Hoje, segundo a tradição, comemora-se a Noite das Bruxas e mesmo para aqueles que não acreditam nelas, há que ter em conta a velha frase popular da Galiza "eu non creo nas meigas, mais habelas hainas" - ( eu não acredito em bruxas, mas elas existem).
Não sei se Goya acreditava nelas, mas que as pintou, pintou ...
Francisco Goya (1746/1828), durante a sua longa vida, testemunhou um dos períodos mais conturbados da História da Europa. Viveu uma época marcada pelas ideias iluministas, pela Revolução Francesa e pelas Guerras Napoleónicas.
Entre 1808 e 1814 assitiu aos horrores da Guerra Peninsular, quando as tropas de Napoleão Bonaparte invadiram a Espanha, depõem o rei e o substituem pelo seu irmão José Bonaparte.
São deste período algumas das pinturas mais dramáticas de Goya.
Já antes da Revolução Francesa e das campanhas napoleónicas muitos artistas "agarraram" em temas relacionados com a morte, mas Francisco Goya foi, talvez, um dos mais arrojados quer nos temas que escolheu, quer na forma como os tratou.
Goya, após prolongada doença, passou de "pintor da corte" a "pintor político" e "crítico social" e as suas obras deixaram de transmitir apenas o mundo exterior em que vivia, para passar a revelar também as visões e os pesadelos que existiam no seu pensamento.
Em 1799 publicou uma série de 80 gravuras a água-forte intitulada "Caprichos" - palavra que está relacionada com fantasias pessoais e extravagâncias - que Goya caracterizava como caricaturas que não pretendiam atacar ninguém (esta era certamente uma forma de se defender e proteger de ataques jurídicos). Mas é precisamente através destas gravuras que Goya se dá a conhecer como apoiante das ideias iluministas.
Mas a par das gravuras perturbadoras da série "Caprichos" pintou também telas representando feitiçarias, assassinatos e a loucura.
O quadro "Bruxas no Ar" faz parte desse período do pintor.
Francisco Goya
"Bruxas no Ar"
Óleo sobre tela - 43,5x31,5 cm
1797-1798
Madrid, Colecção Jaime Ortiz Patiño
Neste quadro Goya pinta bruxas que se elevam enquanto sugam o sangue de alguém moribundo ou já morto. No solo um homem cobre a cabeça com um pano branco e faz "figas" com os dedos para afastar os maus espíritos, enquanto outro, aterrorizado, deitado no chão, protege a cara com as mãos para não ver a cena.
Esta noite das Bruxas sugeriu-me a apresentação deste quadro de Goya.
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