... " Quero dormir e sonhar

um sonho que em cor me afogue:

verdes e azuis de Renoir

amarelos de Van Gogh." ...

António Gedeão
(1956)

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Dadaísmo ou a arte do absurdo

Vivemos dias de incerteza e desesperança, de angústias e desigualdades, mas há que encontrar saídas e caminhos para o futuro.
Quantas vezes, ao longo da História, não existiram períodos semelhantes. Semelhantes, sim, mas não iguais, porque a mesma água não passa duas vezes por baixo da mesma ponte.
São períodos assim, como os que estamos a viver, que geram desilusões e uma vontade de desafiar as ideias convencionais.

E foi saltitando de reflexão em reflexão que "desaguei" no período conturbado da 1ª Guerra Mundial e no Dadaísmo. Não sei explicar esta associação de ideias, mas também não importa, não foi o Dadaísmo o movimento artístico do absurdo?


Tudo começou em 1916, no "Cabaret Voltaire", em Zurique, onde, em plena 1ª Guerra Mundial, um grupo de artistas emigrados, liderados por Tristan Tzara, Hugo Ball e Hans Arp se insurgiram contra os valores artísticos e culturais daquela época e desafiaram o mundo desenfreado em que viviam.
" (...) O Dadaísmo deu aos artistas uma plataforma para contestarem os valores académicos e vanguardistas. Fundamentalmente anarquista, o Dadaísmo foi inicialmente uma reacção aos horrores da guerra e aos sistemas que a haviam causado.
A arte, poesia e espectáculos dadaístas não eram "organizados", nem coesos, mas uma expressão pessoal de raiva, sátira, crítica e negação." *

O Dadaísmo ocorreu entre 1916 e 1922 e mais do que um movimento, foi um fenómeno artístico que tinha uma atitude comum em relação ao fazer e ao pensar a arte. Confrontou o irracional e o absurdo com os valores burgueses ultrapassados. Fez tábua rasa de todas as convenções ideológicas, artísticas e políticas e pretendeu recriar uma estética e uma arte a partir de processos que pareciam ser destrutivos e autodestrutivos.
"Porém, a abolição da arte tão ambicionada pelos dadaístas não era tão simples como eles pensavam: a rebelião contra o conceito burguês de arte, que os dadaístas pretendiam com a sua anti-arte, só podia funcionar se os produtos e reproduções assim obtidas fossem tidos como "arte".
Se a categoria "arte" deixava de desempenhar uma função importante na avaliação dos trabalhos, as obras anti-artísticas perdiam a sua potencialidade provocante e por consequência a sua força explosiva." **

Os artistas dadaístas não tiveram um estilo uniforme, o que os unia era uma ideia de protesto contra os valores corruptos da sociedade burguesa, para eles responsáveis pelos horrores da guerra. Apesar de se viver este período trágico, o dadaísmo expandiu-se e teve uma rápida difusão internacional, de Zurique passou para Barcelona, Berlim, Colónia, Hanover, Nova Iorque e Paris.
Após o fim da Guerra, os jovens sentiam necessidade de exprimir a sua alegria por estarem vivos. era a vitória da vida sobre a morte, da paz sobre a guerra.
Mais tarde, por volta de 1963, Tristan Tzara, um dos fundadores do dadaísmo, afirmou: " Dada não foi somente o absurdo, a sátira, Dada foi uma expressão muito  forte dos jovens, nascida durante a guerra de 1914. O que nós queríamos era fazer tábua rasa dos valores em curso, em proveito dos valores humanos mais altos".

Marcel Duchamp ( 1887-1968) foi talvez o artista que melhor conseguiu captar esta atitude iconoclasta, quando, em 1919, pegou numa reprodução da Mona Lisa e nela desenhou um bigode e uma barbicha e acrescentou uma legenda com cinco letras - L.H.O.O.Q. ("elle a chaud au cul" - ela tem o rabo quente)


Marcel Duchamp
"L.H.O.O.Q."
1919
Lápis sobre uma gravura de Mona Lisa de Leonardo da Vinci - 19,4x12,2 cm
Colecção privada



Também Francis Picabia (1879-1953) adoptou uma abordagem irreverente face às convenções sociais e artísticas. As suas obras centram-se na imagem da máquina como uma metáfora do carácter absurdo e desumano do mundo moderno, um exemplo é o quadro "Rapariga nascida sem mãe" (1916-18).




Mas foi na Alemanha que os artistas Dada adoptaram uma abordagem política mais aberta.
No quadro "Mutilados jogando às cartas", Otto Dix representou três homens a jogar às cartas num café da cidade.
Cada figura apresenta-se mutilada, substituindo-lhe os membros por próteses e desenhando-lhe as faces atadas e remendadas.


Otto Dix
"Mutilados jogando às cartas"
1920
Óleo sobre tela - 110x87 cm
Berlim, Nationalgalerie


Há nesta obra uma ligação muito explícita aos horríveis danos causados pela guerra.


