Lembro-me bem da minha meninice quando, na época natalícia, eu e os meus primos, na casa dos meus avós maternos, nos afadigávamos, na noite da consoada, a limpar muito bem a grande chaminé e a lá pôr o sapatinho (bem engraxado) para que o Menino Jesus aí depusesse os brinquedos que pensávamos merecer por termos sido "bons meninos" e nos termos portado muito bem durante o ano.
Dias antes fazíamos um grande presépio, para isso íamos buscar musgo aos muros que bordejavam os riachos onde murmurava a água que escorregava de escarpa em escarpa.
Mas ... a pouco e pouco o sapatinho na chaminé foi sendo substituído por um pinheiro que íamos cortar nas encostas da minha aldeia natal.
Era extraordinário o cheiro das folhas ponteagudas do pinheiro, que não era muito grande, a avaliar pela força de crianças dos 6 aos 10 anos a quem davam a tarefa de o procurar e trazer para casa, sob a supervisão da Delfina ( a criada interna da minha avó - agora dir-se-ia empregada doméstica ).
Em casa começávamos a enfeitá-lo com estrelas, bolas, chocolates (adorava-os em forma de sombrinha), chupa-chupas, nada de luzes... ( naquela aldeia não havia electricidade).
Não sei bem como se deu, na casa dos meus avós, a passagem do sapatinho na chaminé para a árvore de Natal.
Soube mais tarde que a árvore da Natal é uma tradição importada dos países nórdicos e anglo-saxónicos.
Quantas vezes li aos meus alunos "O Cavaleiro da Dinamarca" de Sophia de Mello Breyner Andresen e vi o brilho resplandecente dos seus olhos quando a escritora descrevia a lenda da árvore da Natal. Sophia conta-nos que o Cavaleiro, perdido e cansado, quando chega perto da sua casa se depara com o maior pinheiro do seu jardim todo enfeitado com milhares de estrelas, colocadas pelos anjos para lhe mostrarem o caminho. E foi assim que nasceu, na Dinamarca, a tradição de enfeitar os
pinheiros na noite de Natal que depois se espalhou pelo Mundo.
A chegada do uso da árvore de Natal a Portugal deu-se muito antes de eu e os meus primos a termos usado por volta dos anos 60.
Mal sabíamos nós que foi D. Fernando de Saxe Coburgo e Gotha, marido de D. Maria II, quem trouxera para Portugal esta tradição das cortes austríaca e alemã.
D. Fernando II - o Rei-Artista
"A chegada do Pai Natal"
Desenho, em água forte
1848
Este desenho de D. Fernando mostra-nos o próprio, que segundo os registos da época se vestia, na noite de Natal, com um largo capote com capuz e grandes bolsos onde escondia brinquedos que depois distribuía pelos seus filhos, que o rodeavam entusiasmados.
Ao fundo, mas em posição central, podemos observar uma árvore de Natal enfeitada com candelabros e brinquedos.
Terá sido D. Fernando II o primeiro pai Natal português?
Não sei, mas o meu menino Jesus foi "morto" pelo pai Natal quando o pinheiro, em casa dos meus avós, se enchia de presentes e nós corríamos para ele em vez de nos dirigirmos para a chaminé nas manhãs de 25 de Dezembro.
FELIZ NATAL !!!
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
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