segunda-feira, 20 de setembro de 2010
Observando um Quadro ... de Ribera ... nº 11
José Ribera
"A mulher barbuda"
(A estranha napolitana Magdalena Ventura)
Casa Ducal de Medinaceli, Toledo
Há quadros que prendem o meu olhar, despertam as minhas emoções pela beleza, pela cor, pelo movimento, pela pincelada, pela energia, pelo ... pelo insólito.
É o caso deste quadro, um dos mais insólitos da pintura europeia do século XVII e que constitui um caso à parte na obra de José Ribera (1591-1652), um dos pintores mais importantes da escola espanhola.
Foi encomendado pelo Vice-rei D. Fernando Afan de Ribera y Enriquez (1570-1637) para ser oferecido ao Rei D. Filipe III, como testemunho deste caso invulgar. Actualmente encontra-se depositado no Hospital Tavera de Toledo, sede da Fundação Casa Ducal de Medinaceli.
O imenso talento e virtuosismo de José de Ribera conseguiu, a partir de uma cena que não tem harmonia nem beleza, criar uma obra de arte espantosa em que é retratada a situação dramática de Magdalena Ventura, uma mulher de 52 anos que sofria de hirsutismo, amamentando o seu filho, com o seu segundo marido Felici de Amici, triste e conformado.
Consta que a sua doença, provocada pela produção excessiva de hormonas masculinas nos ovários ou nas glândulas supra-renais, surgiu-lhe subitamente aos 37 anos quando começou a ter barba e bigode. Foi mãe sete vezes, três antes do aparecimento da doença e quatro depois, casou duas vezes.
Neste quadro é notória a influência do "mestre das trevas", Caravaggio, em que as figuras surgem misteriosamente da escuridão, recortadas pela luz que incide sobre elas. A pincelada é rigorosa, não há pormenor que seja ignorado.
É um quadro de grande valor documental, do qual são conhecidas duas cópias, uma de pequenas dimensões depositada no palácio de La Granja e outra da Colecção Ruiz de Alda em Madrid.
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