O Dadaísmo pretendia obrigar as pessoas a pensarem e a mudarem de mentalidade.
O pintor francês Francis Picabia dizia que  " a cabeça é redonda, para que o pensamento possa ir mudando de direcção" e porventura nestes dias confusos que vivemos, precisávamos de fenómenos dadaístas.


* Newall, Diana - "Compreender a Arte" - Editorial Estampa, Lisboa, 2008
** Kraube, Anna-Carola - "História da Pintura - do Renascimento aos nossos dias" - Könemann, Colónia, 2001

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Os trabalhos de Eva Afonso



Eva Afonso
"Sem Título"
2012
Óleo sobre tela - 60x50 cm

domingo, 3 de junho de 2012

A não perder ... Exposição retrospectiva de Berthe Morisot



Mais uma vez escrevo sobre Berthe Morisot, porque cerca de 150 obras (óleos, pastéis, aguarelas e desenhos) desta artista estão patentes, desde 8 de Março (Dia Internacional da Mulher - não deve ter sido escolhida, por acaso, esta data  para a inauguração) até ao próximo dia 1 de Julho, no Museu Marmottan Monet, em Paris.
Esta retrospectiva homenageia a grande pintora impressionista Berthe Morisot, e dá realce à presença feminina nas artes plásticas, tantas vezes, melhor dizendo, sempre tão esquecida.
A selecção das obras, em exposição, mostra o percurso desta mulher, desde o período da formação junto de Camille Corot, até aos seus últimos trabalhos.
É uma caminhada pela arte delicada de Berthe Morisot, que escolheu como tema central da sua obra a celebração da mulher e da criança.





Cartaz da Exposição

 
Esta é uma exposição a não perder ...

sábado, 26 de maio de 2012

Observando um Quadro ... de Berthe Morisot - nº 22

Volto a Berthe Morisot e à sua obra-prima: "O Berço".

Berthe Morisot
"O Berço"
1872
Óleo sobre óleo - 56x46 cm

Neste quadro Morisot retrata a sua irmã mais nova, Edma, contemplando a sua segunda filha, Blanche, deitada no berço.
Nele capta toda a doçura deste momento de intimidade em que a mãe "guarda" o sono da filha.

Este trabalho foi o primeiro em que Morisot abordou o tema da maternidade - e que se tornou mais tarde um dos seus temas preferidos.
Há nesta obra grande intensidade afectiva, o que levou alguns críticos a ver nela uma abordagem moderna do tema da Natividade.

Observando este quadro vemos que o braço esquerdo da mãe, que está inclinada sobre o berço, assim como o braço e os olhos fechados da criança formam uma linha diagonal que une a mãe à sua filha.
O gesto de Edma, puxando o folho da cortina do berço entre o observador e a criança, reforça o sentimento de intimidade e o amor protector expresso neste quadro.

Como já escrevi, este quadro foi exibido, em 1874, na 1ª Exposição Impressionista e importantes críticos, embora não tendo aceitado bem esta Exposição Independente, comentaram a graça e a elegância de "O Berço".

Berthe Morisot utilizou, neste quadro, um conjunto cromático e uma doçura que revelam a influência de um dos seus Mestres - Camille Corot, e de algumas pinturas do século XVIII, à maneira de Fragonard; mas no tratamento da cena e nos contrastes de tons escuros e explosões de brancos pode ver-se a influência de Édouard Manet.
Os críticos ressaltaram este uso do branco afirmando: " Vejam quão maravilhosamente ela lida com o branco nos seus quadros; ninguém até agora usou o branco de uma forma tão extraordinária".

É, sem dúvida, um quadro com um tema repleto de doçura.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Desafios ... Resposta: Impressionismo



Resposta ao desafio anterior - Impressionismo

Autora - Berthe Morisot
Obra - "O Berço"


O quadro apresentado, no post anterior, pertence ao movimento impressionista, intitula-se "O Berço", foi pintado por Berthe Morisot em 1872 e exposto na 1ª Exposição Impressionista (1874).
Esta exposição independente foi organizada para reagir contra o ensino e as convenções académicas e  além das de Morisot,  foram expostas obras de Pissarro, Renoir, Cézanne, Degas, Monet ...
A crítica não aceitou bem os temas e a forma de pintar destes artistas, no entanto, Morisot teve algumas críticas favoráveis.
Castagnary, crítico de arte, escreveu, sobre este quadro de Berthe Morisot, o seguinte:
"Não é possível encontrar imagens mais graciosas, tratadas com maior deliberação, do que "O Berço" ...  a execução está em perfeita sintonia com a ideia a exprimir."
Berthe Morisot participou em todas as exposições dos impressionistas ( de 1874 a 1886), com excepção da 4ª mostra, em 1879, ano em que nasceu a sua filha, Julie.

