... " Quero dormir e sonhar

um sonho que em cor me afogue:

verdes e azuis de Renoir

amarelos de Van Gogh." ...

António Gedeão
(1956)

domingo, 30 de dezembro de 2012

Desafios ... Resposta - Pieter Bruegel


Pieter Bruegel, o Velho
"O Censo de Belém"
1566
Óleo sobre madeira - 116x164,5 cm
Musée Royaux des Beaux-Arts, Bruxelas
 
 
Pieter Bruegel, o Velho, "narra", nesta obra a chegada de José e Maria, ainda grávida, a Belém.
Vêm a esta cidade para cumprirem uma ordem plasmada num decreto do Imperador César Augusto, que determinava que todos os habitantes do Império fossem recenseados no seu local de origem.
 
Muitos pintores do século XVI trataram temas religiosos, mas fizeram-no retratando as personagens cheias de beleza e em cenários palacianos ou em construções faustosas, contudo, Bruegel integrou este episódio  bíblico numa aldeia da sua Flandres, onde as personagens são camponeses, trabalhadores rurais, artesãos que vivem em humildes habitações.
 
Num cenário invernoso, caminham pela neve, à frente José, atrás Maria, montada num burro em direcção à hospedaria.
 
 
Estas duas personagens passam relativamente despercebidas, não se distinguem, nem pelo tamanho, nem pelo colorido, do resto da população daquela aldeia.
José e Maria chegam ao fim da tarde daquele dia de Inverno, quando o Sol, representado por um disco alaranjado, já desce no horizonte. 
 
 
Bruegel dá à representação da aldeia muito mais importância do que ao episódio bíblico.
 
A vida fervilha na praça desta aldeia, apesar do frio. Adultos e crianças partilham o espaço público com as galinhas, os porcos e os cães...
Neste fim de tarde, muitos camponeses, após os seus afazeres regressam aos lares, enquanto outros desempenham diferentes tarefas, como a matança do porco. As crianças que "polvilham" a obra e a quem ninguém presta atenção, brincam no gelo com os seus patins, piões e trenós improvisados.
 
 
As casas desta aldeia, apesar de estar a anoitecer, mantêm-se na escuridão, não se vê qualquer foco de luz através das janelas. A única fonte de iluminação vem da fogueira acesa junto de uma parede, em volta da qual alguns aldeões se reunem.
Interessante, nesta obra, é o funcionamento de uma taberna no interior oco de uma árvore, assinalada por uma tabuleta.
 
 
No canto inferior esquerdo ergue-se uma hospedaria, identificada por uma coroa verde. É para aí que se dirigem José e Maria para se recensearem.
 
 
Mas Bruegel não pinta uma acção de recenseamento, mas a cobrança de impostos: de um lado do balcão estão os que pagam e do outro os que recebem as moedas.
Se retirarmos o título a esta obra o que vemos é uma aldeia flamenga ocupada com as suas tarefas quotidianas e em que a população se encontra oprimida e subjugada pelos impostos cobrados por Filipe II de Espanha após a invasão dos Países Baixos. Metade dos impostos do imenso Império Espanhol devia ser cobrada nesta região. A população protestava, mas em 1567 o Duque de Alba exigiu impostos suplementares pretendendo desta forma humilhar e subjugar o povo flamengo.


1 comentário:

  1. Não conhecia o quadro.Apenas me pareceu uma representação executada por Bruegel...Obrigado pela informação detalhada.
    Um bom Ano Novo para vós.
    Abraços.
    José

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