Ir a Madrid é sempre um prazer e visitar o Museu do Prado um deslumbramento, principalmente agora que este museu abriu mais salas dedicadas a Velázquez.
A obra de Velázquez está, desde Junho, organizada cronologicamente e por temas em sete salas.
No entanto, apesar das mudanças introduzidas, o quadro "As Meninas" continua a presidir a grande sala basilical, no núcleo - Velázquez, O Retrato Real.
"As Meninas" é um quadro que tem associado a si o nome do seu autor, referimo-nos a ele como "As Meninas" de Velázquez.
Este artista, ao serviço dos reis de Espanha, pintava por encomenda temas religiosos e retratos de gente da corte, sendo este o caso.
Não se sabe exactamente para quê e por quê foi executado este quadro, mas sabemos identificar com exactidão tudo o que ele nos revela.
O pintor, nesta tela monumental, apresenta uma composição extremamente elaborada, nela visualizamos vários núcleos. Ao centro vemos a princesa Margarida (filha dos reis de Espanha e possível herdeira ao trono), rodeada por duas meninas (damas de honor), Dona Isabel de Velasco à direita e Dona Maria Agustina Sarmiento do Sotomayor à esquerda. Em primeiro plano à direita estão retratados a anã Mari-Bárbola e Nicolás de Pertusato que brinca com um cão sonolento. Atrás encontram-se Dona Marcela de Ulloa - camareira-mor e Dom Diego Ruiz Axcona - guarda-damas. Ao fundo vemos Dom José Nieto Velázquez que levanta levemente a cortina, deixando a luz penetrar no aposento real, transformado em atelier do artista. Ao centro, atrás da princesa, vemos um espelho reflectindo as figuras dos reis de Espanha, Filipe IV e Mariana de Austria. Finalmente, à esquerda, perto da tela alta, encontramos o próprio pintor - Diego Rodriguez de Silva y Velázquez (1599-1660).
Quis apresentar este quadro precisamente pelo auto-retrato de Velázquez.
O artista pinta-se em frente da tela enorme, com pincel e paleta nas mãos. O pincel sai levemente da paleta e o olhar do pintor, em vez de se orientar para a tela, dirige-se para o observador. Parece que o está a retratar.
Mas afinal quem está a ser retratado nesta tela tão grande?
Os reis de Espanha, que vemos reflectidos no espelho e colocados no mesmo plano do observador?
Não sabemos ao certo.
Mas verificamos que Velázquez, provavelmente colocou o casal real num espaço invisível em frente ao quadro, onde nos encontramos como espectadores e apenas o torna visível através do seu reflexo no espelho, enquanto que se coloca a si próprio no interior do quadro, bem visível, dominando toda a encenação que criou.
Velázquez, neste quadro, demonstra o seu extraordinário estatuto como artista da corte de Filipe IV de Espanha.
Poderíamos dizer como o pintor Édouard Manet, que durante uma temporada em Madrid (1865) e após uma visita ao Museu do Prado, escreveu ao seu amigo, o pintor Henri Fantin-Latour - "Velázquez, por si só, justifica a viagem. Os pintores de todas as escolas que o rodeiam, no museu de Madrid, parecem simples aprendizes. É o pintor dos pintores"
Aprecio muito a construção deste quadro.Permita-me que sugira a leitura do 1º capítulo de "As Palavras e as Coisas" de Michel Foucault sobre "Las Meninas" onde é profundamente questionada a relação pintor-espectador e que amplia o seu belo
ResponderEliminartexto.Obrigado.
José
Muito obrigada pelo seu comentário e pela sua sugestão.
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