segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Um olhar ... José Escada

"Nós devemos a cada instante, reconquistar o sentido da vista, pois os nossos olhos transformam-se rapidamente em holofotes distraídos.
Olhemos, por consequência, gratuitamente."
José Escada


José Escada nasceu em Lisboa em 1934.
Ainda antes dos 20 anos, teve um atelier no Rossio, com Lourdes Castro, René Bertholo, João Vieira e Gonçalo Duarte, seus companheiros da ESBAL (Escola Superior de Belas Artes de Lisboa).
Muito activos começaram a participar em exposições, sobretudo nas iniciativas da Sociedade Nacional de Belas Artes e editaram de 1953 a 1955 a revista VER.
Profundamente católico, José Escada aderiu ao Movimento de Renovação de Arte Religiosa.

Nos finais dos anos 50 parte para Paris.
Em 1960, com os companheiros de atelier, que também tinham partido para Paris e a que se juntaram Costa Pinheiro, Jan Voss e Christo Javacheff forma o KWY. O grupo expõe em Sarrebrucken, Lisboa, Paris e Rio de Janeiro.
Em 1962, em Roma, concedeu uma entrevista à rádio italiana onde criticou o regime de Salazar, facto que lhe valeu o estatuto de exilado.
Em 1968, Marcelo Caetano pôs fim ao seu exílio político.
José Escada faz parte do grupo de artistas que contribuiram, nos anos 60, para a renovação da arte portuguesa.

Tirando algumas obras dos anos 60 os seus desenhos, pinturas e recortes têm quase sempre uma matriz figurativa.

Morre em 1980, com 46 anos.

Maria Arlete Alves da Silva (texto adaptado)



quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A não perder ... Exposição de José Escada

Visitei há algumas semanas uma exposição do pintor José Escada (1934-1980), no Centro de Arte-Colecção Manuel de Brito, Palácio Anjos/Algés, que vai estar patente até dia 2 de Outubro.

Esta exposição mostra um conjunto considerável de obras, mais de 70 de 1951 a 1979, percorrendo as várias fases do pintor.
Mas a obra de José Escada, apesar desta exposição, permanece ainda desconhecida e a necessitar de um trabalho de pesquisa e apresentação/divulgação mais vasto.

José Escada começou como artista por volta dos anos 50, nesta fase a sua obra aproxima-se de Jean Bazaine e Alfred Manessier pela abordagem que estes pintores fizeram à arte religiosa. Nos anos 60, quando já estava emigrado/exilado em Paris admirou Paul Klee e Matisse e na sua fase de realismo simbólico aproximou-se da Gauguin.
Segundo Eurico Gonçalves "O trajecto estético de José Escada passa pelo informalismo
gestual , a pintura-desenho de signos-neofigurativos a caligrafias em relevo, recortadas em cartolina e material plástico de cor translúcida, antes de desembocar no realismo poético, autobiográfico e intimista, da sua derradeira fase".

Fiquei interessada em conhecer a obra deste artista que tão precocemente deixou a vida (aos 46 anos).
Mas como escreveu António Alçada Baptista, seu amigo, "Para os que julgam que ele acabou no desespero, posso assegurar que, cada vez mais despojado das coisas, morreu na esperança e que, com ela, manteve até ao fim o olhar, a curiosidade e a inquietação da infância".

Foi este olhar, esta curiosidade e esta inquietação que encontrei tanto nos trabalhos a tinta da china, como nos com jogos de cor e formas simétricas que se repetem, repetem ...
Mas as minhas emoções explodiram numa pequena sala, tão intimista, quase um relicário, onde estão expostas as obras que mais me sensibilizaram: "Rosácea", "A levitação", "Pensando em Chartres" ...

Esta é uma exposição a não perder...


José Escada
"Pensando em Chartres"
Óleo sobre tela - 32x46cm
1971

Referências:

"Repetir transformando" - José Luis Porfírio - Suplemento Atual do Semanário Expresso - 6/8/2011;
"O senhor dos papéis" - Cláudia Almeida - Revista Visão - 8/9/2011;
"José Escada no CAMB - Centro de Arte Manuel de Brito" - Catálogo da Exposição;
"José Escada" - Folheto Informativo da Exposição