No último post escrevi sobre algumas "Dánae" de Ticiano e digo isto porque além das que vos apresentei existem outras que são atribuídas a Ticiano.
Mas como prometi vou continuar com este tema mitológico visto por outros pintores.
Rembrandt (1606-1669) foi outro artista que representou Dánae.
Rembrandt
"Dánae"
Óleo sobre tela - 185x202,5cm
Museu do Hermitage - São Petersburgo
Esta obra é incrivelmente audaz para a pintura holandesa do século XVII; mostra-nos uma mulher completamente nua e muito próxima do observador.
Rembrandt não representou a chuva de ouro, alterando assim a clássica iconografia do encontro amoroso entre Dánae e Zeus.
Esta heroína mitológica surge neste quadro como esperando o amado e por isso tem sido algumas vezes confundida com Vénus esperando Marte.
Mas o mito de Dánae não podia escapar a Gustav Klimt (1862-1918), porque a sua arte é plena de sensualidade e erotismo. A mulher é o seu principal tema, quase exclusivo: pinta-a nua ou sumptuosamente ornamentada, deitada ou em pé, em todas as posições e atitudes.
Como podia deixar de pintar Dánae?
Klimt não lhe ficou indiferente e na Exposição de 1908 apresenta duas alegorias da humanidade, uma delas Dánae.
Pinta-a como um "paparazzo", tornando-nos "voyeurs" e cúmplices.
Gustav Klimt
"Dánae"
Óleo sobre tela
1907/08
Colecção Privada, Viena
Klimt "fixa" o momento em que Zeus "visitou" Dánae disfarçado de chuva de ouro e dessa visita nasceu um filho: Perseu.
Gustav Klimt escolheu pintar o momento preciso da concepção de Perseu: uma torrente de moedas de ouro misturadas com espermatozóides dourados transbordam entre as coxas volumosas da "princesa adormecida".
O mito de Dánae, para Klimt, não é mais do que um pretexto para representar o extâse amoroso feminino.
Vou deixar-vos com algumas das muitas Dánae pintadas por artistas de várias épocas:
Jan Gossaert (1478-1533)
Antonio da Corregio (c.1489-1534)
Domenico Tintoretto (c. 1518-1594)
Gaspar Becerra (1520-1570)
Hendrik Goltzius (1558- 1617)
Orazio Gentileschi (1563-1639)
Artemisia Gentileschi (1593-1653)
Joachim Wtewael (1566-1638)
Cornelius van Poelenburgh (1594-1667)
Antonio Bellucci (1654-1726)
Giambattista Tiépolo (1696-1770)
François Boucher (1703-1700)
Carolus Duran (1837-1917)
Alexandre Jacques Chantron (1842-1918)
Léon-François Comerre (1850-1916)
Egon Schiele (1890-1918)
Matisse ( 1869-1954)
terça-feira, 30 de agosto de 2011
domingo, 21 de agosto de 2011
Observando um Quadro ... As Dánae de Ticiano - nº 16
Este Verão, tímido e titubeante, hesita entre dias joviais de Sol pleno e dias de "cortinados" corridos, de um cinza plúmbeo, que não deixam passar os raios de luz que enchem a nossa alma de alegria.
E foi num desses dias cinzentos de chuva miúda e impertinente, enquanto passeava o meu cão, que me pus a observar o céu e dele caía uma poalha prateada que repassava as laçadas do meu casaco de malha e me deixava encharcada.
Ah! E ... se em vez de pó de chuva prateada, caísse do céu pó de chuva de ouro?
Talvez muita crise que por aí anda diminuísse. Ou talvez não!
Mas isso são contas de outro rosário.
E a caminhada lá continuou com passada vigorosa, sim, porque o meu cão não é amigo da passeios calmos, gosta de passo apressado e correrias tresloucadas.
E ia eu nisto, quando me veio à memória um episódio da mitologia grega em que entra a princesa Dánae, mãe do herói Perseu.
O mito de Dánae foi, ao longo dos tempos, muito difundido tanto na literatura ( grega, latina e medieval) como nas artes plásticas.
Vamos então ao mito de Dánae:
Dánae era filha de Acrísio, rei de Argos.
Acrísio, um dia consultou o oráculo de Delfos, que predisse que morreria às mãos de um neto, filho de Dánae.
