quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Clotilde - a mulher e musa do pintor Sorolla

Como escrevi no post anterior, está patente até dia 14 de Outubro, na Casa Museu Sorolla, uma exposição sob o título: "Clotilde de Sorolla".
Esta exposição mostra como a esposa de um pintor se pode tornar na sua musa.
São várias as obras retratando Clotilde García del Castillo, com quem Joaquín Sorolla  casou em Setembro de 1888. Clotilde era uma das filhas do seu protector Antonio García Peris, afamado fotógrafo valenciano.



A exposição decorre nas salas do 1º andar e está estruturada em 4 núcleos: a intimidade; a musa; a mulher do grande artista; e a fundação do museu. Nela são mostrados retratos individuais, cenas familiares, objectos pessoais, cartas e documentos; com esta selecção o Museu Sorolla pretende dar a conhecer a vida quotidiana de Joaquín Sorolla através da sua mulher e musa, Clotilde García del Castillo.


 
 
"Clotilde com vestido cinzento" - 1900
 
 
"Clotilde a estudar" - 1900
 


"Clotilde lendo o jornal"
 
 
 "Clotilde García del Castillo" - 1890


 

"A minha mulher e os meus filhos"
 


 
"Perfil de Clotilde" - 1884 e "Retrato de Clotilde"   
 
"Clotilde com cão e gato" 
 
 
 
 
"Clotilde com chapéu" - 1910
 
 
 
 
"Clotilde no jardim" - 1919/20 
 




"Clotilde com mantilha preta" - 1919 / 20





Joaquín e Clotilde viveram uma bela história de amor

 
  
 

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Museu Sorolla

O pintor Joaquín Sorolla Bastida ocupa um dos  primeiros lugares da lista dos meus pintores preferidos, por isso, quis sentir o ambiente em que viveu e trabalhou.
Estive em Madrid, há poucos dias, para visitar a Exposição retrospectiva de Edward Hopper, mas não pude deixar de ir ao Museu Sorolla, uma bela mansão, rodeada de um jardim luxuriante, onde se ouve a água a correr que refresca e acalma o calor madrileno desta época do ano.
Felizmente a viúva de Sorolla, Clotilde Garcia del Castillo, doou ao Estado Espanhol, em 1925, a sua casa e as suas colecções de obras de arte, a partir das quais foi criada a Casa Museu Sorolla, o que possibilitou aos admiradores deste pintor entrar na casa em que viveu.

Ao sair do Metro caminhei algum tempo ao longo do Passeio General Martinez Campos até que no meio de vários prédios altos encontrei no nº 37, uma casa à antiga rodeada de vegetação. Ao passar o portão deparei-me com um belíssimo  jardim.

Neste post, quero partilhar algumas fotografias deste espaço onde, certamente, Sorolla trabalhou e descansou.

Antes de mandar plantar este jardim, Joaquín Sorolla delineou e desenhou as diferentes partes que o constituem, tendo estes esboços  já feito parte de uma exposição temporária deste museu.

Este jardim está dividido em três partes: uma em frente da fachada; outra, um espaço rectângular, intermédia entre as duas; e finalmente a parte do fundo.

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1º Espaço:

Entrada da mansão
 
 
Este primeiro espaço está concebido mais como um pátio andaluz do que como um jardim.

 
As relações com o mundo sevilhano podem ser vistas com a presença deste banco de manufactura moderna de Triana.

2º Espaço:


Este foi o espaço mais trabalhado por Sorolla, existem muitos esboços e desenhos.


Se o primeiro espaço é de inspiração sevilhana, este é nitidamente de inspiração granadiana.
Como o espaço era reduzido Sorolla diminuiu o comprimento do canal que comunica com o tanque de mármore. Nesta parte do jardim a influência granadiana junta-se à italiana, onde sobressaem  colunas que envolvem um banco revestido de azulejos. Atrás do banco encontra-se um Togado romano procedente de Cástulo.


Togado Romano



 
À esquerda  encontramos uma ingerência do renascimento italiano, com uma colunata adornada com três reproduções de bronzes pompeianos.


3º Espaço:

Composto à base de rectângulos vegetais com um tanque ao centro.

 
Fonte da Confidências


Atrás do tanque está a Fonte das Confidências ( do escultor valenciano Francisco Marco Diáz Pintado ).
Em frente deste espaço, Sorolla colocou uma pérgola, composta por várias colunas , onde se encontra, hoje, um busto do pintor, oferecido pela The Hispanic Society of America de Nueva York.


Busto de Sorolla





Esta Casa Museu é muito acolhedora. Os madrilenos têm por ela um grande carinho.

Neste momento, além da exposição permanente, está patente uma exposição temporária até 14 de Outubro, intitulada: "Clotilde de Sorolla".
 