Berthe Morisot nasceu em França, em 1841, no seio de uma família da alta burguesia, numa época em que as mulheres não tinham possibilidades de se tornarem artistas profissionais.
Foi numa sociedade dominada por homens que Berthe Morisot mostrou vontade e força para se dedicar profissionalmente à pintura, mesmo após o seu casamento com Eugène Manet (irmão de Édouard Manet), chegando mesmo a afirmar:
"Os homens tendem a acreditar que enchem toda a vida de uma pessoa, mas, quanto a mim, acho que, independentemente do afecto que uma mulher dedique ao marido não lhe é fácil romper com uma vida de trabalho".
Muitas mulheres, algumas muito talentosas, abandoram a pintura, pois não lhes era facultada a conciliação entre o trabalho e o matrimónio.
A própria Berthe Morisot, apesar de se ter revelado a maior expoente feminina do impressionismo, não conseguiu fugir ao domínio masculino, sendo-lhe inscrito na sua certidão de óbito (1895) : " sem ocupação" e identificada no seu jazigo como: " Berthe Morisot, viúva de Eugène Manet".


sexta-feira, 18 de maio de 2012

Desafio ...

Como há pouco tempo passou mais um Dia dedicado a todas as Mães, lembrei-me deste quadro repleto de ternura e que reflecte uma ligação muito forte entre mãe/filho.

E a respeito deste quadro lanço um desafio, que considero não ser muito difícil, aguardo simplesmente, que indique a que movimento artístico pertence esta obra.




Espero pela sua colaboração.

Bom desafio ...

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Os Aristocães de Thierry Poncelet


Curiosa  a pintura de Thierry Poncelet.
Achei incomum o tema abordado por este pintor - os Aristocães - e não quis deixar de partilhar esta minha descoberta.

Thierry Poncelet nasceu em 1946, em Bruxelas, mas vive e trabalha actualmente, no Mónaco.
Estudou Belas Artes em Saint-Luc e assim que acabou o curso foi trabalhar para o atelier do professor Max Massot. Aí aprendeu pintura a óleo e a arte do restauro de quadros antigos, tornando-se um restaurador de sucesso.

Parece que, um dia, estando a restaurar um quadro de uma aristocrata com uma face particularmente feia, achou divertido pintar a cabeça de um cão no lugar da da velha senhora, e o resultado foi surpreendente - a ideia dos Aristocães estava lançada.
Thierry Poncelet alia o amor pela pintura clássica com o interesse que tem pelo retrato.
Então começou a comprar, nas lojas de antiguidades, quadros de retratos de antepassados, pintados na grande tradição clássica dos séculos XVIII e XIX e a substituir os rostos por cabeças de cães - os Aristocães.
E porquê cães?
A esta pergunta Thierry Poncelet respondeu e demonstrou que nenhum outro animal oferece uma paleta de expressões suficientemente rica para ilustrar um carácter ou uma emoção.

Apreciem alguns Aristocães de Thierry Poncelet:

























terça-feira, 8 de maio de 2012

Exposição de Pintura de Eva Afonso

Convite

Bem-vindos!

Aqui ficam algumas fotografias da Exposição de Pintura que tenho patente, no Hospital de Garcia de Orta, em Almada, de 6 a 20 de Maio.

Sintam-se convidados e espero que apreciem.






























Obrigada pela sua visita.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Os trabalhos de Eva Afonso



Eva Afonso
"Cesta com papoilas"
2012
Óleo sobre tela - 40x50 cm

sábado, 21 de abril de 2012

Os trabalhos de Eva Afonso




Eva Afonso
"Vaso com rosas"
2012
Óleo sobre tela - 60x50 cm

domingo, 15 de abril de 2012

Malhoa e Sorolla dois pintores da luz


Gosto dos quadros em que predomina o contraste entre a luz e a sombra, se vislumbram  as penumbras, as transparências, a luz coada, e onde se reconhecem ambientes cheios de naturalismo ... e dos pintores que os pintam. Por isso, neste post, quero homenagear José Vital Branco Malhoa e Joaquin Sorolla y Bastida, dois "pintores da luz".

Aqui ficam imagens de dois quadros, de cada um destes pintores, espero que os apreciem tanto quanto eu.


José Malhoa
"A corar a roupa"
s/ data
Óleo sobre tela - 63x75 cm
Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro



Joaquin Sorolla
"Cozendo a vela"
1896
Óleo sobre tela - 220x302cm
Galeria Internacional de Arte Moderna di Ca´Pesaro
Veneza


José Malhoa
" Praia das Maçãs" (À beira-mar)
1918
Óleo sobre madeira - 69x87 cm
Museu do Chiado - Lisboa



Joaquin Sorolla
"Debaixo do toldo da praia de Zarauz"
1910
Museu Sorolla y Bastida - Madrid


quinta-feira, 12 de abril de 2012

"Crucificação" de Paul Peter Rubens

Agora, que estamos no rescaldo das Festas Pascais, trago a este blog a obra  "Crucificação" de Peter Paul Rubens, que transmite o sofrimento de Cristo aquando da sua morte na cruz.


Peter Paul Rubens
"Crucificação"
1610- 11

Ora este quadro foi, há bem pouco tempo, vendido na TEFAF (The European Fine Art Fair), considerada a melhor feira de arte e antiguidades.
Este ano, em que se comemora o 25º aniversário desta feira, antiquários, peritos e coleccionadores encontraram-se em Maastricht, na Holanda, de 16 a 25 de Março, para mostrarem e trocarem obras de grande valor, muitas vezes reservadas para esta ocasião.
Esta feira teve uma grande afluência, foram cerca de 72 mil visitantes.

