segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Observando um Quadro ... de Jacques-Louis David - nº 24

 
 
 
Não se consegue compreender o quadro "O Juramento dos Horácios" de Jacques-Louis David sem os ventos de mudança da Revolução Francesa, por isso, nos posts anteriores tentei contextualizar esta obra.
 
Jacques-Louis David, através deste quadro, exortou os franceses a jurar fidelidade aos valores éticos: recusa do luxo, disciplina, sacrifício, empenho pessoal, responsabilidade civil, patriotismo ...  para derrubarem o "ancien régime" e , por isso,  tornou-se rapidamente o principal representante do "Classicismo revolucionário".
 
Jacques- Louis David
"O Juramento dos Horácios"
1784/85
Óleo sobre tela - 330x425 cm
Museu do Louvre Paris
 
 
Ao observarmos este quadro o nosso olhar é encaminhado para as mãos do pai, que seguram as espadas dos trigémeos Horácios. É para aí que confluem todas as linhas de fuga. Jacques-Louis David quis com esta composição colocar no centro da obra o símbolo do juramento de fidelidade a Roma.
 



A cena decorre num pátio pavimentado, tendo ao fundo três arcos sustentados por colunas austeras e robustas ao estilo toscano. A cada arcada fez corresponder um grupo compositivo: no arco da esquerda - os trigémeos Horácios; no central - o pai segurando as espadas; no da direita - as mulheres e as crianças.

Obra cheia de dramatismo e teatralidade, conseguidos através da atitude  das personagens e do uso do claro escuro. A luz entra pela esquerda, projectando  as sombras dos guerreiros e do pai sobre as mulheres. As personagens sobressaem sobre a escuridão do fundo dos arcos dando um matiz intenso e dramático ao quadro.

Os guerreiros:




O grupo da esquerda é formado pelos trigémeos.
Guerreiros, viris, dispostos em paralelo segundo a técnica do relevo romano.
Estas personagens assemelham-se as estátuas, usam trajes de combate  e estendem o braço direito, com a palma da mão voltada para baixo, em direcção às espadas, num juramento de fidelidade.




O pai:





Situado no centro da acção, para ele convergem todas as atenções. Segura as espadas, levantando-as ao alto e perante as quais é feito o juramento dos irmãos Horácios que põem a sua vida à disposição de Roma.
O pai veste uma túnica vermelha que realça a intensidade do juramento, pois subentende-se que muito em breve, no combate, será derramado sangue.


As mulheres:




Este pormenor pode ser considerado um quadro dentro do quadro, nele aparecem três mulheres sentadas,  desoladas, abatidas, contrastando claramente com a atitude enérgica dos homens.
Colocadas atrás da cena masculina, num ambiente mais recolhido e privado, demonstrando que ao homem está reservado o espaço público e às mulheres o privado.
As cores utilizadas nesta parte do quadro não são tão brilhantes, nela predominam  o branco do vestido de Camila Horácio, irmã dos trigémeos Horácios, o ocre, o cinzento e o castanho de Sabina Curiácio, esposa de um dos Horácios e o azul cinza das vestes de uma aia, que protege os filhos de Sabina. Neste conjunto a única cor mais viva é o verde do turbante de Camila.
 
 
 
 
 
 
 
As personagens:
 

As personagens apresentam-se com grande teatralidade, de um lado os homens de contornos rígidos e rectilíneos, numa atitude enérgica e militar, demonstrando virilidade. Os trigémeos e o pai apresentam-se da mesma altura, formando o seu conjunto um rectângulo, enquanto que as pernas dos irmãos e do pai formam triângulos.
 
 
 
 
 
 Do outro lado estão as mulheres em posições nada rígidas. Sentadas, desesperadas, abatidas face aos futuros acontecimentos históricos. Neste apontamento do quadro predominam as linhas curvas.

Uma das características da pintura neoclássica  é a diferenciação do espaço masculino do feminino. Aos homens está reservado o espaço público, a guerra e o trabalho, às mulheres o espaço privado, a intimidade, as tarefas domésticas e chorar os mortos.
 
 
 
 
 
É de referir a constância do número três nesta obra.
 
 
Ao fundo, no cenário, vemos três arcos, que dividem o quadro em três zonas: a dos irmãos , à esquerda, a do pai, ao centro e a das mulheres e das crianças, à direita. Além dos arcos, são também três  espadas, três irmãos, três mulheres...
 
Está patente, neste quadro,  uma tragédia em três actos assinalados pelas personagens  que sobressaem dos três arcos da arquitectura de fundo.
 
Primeiro acto - declaração de guerra dos irmãos Horácios;
Segundo acto - juramento de fidelidade a Roma perante o pai que eleva as espadas;
Terceiro acto - desespero das mulheres.
 
    
Esta obra foi encomendada pelo rei Luis XVI .
Jacques-Louis David executou-a em 1784/85 e foi exposta pela primeira vez em 1785. Pintada poucos anos antes da Revolução Francesa rapidamente é assimilada pelos revolucionários como um apelo muito claro à virtude cívica.
 

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