Assustado com esta predição e para evitar que se cumprisse, decidiu encerrar a filha, juntamente com uma serva, numa câmara de bronze subterrânea que mandara construir.
Mas apesar de todas estas precauções, Dánae concebeu um filho.
Como?
Não há impedimentos para os deuses! Nem para o ouro!
O deus Zeus enamorando-se pela jovem Dánae decidiu chegar até ela transformando-se numa fina chuva de ouro entrando na câmara subterrânea através de uma fenda. Desta união nasce uma criança: o herói Perseu.
Este mito foi frequentemente invocado como símbolo do poder absoluto do ouro sobre os corações humanos e como símbolo da capacidade que o ouro tem de abrir as portas mais aferrolhadas.
Esta história mitológica continua com episódios intrincados e narrativas cheias de acção e aventura, mas vou ficar por aqui.
Apenas acrescento que a predição do oráculo de Delfos se cumpriu: Perseu, filho de Dánae, matou Acrísio, seu avô.
O mito de Dánae tem agradado a artistas que o têm representado nas suas obras, desde a época clássica (nos vasos gregos de figuras vermelhas)
até aos nossos dias, passando por pintores renascentistas e barrocos.
O pintor veneziano, Ticiano (Tiziano Vecellio)(1490(?) - 1576) tratou este tema mitológico em diversas ocasiões a pedido de ilustres personagens, desejosas de possuir uma imagem da beleza feminina cheia de erotismo.
No Museu do Ermitage (São Petersburgo) encontra-se uma dessas obras de Ticiano.
Ticiano
"Dánae"
Óleo sobre tela - 120x187 cm
1553
Museu Ermitage - São Petersburgo
Ticiano pintou Dánae como uma jovem numa pose voluptuosa, junto à velha serva que procura recolher, no avental, o que sobra da chuva de ouro que cai do céu.
Ticiano ao incluir a velha serva pretende evidenciar, por contraste, a avidez desta e a juventude e beleza da rapariga convertida em receptáculo.
Esta Dánae do Museu do Ermitage é muito semelhante a outra que Ticiano pintou para o rei Filipe II de Espanha e que se encontra no Museu do Prado (Madrid).
Ticiano
"Dánae recebendo a chuva de ouro"
Óleo sobre tela - 129x180 cm
1553/54
Museu do Prado - Madrid
Esta obra está inserida numa série de obras mitológicas que este artista pintou para Filipe II e a que ambos chamaram "Poesias".
Este quadro do Museu do Prado é muito belo e sensual, mostra uma jovem mulher nua, reclinada e outra velha, vestida, sentada de costas, levantando o avental para receber parte das moedas de ouro que iam caindo.
A obra está dividida em três partes: no lado esquerdo encontra-se Dánae, deitada numa pose sensual, no direito está a velha serva e no centro o céu negro que a pouco e pouco se torna dourado e de onde caem as moedas ou pó de ouro e que faz a união dos dois mundos (o de Dánae e o da velha serva).
A postura desta jovem mulher nada tem de púdica, até parece abandonar-se com prazer à presença do deus Zeus. Tudo indicia desejo sexual: o tom de pele claro, a boca entreaberta, o cabelo desalinhado caindo sobre o peito, a atitude brincalhona com o cãozito.
Ticiano apresenta-a como uma cortesã.
Esta Dánae espanhola, conservada no Museu do Prado, foi precedida por uma versão encomendada pelo príncipe Ottavio Farnesio ou pelo Cardeal Alessandro Farnesio ( as fontes apontam os dois nomes) e que hoje se encontra no Museu Capodimonte, em Nápoles.
Só nesta versão é que Ticiano fez acompanhar Dánae de Eros, o Cupido, deus do amor.
Ticiano
"Dánae e o Cupido"
Óleo sobre tela - 117x69 cm
1545
Museu Capodimonte - Nápoles
Estes quadros têm muitas semelhanças, por exemplo a pose da protagonista, mas no do Museu de Capodimonte, os efeitos da luz realçam, há um grande contraste entre o fundo escuro e o branco níveo da pele de Dánae, nos outros dois, nos dos Museus do Ermitage e do Prado os contrastes são mais cromáticos. Neste último a paleta é mais desenvolta e vibrante.
Este tema mitológico tem apaixonado muitos pintores, a ele voltarei em breve.