A obra "Crucificação" de Peter Paul Rubens foi vendida, logo após a inauguração da feira, pela Colnaghi-Bernheimer, a um coleccionador americano.

O clima de instabilidade verificado em vários mercados, leva a que o de arte ganhe importância, tornando-se uma alternativa sólida.
Neste mercado de arte globalizado a China tomou a dianteira, ultrapassando mesmo o dos EUA, tornando-se o maior mercado mundial para a arte e antiguidades, com uma quota de 30%.

E assim, quem tem dinheiro, os milionários, aplicam-no neste mercado, fazendo crescer o segmento de topo do negócio de arte, ou seja o das peças com valor acima dos 500 mil euros.

Quem não tem ..., gostaria de poder continuar a apreciar boas obras de arte ! ...

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Votos de Boa Páscoa




Rogier van der Weyden
"Pietà"
Óleo sobre madeira - 47x35 cm
Museu do Prado - Madrid

terça-feira, 3 de abril de 2012

Alguns quadros de José Malhoa

Malhoa pertenceu ao "Grupo do Leão" ( constituído, entre outros, por Silva Porto, Columbano, António Ramalho, João Vaz, Moura Girão, Henrique Pinto, Ribeiro Cristino, Rodrigues Vieira), que seguiu a Escola de Barbizon, iniciando, assim, uma corrente inovadora na pintura portuguesa.

Agora pretendia-se mostrar a realidade tal como era, afastando-se da  realidade idealizada pelo movimento do Romantismo e dos ensinamentos académicos rígidos.


A obra de Malhoa, situada entre o Naturalismo e Impressionismo, é testemunha de costumes e vivências povo português da sua época.

José Malhoa
"Conversa com o vizinho"
1932
Óleo sobre tela - 31x27,5 cm
Museu de José Malhoa - Caldas da Rainha

Este quadro representa uma rapariga debruçada sobre o parapeito de uma janela. Aparece seccionada ao nível da cintura, olhando sorridente para cima, adivinhado-se aí a presença do vizinho.
A protagonista tem o cabelo apanhado e veste uma saia azul, uma blusa castanha e sobre os ombros colocou um lenço em tons amarelados, com desenhos coloridos.
No lado direito, Malhoa pintou bonitos ramos de glicínias, unindo deste modo os dois planos: o interior e o exterior.
Olhando para lá da janela vemos campos verdejantes e montes azulados.

Há uma forte transição plástica entre os ambientes interiores para a paisagem envolvente, protagonizada pela figura da rapariga que recebe e reflecte os efeitos da luz, no rosto, no vestuário e nos objectos envolventes, como a manta amarela sobre o parapeito.

  
José Malhoa
"Lendo o Jornal"
1905
Óleo sobre tela - 32,5x21 cm
Museu de José Malhoa - Caldas da Rainha

O quadro mostra um Mestre-Escola, lendo o jornal, junto a uma janela aberta para uma paisagem rural cheia de luz.

O protagonista aparece seccionado pelos joelhos, com a cabeça inclinada sobre o ombro direito e vestindo, para proteger a roupa, uma bata branca. 

A janela está aberta, permitindo-nos ver o exterior iluminado. Malhoa sublinha, assim, um momento - o da leitura do jornal - fazendo a transição entre um ambiente de interior para a paisagem  que está lá fora. O fundo definido pela paisagem tem uma luz natural, enquanto o Mestre-Escola aparece em ligeiro contraluz.
Malhoa domina a luz, a sombra e o contraluz de forma admirável, podendo ser considerado , tal como Joaquin Sorolla y Bastida,  "o pintor da luz"...

terça-feira, 27 de março de 2012

Visitar o Museu de José Malhoa

Caldas da Rainha é uma terra de artes.
Um local a não perder, quando a visitamos, é o Museu de José Malhoa, situado no belíssimo Parque D. Carlos I.
Este Museu foi o primeiro edifício construído em Portugal a partir de um projecto para fins museológicos. Mas, se no início (1933), o objectivo era expor e preservar a obra pictórica de José Malhoa (1855-1933), "pintor da terra e das gentes portuguesas", cedo o ultrapassou e mostrou "outros artistas seus antecessores, contemporâneos, entrando pelas artes disciplinares da escultura e de cerâmica, esta última com grande tradição e importância nas Caldas." *


Museu de José Malhoa
Caldas da Rainha

Na organização do discurso expositivo deste Museu  a obra de José Malhoa, seu  patrono, ocupa um lugar central, dando-nos a conhecer este fantástico pintor português, que numa carta autobiográfica de 1890 escrevia:  " ... vim para Lisboa com uma perna quebrada aos 8 anos, e cursei preparatórios na Escola Académica. Entrei para a Escola de Belas Artes aos 12 anos, destinando-me a entalhador; tive no primeiro ano o primeiro prémio, o que levou o nosso grande artista Leandro de Sousa Braga à loja do qual me destinava e quem primeiro me encaminhou e animou nas minhas tentativas artistas, a dizer a meu irmão: ´homem, visto o rapaz mostrar disposição deixa-o continuar ...´. Isto é uma fase importante da minha vida, e disto dependeu eu ser hoje o que sou, pouco ou muito, como quiserem."