Referências : Guia do Museu Sorolla 

sábado, 8 de setembro de 2012

A paleta de Renoir

 

Pierre-Auguste Renoir

 
 
Auto-Retrato
1897
Óleo sobre tela - 41x33 cm
Instituto de Arte Sterling , Francine Clark
EUA
 
Escolhi o trecho abaixo transcrito para partilhar, pois pareceu-me, de alguma maneira , retratar o modo de trabalhar deste pintor genial.
 
 
" A paleta de Renoir era limpa "como uma moeda nova". Era uma paleta quadrada que se encaixava na tampa do estojo, que tinha a mesma forma. Num dos godés duplos, punha óleo de linhaça puro e no outro uma mistura de óleo de linhaça com essência de terebentina, em partes iguais. Numa mesa baixa, colocada ao lado do cavalete, tinha um copo cheio de essência de terebentina em que enxaguava o pincel, praticamente após cada aplicação de cor.
 
 Na caixa, e em cima da mesa, tinha alguns pincéis de reserva. Nunca tinha em uso mais do que dois ou três ao mesmo tempo. Mal começavam a ficar gastos, esborratavam, ou por qualquer outra razão deixavam de lhe proporcionar uma absoluta precisão de pincelada, deitava-os fora. Exigia que destruíssem os pincéis velhos, não fosse ele pegar em algum deles por engano enquanto trabalhava.
 Na mesinha havia também panos limpos, com os quais secava de vez em quando o pincel.

A caixa, tal como a mesa, estavam sempre perfeitamente arrumadas.

Os tubos de tintas eram enrolados a partir da dobra, de forma a obter, ao espremê-los, a quantidade exacta de tinta pretendida.
 
No princípio da sessão de trabalho, a paleta, que tinha sido limpa no fim da sessão anterior, estava imaculada. Para a limpar, começava por raspá-la, vertendo os resíduos para um papel, que atirava logo para o lume. Em seguida, esfregava-a com um pano embebido em essência de terebentina até que não houvesse o mínimo resquício de tinta na madeira. O pano ia também para o lume.
 
Os pincéis eram lavados com água fria e sabão. Recomendava que esfregassem suavemente os pêlos na palma da mão. De vez em quando encarregava-me desta operação, o que me enchia de orgulho.
 
Renoir descreveu pessoalmente a composição da sua paleta numa nota que a seguir transcrevo e que data, evidentemente, do período impressionista:
 
Branco de prata, amarelo de crómio, amarelo-de-nápoles, ocre amarelo, terra-de-siena natural, vermelhão, laca de garança, verde-veronês, verde-esmeralda, azul-cobalto, azul-ultramarino, espátula, raspadeira, essência, tudo o que é necessário para pintar. O ocre amarelo, o amarelo-nápoles e a terra-de-siena são meros tons intermédios que são dispensáveis, pois podem fazer-se com outras cores. Pincéis redondos de pêlo de marta, pincéis chatos de seda.
 
 
Registe-se a ausência do preto, "a rainha das cores", como ele próprio iria proclamá-lo no seu regresso de Itália.
 
À medida que se aproxima do fim da vida irá  simplificar ainda mais a sua paleta. A ordem de que me lembro na época em que pintava "As Grandes Banhistas" do Louvre, no ateliê de Les Collettes, era a seguinte: começando de baixo, junto da abertura para o polegar, o branco de prata, em quantidade generosa, o amarelo-de-nápoles num montículo minúsculo, tal como todas as cores que se seguem - o ocre amarelo, a terra-de-siena, o ocre vermelho, a laca de garança, a terra verde, o verde-veronês, o azul-cobalto, o negro-marfim.
Esta selecção de cores não era inalterável. Eu vi Renoir, embora em raras ocasiões aplicar vermelhão chinês que punha na paleta entre a laca de garança e a terra verde. Nem Gabrielle nem eu o vimos usar o ocre de crómio.

Esta exiguidade de meios era impressionante.  Os montículos de tinta pareciam perdidos na superfície de madeira, rodeados de vazio. Renoir encetava-os com parcimónia, com respeito. Era como se achasse que iria ofender Mullard, que lhe tinha preparado meticulosamente aquelas cores, se atafulhasse a paleta com elas e depois não as usasse até à mais pequena parcela.
 
Quase sempre misturava as tintas na tela. Preocupava-se muito em que o quadro mantivesse, ao longo de todas as fases do trabalho, uma impressão de transparência."
 
Renoir, Jean - "Pierre-Auguste Renoir, meu Pai" , págs 336 a 338, 2005, Ed. Bizâncio, Lisboa.

 
 
Capa do livro 
 
 
 
Há pouco mais de uma semana terminei a leitura deste livro sobre Pierre- Auguste Renoir.
Foi um prazer a sua leitura e ao mesmo tempo um "mergulho" no mundo de Renoir: quotidiano, família, amigos, pensamentos, obra, época em que viveu ...
É uma  biografia, escrita, de forma muito terna por um dos seus filhos, Jean Renoir.
 
Aconselho-a aos admiradores de Renoir, e não só ...