No último post coloquei uma imagem de um fresco de Giotto, pintado na Capella Scrovegni em Pádua.
Escolhi este trabalho pela temática alusiva à morte de Cristo, mas também por ter sido executado por Giotto di Bondone.
Muitas histórias e mitos se tecem à volta de Giotto.
Gosto particularmente de um episódio em que Cimabue, famoso pintor florentino, ao passar pela pequena cidade de Vicchio, observou o jovem Giotto que, enquanto tomava conta de um rebanho de carneiros, desenhava nas rochas um dos animais com tal precisão que o fascinou.
Sophia de Mello Breyner em "O Cavaleiro da Dinamarca" conta a história do seguinte modo: " Tal como Adão foi o primeiro homem da terra assim Cimabue foi o primeiro pintor da Itália. E foi ele quem descobriu o talento do jovem Giotto.
(...)
Enquanto as ovelhas pastavam a erva tenra de Abril, pastor, ajoelhado em frente dum penedo, desenhava. Era um rapazito que aparentava uns doze anos de idade e estava tão atento, tão absorvido no seu trabalho, que não viu chegar Cimabue (...).
Estava a desenhar um cordeiro. E havia tanto amor, tanta verdade e tanta beleza no seu desenho que o coração de Cimabue se encheu de espanto e de alegria.
(...)
- Como te chamas?
- Giotto.
- Ouve, Giotto. deixa as tuas ovelhas e vem comigo para Florença. Farei de ti meu discípulo e serás um dia um grande pintor."
E esta profecia cumpriu-se - Giotto tornou-se um grande pintor.
Tão afamado que Dante Alighieri na "Divina Comédia" -Purgatório- canto XI , faz uma reflexão sobre a efemeridade de toda a fama terrena e escreve:
"Cimabue acreditava deter o domínio na pintura mas agora o grito vai para Giotto e a fama do anterior é assombrada"
Também Giorgio Vasari, pintor e escritor de arte, descreve a relação entre Cimabue e Giotto como de mestre e aluno, mas ressalta que, a pouco e pouco, Giotto se foi tornando mais célebre, ensombrando o brilho de Cimabue.
Em 1550, Vasari escreveu as biografias dos mais importantes artistas italianos -"Descrição das Vidas dos mais famosos Arquitectos, Pintores e Escultores Italianos", que pode ser considerada a primeira "História da Arte". Nesta obra Vasari designa Giotto como "Pai da Pintura", fazendo-o encabeçar a lista dos pintores da modernidade.
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