"Educado por seu irmão mais velho, Joaquim Malhoa, comerciante de modas, frequenta a Academia Real de Belas Artes, desde Outubro de 1876 até 1875. É aluno de Joaquim Prieto, José Maria Franco, Victor Bastos, Anunciação, Lupi e Simões de Almeida, obtendo, durante estes anos, várias distinções pelos seus trabalhos académicos.
Em 1874 e 1875, habilita-se aos concursos para pensionista do Estado no estrangeiro, não alcançando êxito em qualquer deles, uma vez que o primeiro foi anulado, sendo depois preterido no ano seguinte. É por esta data que decide abandonar a pintura e trabalhar na loja do irmão. Com efeito, segundo a carta citada, aí permaneceu três anos, mas apenas não pintou por um período de seis meses. De 1881 data o quadro "A Seara Invadida", clara influência da lição animalista de Tomaz da Anunciação, o qual, exposto em Madrid, obteve sucesso, motivando o regresso do artista à pintura.

Entre 1881 e 1889, integra o "Grupo do Leão", que, apoiado por Alberto de Oliveira (1861-1922), realiza oito exposições de "Quadros Modernos" (1881-1884) e "d`Arte Moderna" (1885-1889).
O Grupo do Leão, pioneiro do Naturalismo em Portugal por via dum paisagismo de ar livre de observação directa assume importância estruturante no percurso de Malhoa, que não tivera a oportunidade de desfrutar dum desejado pensionato no estrangeiro.
(...)
Malhoa paisagista revelar-se-á ao longo da sua carreira de artista em duas vertentes distintas e complementares: a paisagem pura, despovoada, exercício de pintura pelo prazer de pintar; e a paisagem como suporte do humano, enquadramento natural e testemunha de costumes e vivências." *


José Malhoa
"As Promessas"
1933
Óleo sobre madeira - 59x72 cm
O quadro "As Promessas" exemplifica como Malhoa fixou, através da pintura, os costumes e as vivências do povo português, nos finais do século XIX e princípio do século XX.

""As Promessas" (1933) são um quadro a óleo que de algum modo constituí a síntese e o corolário da pintura do artista, seja pelo domínio técnico alcançado, seja pela abordagem aos valores da luz e da cor na sua crueza e alacridade, seja essencialmente pelo tratamento dos motivos das vivências populares.
Nesta tábua, para a qual, em 1827, fizera um excepcional estudo a pastel, o pintor reúne, num momento único de tempo de festa do calendário rural, num conjunto de temáticas que desenvolveu ao longo da sua pintura de costumes. Aqui temos a festa religiosa, a que não faltam os signos da fé. mas também todo um enquadramento pagão, que diríamos saído de muitos quadros de Malhoa.
E nos longes, o apontamento da paisagem em montes azulados pela distância.
Síntese, afinal, da pintura de Malhoa, do seu discurso de alegrias e dores, plena dos contrastes lumínicos e da presença do colorido intenso dos trajes das mulheres, tudo suportado pela irregularidade seca dum terreno ocre, sob um céu límpido estival. Revelando-se uma obra fundamental no que encerra de corolário de todo o percurso artístico, servido pela excelente técnica dum grande pintor." *
* Roteiro do Museu de JOSÉ MALHOA
   Instituto Português de Museus, Lisboa, 2005

quinta-feira, 15 de março de 2012

Revisitando "Olympia" de Manet

Pretendendo revisitar "Olympia" caminhamos ao longo da margem esquerda do Sena, cortamos para a Rue de Lille e entramos no Museu de Orsay, Paris.
E aí está ela desafiadora, a olhar-nos de modo insolente e seguro.



Édouard Manet
"Olympia"
1863
Óleo sobre tela - 130,5x190 cm
Museu de Orsay, Paris


Ó escândalo, dos escândalos, Édouard Manet pintou um nu feminino, mas bem real, nada idealizado ou escondido atrás de uma deusa ou figura mitológica.

A partir da segunda metade do século XIX, a simples prostituta diferencia-se da cortesã,  porque esta tem um relacionamento com o cliente num ambiente de intimidade e sedução, fingindo honestidade.

Ora "Olympia" não é cínica, assume a sua sexualidade, através de uma profissão reconhecível, revela o seu desejo olhando directamente para o observador.
O próprio título "Olympia" era o "nome  artístico" escolhido por muitas prostitutas da época.

