Ontem, sábado, fui visitar uma das exposições patentes no Museu Nacional de Arte Antiga: " Primitivos Portugueses 1450-1550 - O Século de Nuno Gonçalves", que termina a 27 de Fevereiro de 2011.
Confesso que não apreciei o título desta Exposição, mas como explicou o seu Comissário, José Alberto Seabra Carvalho: "De facto, chamar "primitivos" a pintores como Jan van Eyck, Jean Fouquet ou Nuno Gonçalves (...) pode ser surpreendente e um pouco inadequado. Mas um nome como este tem a sua carga historiográfica e esta exposição, não sendo passadista, é memorativa e reivindica-se de um certo classicismo de ideias."
Esta Exposição está integrada nas Comemorações do Centenário da República e assinala o Centenário da primeira apresentação em público (1910) dos Painéis de S. Vicente do pintor régio Nuno Gonçalves, passando a ser apresentados como a obra "fundadora" e mais célebre da pintura portuguesa.
A visita a esta Exposição é uma "viagem" a cem anos de pintura retabular portuguesa,
entre "Anunciações", "Natividades", "Deposições no Túmulo", "Apresentações do Menino no Templo" ... e não poderia ser de outro modo, visto que o encomendador pretendia obras para igrejas, mosteiros, conventos, capelas ..., "explodem" os Painéis de S. Vicente, com temática ainda algo enigmática, em que as figuras dentro deles, podem ser retratos de portugueses que se sentam ao nosso lado no metro, no eléctrico ou nos cafés, salvaguardando as devidas diferenças da moda.
Obra-prima, sem dúvida, EXCEPCIONAL !!!
Nuno Gonçalves
Pormenor dos Painéis de S. Vicente
Óleo s/ madeira de carvalho
aprox. 207x504cm (total dos painéis)
c.1470
Museu Nacional de Arte Antiga
Mas voltando à minha visita aos "Primitivos Portugueses", percorri os seis núcleos que constituem esta Exposição. O primeiro dedicado ao Século XV está organizado em redor da obra de Nuno Gonçalves. Neste período a pintura portuguesa conseguiu autonomia relativamente à pintura peninsular, flamenga e italiana. Passei ao segundo núcleo, que abarca o reinado de D. Manuel I, onde se destacam pintores como Francisco Henriques, Frei Carlos ou Mestre da Lourinhã. Durante este reinado as fortes trocas comerciais com a Flandres trouxeram a Portugal muitos artistas flamengos influenciando os artistas portugueses.
No terceiro núcleo apreciei obras de "oficinas dispersas" - Viseu, Coimbra, Guimarães. Caminhei em direcção ao quarto núcleo, aí evoca-se a grande oficina existente em Lisboa ( entre 1510 e 1540, onde o artista mais famoso foi o pintor régio Jorge Afonso, que se relacionou com um grande número de artistas como Gregório Lopes, Garcia Fernandes e Cristovão Figueiredo.
Cristovão de Figueiredo
"Deposição no Túmulo"
Óleo s/ madeira de carvalho, 182x156cm
1521-1530
Museu Nacional de Arte Antiga
Passei ao quinto núcleo intitulado "Tempos de Mudança", em que a pintura portuguesa recupera o mundo clássico pintando "ao modo de Itália" integrando elementos da arquitectura clássica na decoração.
Entrando no último núcleo deparei-me com obras de Diogo Contreiras e dos Mestres de Abrantes e de Arruda cheias de expressividade dramática.
O aspecto mais original desta Exposição é o sector em que são apresentados materiais gráficos dedicados ao conhecimento, exposições e polémicas relacionados com os "Portugueses Primitivos" desde 1910.
Nesta zona há ainda uma vasta documentação laboratorial - a reflectografia de infravermelhos - que como afirmou o comissário é " ... um dos aspectos mais inovadores desta exposição."
Esta é uma Exposição a não perder ...
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também a designação de "primitivo" me surpreendeu
ResponderEliminare a explicação do responsável não me convence...
Nuno Gonçalves,quem quer que tivesse sido,parece-me inovar.
José