E foi num desses dias cinzentos de chuva miúda e impertinente, enquanto passeava o meu cão, que me pus a observar o céu e dele caía uma poalha prateada que repassava as laçadas do meu casaco de malha e me deixava encharcada.
Ah! E ... se em vez de pó de chuva prateada, caísse do céu pó de chuva de ouro?
Talvez muita crise que por aí anda diminuísse. Ou talvez não!
Mas isso são contas de outro rosário.
E a caminhada lá continuou com passada vigorosa, sim, porque o meu cão não é amigo da passeios calmos, gosta de passo apressado e correrias tresloucadas.
E ia eu nisto, quando me veio à memória um episódio da mitologia grega em que entra a princesa Dánae, mãe do herói Perseu.
O mito de Dánae foi, ao longo dos tempos, muito difundido tanto na literatura ( grega, latina e medieval) como nas artes plásticas.
Vamos então ao mito de Dánae:
Dánae era filha de Acrísio, rei de Argos.
Acrísio, um dia consultou o oráculo de Delfos, que predisse que morreria às mãos de um neto, filho de Dánae.
Assustado com esta predição e para evitar que se cumprisse, decidiu encerrar a filha, juntamente com uma serva, numa câmara de bronze subterrânea que mandara construir.
Mas apesar de todas estas precauções, Dánae concebeu um filho.
Como?
Não há impedimentos para os deuses! Nem para o ouro!
O deus Zeus enamorando-se pela jovem Dánae decidiu chegar até ela transformando-se numa fina chuva de ouro entrando na câmara subterrânea através de uma fenda. Desta união nasce uma criança: o herói Perseu.
Este mito foi frequentemente invocado como símbolo do poder absoluto do ouro sobre os corações humanos e como símbolo da capacidade que o ouro tem de abrir as portas mais aferrolhadas.
Esta história mitológica continua com episódios intrincados e narrativas cheias de acção e aventura, mas vou ficar por aqui.
Apenas acrescento que a predição do oráculo de Delfos se cumpriu: Perseu, filho de Dánae, matou Acrísio, seu avô.
O mito de Dánae tem agradado a artistas que o têm representado nas suas obras, desde a época clássica (nos vasos gregos de figuras vermelhas)
até aos nossos dias, passando por pintores renascentistas e barrocos.
O pintor veneziano, Ticiano (Tiziano Vecellio)(1490(?) - 1576) tratou este tema mitológico em diversas ocasiões a pedido de ilustres personagens, desejosas de possuir uma imagem da beleza feminina cheia de erotismo.
No Museu do Ermitage (São Petersburgo) encontra-se uma dessas obras de Ticiano.
Ticiano
"Dánae"
Óleo sobre tela - 120x187 cm
1553
Museu Ermitage - São Petersburgo
Ticiano pintou Dánae como uma jovem numa pose voluptuosa, junto à velha serva que procura recolher, no avental, o que sobra da chuva de ouro que cai do céu.
Ticiano ao incluir a velha serva pretende evidenciar, por contraste, a avidez desta e a juventude e beleza da rapariga convertida em receptáculo.
Esta Dánae do Museu do Ermitage é muito semelhante a outra que Ticiano pintou para o rei Filipe II de Espanha e que se encontra no Museu do Prado (Madrid).
Ticiano
"Dánae recebendo a chuva de ouro"
Óleo sobre tela - 129x180 cm
1553/54
Museu do Prado - Madrid
Esta obra está inserida numa série de obras mitológicas que este artista pintou para Filipe II e a que ambos chamaram "Poesias".
Este quadro do Museu do Prado é muito belo e sensual, mostra uma jovem mulher nua, reclinada e outra velha, vestida, sentada de costas, levantando o avental para receber parte das moedas de ouro que iam caindo.
A obra está dividida em três partes: no lado esquerdo encontra-se Dánae, deitada numa pose sensual, no direito está a velha serva e no centro o céu negro que a pouco e pouco se torna dourado e de onde caem as moedas ou pó de ouro e que faz a união dos dois mundos (o de Dánae e o da velha serva).
A postura desta jovem mulher nada tem de púdica, até parece abandonar-se com prazer à presença do deus Zeus. Tudo indicia desejo sexual: o tom de pele claro, a boca entreaberta, o cabelo desalinhado caindo sobre o peito, a atitude brincalhona com o cãozito.