Manet serviu-se de Victorine Meurent, modelo profissional, para dar corpo à personagem representada.
Pinta-a transportando-a para a contemporaneidade através do uso de adereços da época, como uma pulseira e pérolas no pescoço e nas orelhas.
Enfeita-lhe o cabelo com uma orquídea, referência ao sexo, já que está associada a poderes afrodisíacos.
No pé coloca-lhe uma chinela, que parece oscilar, a outra está caída (nas pinturas alegóricas, o chinelo caído simboliza a inocência perdida).
Aos pés de "Olympia", Manet não deitou um cachorrinho sonolento, como era usual,  mas pintou um gato preto de olhos bem abertos, simbolizando a ambiguidade e a inquietude desta representação.
Do fundo negro do quadro sai uma criada negra que traz um ramo de flores - talvez seja o presente de um admirador anterior - o que sugere os prazeres oferecidos.
"Olympia" nem dá conta da sua presença, está concentrada na espera do cliente seguinte, olha-o de frente, provocadoramente.

E após esta visita, abandonamos o Museu de Orsay,  deixando "Olympia" neste jogo sedutor com o próximo observador.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Desafios ... Resposta: Édouard Manet

Resposta ao desafio anterior:
Autor - Édouard Manet
Obra - "Olympia"


Édouard Manet (1832-1883) pintou o quadro "Olympia" em 1863 e apresentou-o ao grande Júri do Salon oficial de Paris em 1865, tendo sido recusado, como muitos outros, devido à dureza dos critérios de selecção.
Este quadro provocou um grande escândalo tanto entre a crítica como entre o grande público, porque Manet apresentou uma obra totalmente nova, embora respeitando a composição clássica.

Édouard Manet estudou com paixão a arte do passado e foi buscar às obras "A Vénus Adormecida" e "A Vénus de Urbino"  de Giorgione e Ticiano respectivamente, inspiração para pintar "Olympia".


Giorgione
"A Vénus Adormecida"
1508 - 1510
Óleo sobre tela - 108,5x175 cm
Gemäldegalerie, Dresden


Ticiano
"A Vénus de Urbino"
1538
Óleo sobre tela - 119x165 cm
Galleria degli Uffizi , Florença 

Então quais as causas de tanto escândalo  à volta da obra "Olympia"?

"Olympia" foi encarada como uma paródia grosseira de um tema respeitado.
Ao olhar para esta obra era evidente para todos que a mulher representada não era uma deusa, mas uma prostituta.
Manet pintou um tema clássico, mas deu-lhe uma vertente mais moderna e profana ao substituir os deuses e as figuras mitológicas por personagens da sua época.

"As pinturas iniciais (de Manet) (...) combinam temas modernos e derivações autoconscientes das obras dos Velhos Mestres com pinceladas aciduladas, contrastes acentuados e justaposições estranhas, colocando a imagística realista em face dos prazeres estéticos formais de modo inteiramente novo. Não é de estranhar o facto de estas obras terem chocado muito os seus observadores, pois a incongruência do seu método e o seu tom sério transmitem alguma perplexidade". *

O desejo de pintar com uma técnica arrojada fez de Manet um modelo para os jovens artistas impressionistas, mas ao contrário destes, continuou a acreditar na prática da pintura de atelier, seguindo as teorias tradicionais como o desenho, os esboços e as composições cuidadosamente planeadas, não podendo, por isso, ser considerado um impressionista no verdadeiro sentido da palavra.

* Kemp, Martin - História da Arte no Ocidente - Ed. Verbo, Lisboa, 2000 (pág. 308)

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Desafio ...

Ao folhear uma colectânea de poemas deparei-me com um de Vinícius de Moraes e que belo poema dedicado à mulher!
Hesitei entre transcrevê-lo completo ou apenas um trecho que ilustrasse o quadro que vos desafio a descobrirem:

 o autor e o título .

 

Decidi pelo     SONETO DE ORFEU   sem cortes ... completo ..., para saborearmos  toda a sua beleza.

São demais os perigos dessa vida
Para quem tem paixão, principalmente
Quando uma lua surge de repente
E se deixa no céu, como esquecida
E se ao luar, que atua desvairado
Vem unir-se uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher
Uma mulher que é feita de música
Luar e sentimento, e que a vida
Não quer, de tão perfeita
Uma mulher que é como a própria lua:
Tão linda que só espalha sofrimento,
Tão cheia de pudor que vive nua.
Vinícius de Moraes
Quanto ao Desafio ainda o mantenho. 
Aceita?
Qual o Autor e título do quadro deste post? 
Fico à espera do seu comentário.
Até breve...

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Viva o Carnaval !


Não sou foliona, nunca o fui ... , mas este ano estou completamente  solidária com todos os foliões.

Viva o Carnaval !




James Ensor
"Intrigue"
1911
Óleo sobre tela

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O incontornável Leonardo da Vinci

A National  Gallery de Londres e agora o Museu do Louvre em Paris colocam perante os nossos olhos algumas obras de Leonardo da Vinci, através de exposições organizadas em redor de períodos bem distintos da vida deste pintor.
A exposição da National Gallery (que terminou este mês) abrangia obras do período em que viveu na corte de Ludovico Sforza - "Leonardo da Vinci: Pintor da Corte de Milão". Esta exposição não incluía a mais famosa obra deste artista - "A Gioconda" (que terá começado a pintar por volta de 1503, quando regressou a Florença, depois do ducado de Milão ter caído nas mãos dos Franceses em 1499).

