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Há algum tempo que tenho a intenção de colocar este post mas, por razões várias da minha vida, ainda não tinha tido oportunidade de o fazer. Falo da Exposição "A Perspectiva das Coisas - A Natureza-Morta na Europa" II Parte, que pode ser vista no Museu Calouste Gulbenkian, em Lisboa, até dia 8 de Janeiro de 2012.
Quem visita esta exposição observa um excelente espectáculo de luz e cor e tem uma óptima oportunidade de assistir ao dealbar da modernidade na pintura.
A II parte da Exposição "A Natureza-Morta na Europa" Séculos XIX-XX (1840-1955) parte de uma Europa transformada após o legado de Napoleão e se este género pictórico se manteve estável desde o século XVI até ao final do século XIX, vai sofrer "... uma fragmentação ou mesmo um colapso relativo no século XX, um século dominado pelas Vanguardas e pelo Modernismo". *
Nesta mostra estão reunidas 93 obras de 70 artistas, oriundas de Museus, Instituições, Colecções públicas e privadas espalhadas um pouco por todo o mundo e que o comissário Neil Cox (Professor da Universidade de Essex, especialista em arte francesa do século XX, com tese de doutoramento sobre Picasso) organizou não de forma cronológica, mas distribuindo-as por temas, abordados em 12 núcleos.
A Exposição começa com o núcleo "Reflexões sobre a presença" e um quadro de Paul Cézanne, "Natureza-Morta com Pote de Gengibre e Beringelas"- 1893-94.
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"O desafio que a arte da maturidade de Cézanne nos coloca é que façamos uma avaliação do que é coexistir com um mundo de coisas em nosso redor e de como percepcionamos e pensamos a realidade que se apresenta perante nós". **
A exposição continua com o tema "Negociar a tradição: dádivas da Natureza e artifícios". "Na segunda metade do século XIX, em Paris, muitos artistas procuraram rever a tipologia-padrão tipo das naturezas-mortas académicas patentes nos Salons oficiais. Mas foi preciso confrontar os códigos existentes, como fez Gustave Courbet, para se encontrar alternativas à tradição académica." **
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Édouard Manet
"Flores numa Jarra de Cristal"
c. 1882
Óleo sobre tela - 32,7x24,5 cm
Caminhando em direcção ao núcleo "Jogos de relações: a natureza-morta enquanto forma" encontramos, entre outros ...
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Claude Monet
"Ramo de Girassóis"
1881
Óleo sobre tela - 101x81,3 cm
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Vincent van Gogh
"Ramos de Castanheiro em Flor"
1890
Óleo sobre tela - 73x92 cm
O núcleo " Estrutura e espaço" abarca os primeiros anos do século XX que " ...ficaram marcados, na pintura, por uma rápida sucessão de inovações radicais: o abandono do naturalismo no desenho ou na cor e a rejeição sumária da construção em perspectiva, a própria representação podendo ser concebida de novo como uma linguagem de signos ou como vestígio expressivo da experiência subjectiva".**
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Juan Gris
"Vista da Baía"
1921
óleo sobre tela - 63,5x96,5 cm
Avançando na exposição encontramos o tema "Exílios e outros: política, primitivismo e o eu interior". "Uma das principais correntes de pensamento que contribuiu para o desenvolvimento da arte moderna foi a da crescente valorização dos indivíduos e das culturas consideradas marginais, "os estranhos" ou "os outros", por contraste com a "civilização" da Europa Ocidental. Gauguin e Van Gogh procuraram novos modelos para a sua arte entre as comunidades rurais e também nas estampas e outros objectos japoneses, como na "Natureza-Morta com leque".
