim é a exposição VIK do artista brasileiro Vik Muniz patente no Museu Colecção Berardo, Lisboa, até ao último dia do ano de 2011.

Vik Muniz nasceu em 1961 em São Paulo, Brasil, e vive actualmente em Nova Iorque.
Desde que começou a trabalhar, teve sempre como objectivo: comunicar com as massas através do desempenho de vários papéis como designer, escultor, fotógrafo, pintor, crítico, criador de ilusões...

Esta exposição reune cerca de 100 obras desde os anos 80 até à actualidade constituindo uma retrospectiva da obra deste artista, fazendo com que o espectador perceba o processo criativo do autor e a evolução do seu trabalho.

Para Vik Muniz "a arte não é para a elite", por isso " o desafio [do meu trabalho] é levá-lo para um público mais diversificado, com a esperança de atrair mais interesse para o universo das artes plásticas, que oferece tanto para tão poucos" - Vik Muniz.

Ultimamente este artista desenvolveu projectos que envolvem comunidades desprotegidas e problemáticas como as dos Meninos de rua de São Paulo ou a dos "catadores" de lixo no Rio de Janeiro. Este último deu origem ao filme "Lixo Extraordinário" que teve o prémio do público de melhor documentário no Festival de Sundance em 2010.

Para quem não conhece a obra deste artista coloco aqui algumas imagens do seu trabalho, utilizando apenas o critério da diversidade de materiais, e um pequeno vídeo que nos mostra de alguma forma o seu processo criativo.



Material - calda de chocolate


Material - geleia de uva e manteiga de amendoim


Material - macarrão e molho de tomate


Material - diamantes


Material - lixo

Poderia colocar mais imagens mas creio que para amostra chega. Vale a pena ir ao Museu Colecção Berardo, (Centro Cultural de Belém) ver estas e outras obras, pois lá ganham outra magnificência.




Esta é uma Exposição a não perder ... e tem entrada gratuita.

domingo, 2 de outubro de 2011

Os trabalhos de Eva Afonso


Eva Afonso
"Sem Título"
Óleo sobre tela - 61x46 cm
2011