Pois bem, a partir de 29 de Março a 25 de Junho de 2012, nova exposição, dedicada a Leonardo, terá lugar no Museu do Louvre - "A Última Obra-prima de Leonardo: Santa Ana".

Agora sim, "Gioconda" vai marcar presença, mas não vai estar sozinha!
Lado a lado com ela brilhará uma réplica deste quadro, encontrado nas reservas do Museu do Prado.


Após uma intervenção cuidada esta "Gioconda" mostrou que não é mais uma cópia, mas é um "retrato executado em paralelo, uma espécie de fotocópia pintada em simultâneo por um aluno (Andrea Salai ou Francesco Melsi) , enquanto Leonardo da Vinci pintava a obra-prima" ("The Art Newspaper").

Aqui fica uma (boa) sugestão para os admiradores da obra de Leonardo da Vinci.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Os trabalhos de Eva Afonso


Reprodução do quadro "Peónias"
de Henri Fantin-Latour

Executada por Eva Afonso
2012

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Observando um Quadro ... de Georg Flegel - nº 21

Nestes dias em que uma vaga de frio varre a Europa, deixando-nos a tiritar, só me apetece  uns docinhos que me forneçam algumas calorias  e uma bebida bem quentinha que me "aqueça" a alma.
Mas é preciso cuidar da silhueta, pois se abuso do açúcar ... ops! ... lá vêm mais alguns quilitos.
Descobri, no entanto, uma fórmula mágica para consumir açúcar sem engordar!
Não acreditam?
Ora vejam:

Georg Flegel
"Natureza-Morta com Pão, Doces, Copo e Borboleta"
c. 1637
Óleo sobre madeira - 21,9x17,1 cm
Frankfurt, am Main, Städel Museum


Nesta pequena obra recheada de doçarias, Georg Flegel (1563-1638) representou, como ninguém, a estrutura cristalina do açúcar cristalizado.

A introdução do açúcar na alimentação europeia provocou uma revolução radical do paladar.
Se antes era o mel que adoçava a vida das populações, a partir do séc. XVI, segundo Duarte Nunes Leão, com "  ... a invenção das ilhas da Madeira, do Cabo Verde, de Sam Tomé e do Brasil, de que vem cada ano tanta carregação de açúcares, não curamos de gastar mel ...".
Mas, se na fase inicial da expansão portuguesa e da produção de açúcar, este apenas se consumia com fins medicinais, a partir do século XVI passa a ser usado na doçaria.
Os banquetes das classes abastadas encheram-se de numerosos pratos e terminavam sempre com sobremesas.

Nesta obra de Georg Flegel aparecem essencialmente doces, que são alimentos dispendiosos elaborados por mestres confeiteiros.
Nela podemos observar frutos secos (figos) e especiarias cobertos com açúcar, que segundo a tradição tinham propriedades medicinais e facilitavam a digestão.

Em cima de uma mesa estão representados: uma tigela chinesa, um copo veneziano, uma tarte, em forma de coração e um pão branco.
A disposição dos alimentos, neste quadro, parece aleatória, no entanto, contém algumas alusões religiosas. Encontramos frutos cristalizados em forma de letras: um "O" maiúsculo e um "A" meio desfeito, representando o Alfa e o Ómega ( a primeira e a última letra do alfabeto grego), como referência a Cristo - o princípio e o fim. Um torrão rectilíneo de açúcar está colocado sobre um pão branco, formando uma cruz, o que nos eleva a Deus. Aparecem ainda o pão e o vinho evocando a Eucaristia.
Flegel não se esqueceu de incluir neste quadro uma borboleta e outros insectos, advertindo-nos para a efemeridade da vida.

Após observar este quadro fiquei saciada, os doces confortaram-me, sem correr o risco de prejudicar a saúde!

Referências:
Bauer, Herman, Andreas Prater - Barroco, Taschen, 2007
Castro, Armando de - Desenvolvimento das actividades produtivas - in História de Portugal, Vol. II, direcção de José Hermano Saraiva, Pub. Alfa, 1983
Schneider, Norbert - Naturezas-Mortas, (A Pintura de Naturezas Mortas nos Primórdios da Idade Moderna), Taschen, 2009

domingo, 29 de janeiro de 2012

Desafios ... Resposta: Georges Braque


O autor do quadro "Casas em L´Estaque" - 1908, é Georges Braque.
Braque (1882-1963) viveu algum tempo em L´Estaque, cidade costeira do Sul de França e ... foi neste local que pintou as suas primeiras paisagens pré-cubistas.
Matisse, em 1908, como membro do júri do "Salon d`Automne"  afirmou que Georges Braque apresentava pinturas "com pequenos cubos...".
E o escritor Guillaume Apollinaire, em 1912, escreveu: " A nova pintura é denominada Cubismo. Foi assim nomeada com mordacidade por Henri Matisse, quando reparou nas formas cúbicas claramente perceptíveis numa pintura com edifícios".
Pois foi precisamente com este quadro que Braque retratou uma paisagem com edifícios, onde vemos telhados e fachadas  de casas. Mas, nesta aldeia, não há só casas, está também presente a natureza através das planícies verdes, parecendo que a estamos a ver a partir de uma colina.
As casas pintadas, nesta tela, não têm janelas nem qualquer outro elemento, estão confinadas às formas mais simples e aqui e ali sobressaem os verdes e os castanhos da natureza.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Desafios ...

