... " Quero dormir e sonhar

um sonho que em cor me afogue:

verdes e azuis de Renoir

amarelos de Van Gogh." ...

António Gedeão
(1956)

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O Juramento dos Horácios

Horácios e Curiácios

Verdadeira ou lendária a luta entre Horácios e Curiácios foi registada, no século I a. C., pelo escritor latino Tito Lívio na obra "Ab Urbe Condita" e séculos mais tarde recuperada pelo dramaturgo francês Pierre Corneille (1606-1684) na tragédia "Horace".


O pintor Jacques-Louis David pensou certamente neste episódio da História de Roma, quando escolheu para a sua obra "O Juramento dos Horácios" o momento em que os irmãos Horácios juram, perante o seu pai, a sua lealdade a Roma.



 
 
Temas como este, ligados à Antiguidade Clássica, foram tratados com frequência no século XVIII, principalmente no período da Revolução Francesa, pois foi aí que encontraram o modelo para uma nova sociedade revolucionária e republicana.
 
 
O episódio que esteve na base do tema deste quadro remonta a uma época muito remota.


E a história aconteceu há muitos anos.
Há tantos, que temos de recuar ao ano de 669 a. C. , quando no reinado de Tullus Hostilius, deflagrou uma guerra entre Roma e Alba Longa para disputarem o domínio da Itália Central.
Decidiu-se então, para evitar o derramamento de muito sangue e para salvar vidas de ambas as cidades, que a disputa se resolveria num combate mortal entre três irmãos romanos - os Horácios, e três irmãos albanos - os Curiácios, cujas famílias tinham relações familiares muito próximas.
Da luta travada entre os dois grupos resultou a morte de dois irmãos Horácios. Os albanos festejavam já a vitória, quando o terceiro romano, Publius Horacius fingiu fugir. 
Partem, então, os Curiácios em sua perseguição, decidindo a dada altura separar-se, seguindo um para cada lado, no encalce do adversário.
O astuto Publius Horacius conseguiu ludibriá-los, voltando para trás surprendendo-os quando estavam separados. Apanhando-os sós, eliminou-os um de cada vez.
Volta a Roma, atravessa as portas da cidade em triunfo, entre a aclamação do povo, mas ao chegar à praça principal encontra, entre a população, a sua  irmã Camila, que tinha ficado noiva de um dos irmãos Curiácios. Esta ao reconhecer o manto que o irmão trazia aos ombros, como sendo um que ela tinha feito para o seu amado, apercebeu-se da terrível verdade e começa a chorar.
Publius Horacius enfurece-se por a irmã derramar lágrimas por um inimigo, precisamente no momento em que comemorava a vitória de Roma. Então, de imediato desembainha a espada e mata-a, exclamando: "Assim morra todo aquele que chora um inimigo de Roma!".



As acções dos Horácios tornaram-se um símbolo do patriotismo romano, segundo o qual o Estado estava acima do indivíduo.
Jacques-Louis David pretendeu mostrar com a obra "O Juramento dos Horácios" que o cumprimento do dever está acima de qualquer sentimento pessoal, tal como o fizeram os três irmãos Horácios que juraram derrotar os inimigos ou morrer por Roma.
"A obra mostra uma cena da história romana, onde os cidadãos republicanos, na qualidade de homens livres, pegam em armas para decidirem eles o destino do Estado. Neste caso não são portanto reis ou condes que tomam as decisões, mas sim cidadãos que se empenham responsavelmente pelo bem da nação. Pouco antes da Revolução Francesa, um quadro deste tipo, só podia parecer uma revelação.
Os contemporâneos não tardaram a louvá-lo como sendo "o quadro mais belo do século". *

*Kraube, Anna-Carola - História da Pintura do Renascimento aos nossos dias, Colónia, Könemann, 2001 

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