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Paul Gauguin
"Natureza-Morta com Leque"
1888
Óleo sobre tela - 50x61cm
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Henri Matisse
"Natureza-Morta, Ramo de Dálias e Livro Branco"
1923
Óleo sobre tela - 50,2x61 cm
Em "A essência das coisas: materialidade e imaterialidade" podemos observar como na "arte moderna, a interrogação da existência das coisas anda a par de um questionamento radical das estratégias da representação. Os trabalhos de cubistas, futuristas e outros grupos da vanguarda colocavam uma variedade de questões profundas sobre as condições ou a perspectiva a partir das quais podemos apreender as coisas na pintura, sobre a natureza da realidade do mundo exterior, ou mesmo sobre a nossa capacidade de a transformar ou refazer." **
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Georges Braque
Natureza-Morta (Jornal e Limão)
1913
Óleo, grafite e carvão sobre tela - 34,8x26,7 cm
Caminhando mais um pouco encontramos o núcleo :"A vida moderna: máquinas e produção em massa" onde a máquina é celebrada pela primeira vez na arte moderna com o Futurismo, na obra de artistas como Carlo Carrà, Boccioni e Gino Severini."
Ao passarmos ao núcleo "Modernismo: identidades nacionais e a atracção de Paris" podemos apreciar como " o Modernismo parisiense foi para muitos artistas europeus a referência central no desenvolvimento das suas práticas artísticas." **
Neste núcleo encontramos trabalhos de artistas portugueses como Amadeo de Souza-Cardoso, Eduardo Viana, Mário Eloy e Vieira da Silva que estudaram nos círculos modernistas de Paris.
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Eduardo Viana
"K4 Quadrado Azul"
c.1916
Óleo sobre tela - 47,5x56 cm
E a visita prossegue com a tema "As próprias coisas: o choque da fotografia". "O desenvolvimento da natureza-morta na modernidade teve lugar a par com a circulação generalizada de fotografias e (posteriormente) com a invenção do cinema." **
E por que não avançar um pouco mais e observarmos o núcleo "A crise do objecto: sonhos e pesadelos"? " O Surrealismo, movimento literário e artístico fundado por Breton com diversos outros poetas, escritores e artistas franceses em 1924, procurava acima de tudo transformar a realidade através da força da imaginação." **
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René Magritte
"O Retrato"
1935
Óleo sobre tela - 73x50 cm
Estamos agora perante o núcleo "Da cena de caça ao horror" onde vi alguns visitantes recuarem discretamente, talvez pouco à vontade ... seria ?
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Pablo Picasso
"Natureza-Morta com Caveira e Três Ouriços-do-Mar"
1947
Óleo sobre tela - 60x72,5 cm
E estamos finalmente chegados ao último núcleo: "Da Perspectiva das coisas".
"Esta exposição coloca várias questões:
Afinal, o que significa a natureza-morta na modernidade?
Será que o género foi capaz de sobreviver aos muitos desafios que se colocaram, como é demonstrado pelas obras aqui presentes, derivados do Cubismo, Futurismo, Dadaísmo, Construtivismo e surrealismo?
E terá resistido à brutalidade dos acontecimentos ocorridos no mundo?" **
Com o percorrer desta exposição fazemos uma viagem através de vários tempos e geografias da natureza-morta na pintura ocidental.
Ao terminar esta visita tive a tentação de voltar atrás e rever todas as obras expostas, mas os meus olhos, a minha mente e o meu coração estavam cheios, não valia sobrecarregá-los, por isso prometi a mim mesma que havia de regressar e voltar a observar estas obras.
Aconselho vivamente uma visita a esta Exposição, mas não deixem para o final (8 de Janeiro de 2012) porque felizmente está a ser muito concorrida ...
Preço da entrada: cinco euros
* Catálogo da Exposição
** Desdobrável da Exposição
Gostaria de vos mostrar algumas imagens da montagem desta exposição:
Termino este post com uma vista geral da exposição:
Esta é uma exposição a não perder ...
Excelente resenha de tão importante Exposição,até agora a melhor que vi em blogues.Obrigado.
ResponderEliminarRetribuo abraços.
José
Caro José,
ResponderEliminarFico satisfeita por ter apreciado este meu post.
Esta Exposição fascinou-me, voltarei a ela em breve.
um abraço