Cá estou, mais uma vez, a lançar um desafio.
Não, não é difícil.
Pintor e quadro muito conhecidos do movimento cubista.
Aceita o repto?
Qual o pintor da obra aqui "postada".
Aguardo a sua colaboração.
Até breve!


sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Observando um Quadro ... de Juan Gris - nº 20



Juan Gris
"O Pequeno-almoço"
1915
Óleo e carvão sobre tela - 92x73 cm
Musée National d´Art Moderne, Centre Pompidou
Paris

"Na composição deste trabalho, Gris faz referência à já bem comprovada utilização estética do papier collé. (...) Gris abordou um tema que combinava objectos do dia-a-dia: uns pedaços de jornal dobrados, uma taça, um copo, uma cafeteira e finalmente uma garrafa.
Todos os objectos que estão representados foram pintados aplicando técnicas várias ou tipos diferentes de pintura.
A taça e o copo estão desenhados. A cafeteira, que é sugerida ao centro no fundo do quadro, está dividida em três segmentos: uma secção central pintada em cinzento, a continuação dos contornos na faixa de cor verde, e finalmente o restante do contorno do bico está pintado na superfície de cor azul. A garrafa, por outro lado, está desenhada em campos de cor verde; parece estar a crescer das tiras dobradas do jornal reproduzido esculturalmente.
As superfícies coloridas da pintura estão colocadas lado a lado, como se se tratasse de vários suportes. Para além da sua composição de cor, estas representam um material que imita contraplacado de madeira de cor ocre e papel de jornal verde. A superfície composta com cores ocre e cinzento, na parte inferior da pintura, faz lembrar as paisagens de Georges Braque de L´Estaque, no sul de França (...)."

Trier, Anne Ganteführer -, "Cubismo", Taschen, Bona, 2009, p.90

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Juan Gris

Usufruam este video com obras de um dos pintores mais influentes do Cubismo - Juan Gris, também ele espanhol, como Picasso!




"Um pintor que não desconcerta - o que é que anda a fazer?"
Georges Braque

sábado, 14 de janeiro de 2012

Os trabalhos de Eva Afonso



Reprodução do quadro "Esporas-Bravas" de
Henri Fantin-Latour
1892

Executada por Eva Afonso
2011

domingo, 8 de janeiro de 2012

Os trabalhos de Eva Afonso



Reprodução de um pormenor do quadro
"Retrato de Mme. H. L. (Madeleine Lerolle) (1882)
Henri Fantin-Latour

Executada por Eva Afonso
2011

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Dia de Reis

Hoje é Dia de Reis e manda a tradição que se comam alguns bagos de romã.


Maluda
"Romã"
1984

Os múltiplos bagos vermelhos, brilhantes, quase vítreos, vislumbrados entre rasgos de casca que estalou, são um apelo aos nossos sentidos.

Este fruto, símbolo de fertilidade, abundância e prosperidade surge em muitas naturezas-mortas.


Joris Van Son (1623-1667)
Pormenor do quadro "Nature-morte d´apparat à la colonne"
c. 1662
Colecção do Barão Samuel von Brukenthal


Jean-Baptiste Camille Corot (1796-1875)
"Natureza-Morta"
c. 1871-1872


Gustave Courbet (1819-1877)
"Natureza-morta com maçãs e romãs"
c. 1871-1872
The National-Gallery, Londres


As romãs trazem-me sempre a lembrança da casa da minha bisavó materna, onde havia, no quintal, junto à porta da cozinha, uma árvore de pequeno porte, mas que em determinada época do ano (que na altura, devido à minha pouca idade, não conseguia identificar) se enfeitava com uns estranhos frutos que tinham coroas como as princesas...

Na casa da minha bisavó contavam-se muitas histórias de reis e rainhas, fadas e heróis, lendas e adivinhas ... o que eu gostava de ouvir as minhas tias-avós dizer adivinhas! ... sobretudo aquela que perguntava :
"De Roma veio meu nome,
com coroa nasci.
Tive mil filhinhos,
e todos de vermelho os vesti."

Ah! ... fingia sempre que não a conhecia (depois de a ouvir dezenas de vezes) e exclamava como se tivesse descoberto a resposta: É a romã !!!

No Dia de Reis abriam-se romãs e comiam-se alguns bagos, pedindo aos Reis Magos, Baltazar, Belchior e Gaspar: saúde, paz, amor e dinheiro.
Cortavam-se as coroas das romãs e colocavam-se, até ao ano seguinte, na gaveta onde se guardava o dinheiro, para que este não faltasse.
Não sei se resultava, mas em tempos tão difíceis era bom que a tradição ainda fosse o que era.
Não custa nada tentar ...