Ticiano apresenta-a como uma cortesã.
Esta Dánae espanhola, conservada no Museu do Prado, foi precedida por uma versão encomendada pelo príncipe Ottavio Farnesio ou pelo Cardeal Alessandro Farnesio ( as fontes apontam os dois nomes) e que hoje se encontra no Museu Capodimonte, em Nápoles.
Só nesta versão é que Ticiano fez acompanhar Dánae de Eros, o Cupido, deus do amor.
Ticiano
"Dánae e o Cupido"
Óleo sobre tela - 117x69 cm
1545
Museu Capodimonte - Nápoles
Estes quadros têm muitas semelhanças, por exemplo a pose da protagonista, mas no do Museu de Capodimonte, os efeitos da luz realçam, há um grande contraste entre o fundo escuro e o branco níveo da pele de Dánae, nos outros dois, nos dos Museus do Ermitage e do Prado os contrastes são mais cromáticos. Neste último a paleta é mais desenvolta e vibrante.
Este tema mitológico tem apaixonado muitos pintores, a ele voltarei em breve.
sexta-feira, 5 de agosto de 2011
Exposição de Pintura de Eva Afonso
Se há lugares que não se deixaram contaminar por cadeias de "fast food", lojas asiáticas com balões vermelhos baloiçando ao vento ou dragões dourados presos às paredes exteriores dos estabelecimentos, Marvão é um desses locais.
A Vila de Marvão, na sua dignidade majestática, "senta-se no trono" que é o topo da serra de Sapoio que faz parte do Parque Natural da Serra de S. Mamede (Alto Alentejo).
No alto da moldura de muralhas que a rodeiam, esta Vila mantém-se vigilante a "terras de Espanha [e] a praias de Portugal".
Entrando pelas Portas da Vila encontramos quase tudo como outrora, até parece que ainda ouvimos os cascos dos cavalos a ressoar nas lages das ruas muito estreitas.
Entre arcos ogivais ou de volta perfeita, casas de grossas paredes e portas e janelas com molduras graníticas imaginamos cavaleiros, soldados, canteiros e artífices nas suas actividades diárias.
Subindo a Rua das Portas da Vila chegamos ao Largo do Pelourinho, aí numa das esquinas encontramos o edifício dos antigos Paços do Concelho, que remonta aos séculos XV/XVI e que albergou no 1º piso a cadeia e nas traseiras o Tribunal.
É nos antigos Paços do Concelho - Casa da Cultura de Marvão - que está patente até dia 31 de Agosto uma pequena mostra de alguns dos meus trabalhos de pintura.
Se passarem por esta magnífica Vila não hesitem em entrar na Casa da Cultura, que está aberta das 9,30h | 13h e das 14h | 17,30h e dêem uma olhadela aos meus trabalhos.
Estão convidados.
A Vila de Marvão, na sua dignidade majestática, "senta-se no trono" que é o topo da serra de Sapoio que faz parte do Parque Natural da Serra de S. Mamede (Alto Alentejo).
No alto da moldura de muralhas que a rodeiam, esta Vila mantém-se vigilante a "terras de Espanha [e] a praias de Portugal".
Entrando pelas Portas da Vila encontramos quase tudo como outrora, até parece que ainda ouvimos os cascos dos cavalos a ressoar nas lages das ruas muito estreitas.
Entre arcos ogivais ou de volta perfeita, casas de grossas paredes e portas e janelas com molduras graníticas imaginamos cavaleiros, soldados, canteiros e artífices nas suas actividades diárias.
Subindo a Rua das Portas da Vila chegamos ao Largo do Pelourinho, aí numa das esquinas encontramos o edifício dos antigos Paços do Concelho, que remonta aos séculos XV/XVI e que albergou no 1º piso a cadeia e nas traseiras o Tribunal.
É nos antigos Paços do Concelho - Casa da Cultura de Marvão - que está patente até dia 31 de Agosto uma pequena mostra de alguns dos meus trabalhos de pintura.
Se passarem por esta magnífica Vila não hesitem em entrar na Casa da Cultura, que está aberta das 9,30h | 13h e das 14h | 17,30h e dêem uma olhadela aos meus trabalhos.
Estão convidados.