O auto-retrato do pintor James Ensor (1860-1949) a "emergir" no meio de uma multidão de máscaras, que se empilha e empurra, chamou-me a atenção quando o encontrei enquanto folheava um livro de História da Arte. E pensei: que teria levado este pintor a auto-retratar-se de forma tão bizarra?
James Ensor
"Auto-retrato entre máscaras"
Óleo sobre tela - 117x82 cm
1899
Komaki (Japão), Menard Art Museum
A pintura de James Ensor inspirou-se na tradição flamenga (que vai de Bosch a Bruegel), nas representações medievais do inferno e nas alegorias moralistas do século XVII e aliou o irónico ao burlesco numa forte denúncia social.
Neste quadro J.Ensor rodeia-se de máscaras.
Há neste trabalho uma tensão entre o indivíduo (ele) e a multidão (máscaras) que o "esmagam", fazendo-o ressaltar para o quarto superior direito.
As máscaras e o indivíduo incorporam-se e ao olharmos o quadro não sabemos se vai ser a máscara a transformar-se em rosto, se o rosto a tornar-se máscara.
É nesta bipolarização máscara/indivíduo que "descobrimos" James Ensor. É uma meia-máscara, que surge entre a multidão, de rosto destapado para que o identifiquemos. Apresenta-se como uma figura aristocrática de barba e chapéu decorado com uma pena, olhando-nos por cima do ombro com uma expressão séria.
J. Ensor utilizou repetidamente as máscaras nos seus quadros.
Estava encantado por elas, cresceu e viveu rodeado de conchas, objectos exóticos e acessórios carnavalescos na loja de recordações da sua mãe, em Ostende (Bélgica)
Neste auto-retrato sentimos esse fascínio que o pintor tinha, desde a infância, pelo mundo das mascaradas. A composição deste quadro é quase a decoração da montra da loja da sua mãe.
Mas será só esse fascínio que o levou a pintar-se deste modo?
Talvez não.
Neste quadro, povoado de seres mascarados e coloridos, Ensor pinta-se numa postura barroca, querendo escapar desse mundo de alienados.
No início da sua carreira os seus trabalhos nem sempre foram bem aceites pelos críticos e pelos seus colegas pintores.
Só a partir de 1886 o seu trabalho começou a ser reconhecido e foi tendo cada vez mais sucesso.
Serão as máscaras, que o rodeiam, os críticos e os colegas artistas que o afrontavam?
Não o podemos confirmar, mas foi o próprio Ensor que afirmou:
"Comecei a ter prazer em pintar máscaras e, desde então, sempre as fiz. Então, pude verificar do ponto de vista filosófico a hipocrisia dos rostos, as suas tentativas para esconder o seus interesses, o seu engano. O meu novo estilo esmagou estes cobardes com o meu desprezo. Fiquei feliz com o caminho que escolhi. Naturalmente levou-me aos excessos e à violência da cor. Expus o ponto de vista egoísta subjacente na crítica dos meus colegas pintores, a sua ignorância e má fé, e na impotência dos críticos. Em grande medida, os ataques mesquinhos e maldosos destes antigos imitadores contribuíram para a minha busca desse extraordinário caminho de luzes e excessos. Desta vez, nenhum imitador se atreveu a seguir-me."
James Ensor, com Vincent Van Gogh e Eduard Munch, pertence à primeira fase da vanguarda expressionista, ainda impregnada de teorias simbolistas.
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